À espera de dias melhores

Por Sérgio Soares e Rennan Rebello

Aos 75 anos, o Caio Martins espera que dias melhores virão, para que possa voltar a viver tempos de glória, de arquibancadas cheias de torcedores e jogos memoráveis. O estádio, que foi palco de partidas envolvendo grandes clubes do Rio, do interior fluminense e até da Seleção Brasileira, era administrado pelo governo do Estado, até ser concedido ao Botafogo em 1988.

A partir de 2004, o alvinegro deixou de realizar jogos oficiais no estádio envolvendo equipes profissionais e atualmente, nem seu time principal treina mais lá, preferindo, quando cruza a Baía, utilizar para essa finalidade um Centro de Treinamento particular em Várzea das Moças, na região de Pendotiba. O Alvinegro usa as instalações do Caio Martins apenas para partidas das divisões de base do clube. Mas se depender da direção das equipes da cidade, de São Gonçalo e Itaboraí, esse quadro pode mudar, pois todos defendem a utilização do campo em outras competições oficiais.

O Botafogo detém a concessão do estádio até 2023, e no ano passado, chegou a planejar a mandar seus jogos novamente no Caio Martins. Em setembro de 2015, a direção do clube assinou um convênio com a Prefeitura de Niterói e o Canto do Rio. A ideia era fazer uma espécie de ‘união de forças’ para ajudar o Canto do Rio a recriar o Departamento de Futebol Profissional para disputa da Série C estadual. O Botafogo, que está impedido de usar o Engenhão, no Rio, até o fim dos jogos Olímpicos e Paraolímpicos, pretendia, através desse convênio, ampliar e transformar o estádio Caio Martins numa arena para o mando de seus jogos. Mas as condições do estádio e o alto investimento que teria que ser feito - cerca de R$ 5 milhões - além de emperrar o convênio, fizeram o ‘Glorioso’ transferir o projeto para o estádio Luso Brasileiro, na Ilha do Governador, para receber adversários no Campeonato Brasileiro de 2016. Por ironia do destino, a Arena foi inaugurada no último sábado, quatro dias antes do Caio Martins Completar os 75 anos ‘de vida’.

Futebol para 2017 - Desa forma, a sonhada reabertura do estádio para jogos oficiais, pelo menos para o Canto do Rio, deverá ficar para o ano que vem, quando o clube planeja voltar ao futebol profissional e disputar a Série C Estadual. A direção do alvianil se apoia nesse convênio com o Botafogo e a prefeitura - que irá até o ano de 2019 - para montar uma equipe competitiva. Para isso, já está fazendo ‘peneiras’ no Campo do Gradim, em São Gonçalo.

‘Casa’ para outros clubes da região 

Mas não é só o Canto do Rio que planeja jogar no histórico estádio de Icaraí. Os clubes locais que disputam o futebol profissional, como Gonçalense e Associação Desportiva Itaboraí (Série B), além de São Gonçalo Esporte Clube e Bela Vista (Série C) sofrem com a falta de infraestrutura na região metropolitana para sediar seus jogos e vêem com ‘bons olhos’ a possibilidade de no futuro, usarem o Caio Martins. 

Desses, apenas a ADI tem um estádio próprio para treinar e mandar seus jogos - o Alziro de Almeida, no centro da cidade. Os demais, precisam procurar outras praças do Rio de Janeiro ou na Região dos Lagos. Com isso, os clubes se afastam dos torcedores locais e deixam de arrecadar. 

Nos últimos tempos, o clube que chegou mais próximo de utilizar o Caio Martins foi o Gonçalense. No início do ano, o Tricolor Metropolitano fez uma parceria com o Botafogo, que cedeu jogadores dos juniores e o treinador da base, Felipe Conceição, para comandar o time do Jardim Catarina na Segunda Divisão do Campeonato Carioca, mas a parceria acabou não dando certo devido aos maus resultados. Conceição foi demitido e os atletas voltaram ao alvinegro de General Severiano. Mas na época, um dos pontos discutidos da parceria seria o uso do estádio pela equipe gonçalense, que acabou não evoluindo. 

“Falamos sobre isso, mas foi inviável, o Caio Martins precisa de laudos e de reforma na arquibancada e isso seria muito caro naquele momento. Hoje, estamos pensando em retomar nosso projeto de construção do Catarinão, nosso futuro estádio em São Gonçalo, mas não nego que o Caio Martins seria uma ótima possibilidade”, revelou Thiago Thomaz, vice-presidente do tricolor gonçalense.

Uma possível volta do Caio Martins é vista com bons olhos pelo empresário Reginaldo Assad, presidente do São Gonçalo Esporte Clube. “Se o Caio Martins estivesse apto para receber jogos seria bom em todos os sentidos, seria mais um palco na região. Jogamos longe de casa e do torcedor. Infelizmente!”, disse o mandatário do SGEC, que atualmente disputa a 3ª Divisão do Campeonato Carioca e é um dos favoritos ao acesso para Série B. Por enquanto, a ‘casa’ do SGEC continuará sendo o Alzirão, em Itaboraí, que é administrado pela Prefeitura.

Entre 1988 e 2004, o ‘Caldeirão Alvinegro’ viveu dias de glórias

Durante muitos anos o Caio Martins foi o ‘alçapão’ do Botafogo em jogos profissionais. Em 2003 o estádio foi reformado e sua capacidade aumentada para 15 mil pessoas, com a construção de arquibancadas de concreto e instalação de arquibancadas tubulares, além de cadeiras vips e camarotes. No “caldeirão”, apelido que recebeu da torcida após a reforma, o Botafogo encontrou energia para retornar à Série A do Campeonato Brasileiro no próprio ano de 2003. 

Antes, foi no Caio Martins que o Alvinegro conquistou vitórias expressivas, como resultados que levaram à conquista do Brasileiro de 1995. O último jogo oficial no estádio aconteceu em 12 de dezembro de 2004, quando o Botafogo foi derrotado por 2 a 1 pelo Corinthians, em duelo válido pelo Campeonato Brasileiro. Segundo a direção do clube, hoje, no complexo esportivo, treinam as categorias de base juniores e juvenis (totalizando 80 atletas) e jogam todas as categorias. A estrutura conta com alojamento para 20 atletas. 

O SÃO GONÇALO tentou obter junto ao Botafogo informações sobre os planos para o estádio no futuro, mas os dirigentes alvinegros não quiseram se manifestar.