Ator que interpretou ‘Zé Pequeno’ no filme ‘Cidade de Deus’ virou gonçalense
‘Me sinto tão capaz quanto um branco’, afirma
O ator Leandro Firmino, de 38 anos, que interpretou o conhecido personagem “Zé Pequeno” filme “Cidade de Deus” (2002), está vivendo em São Gonçalo há quase três anos e ministra oficinas gratuitas de interpretação na cidade que escolheu para morar. O artista vive uma boa fase na carreira, pois está envolvido em vários projetos e, em paralelo, está na telinha atualmente no programa “Pânico na Band”. No humorístico, ele revive o papel que o tornou famoso.
“Tudo começou quando fizemos uma brincadeira com o Pe Lanza (ex-vocalista do Restart). Como teve uma grande repercussão, principalmente nas redes sociais, o pessoal do ‘Pânico’ teve a ideia de criar um quadro chamado ‘Zé Pequeno do povo’, que acaba desconstruindo questões éticas e sociais”, contou Firmino.
Embora tenha interpretado outros personagens, o artista diz não se importar em ainda ser lembrado como “Zé Pequeno”.
“Eu não me importo com essa associação. Já atuei em muitas produções mas esse foi meu primeiro trabalho. Todo ator acaba sendo marcado por um, e o ‘Zé Pequeno’ foi o meu caso. Isto acabou abrindo portas para que eu pudesse realizar outros trabalhos e eu também tenho consciência que o audiovisual é algo muito forte. Tem menino de 7 anos que já assistiu ao filme e nem era nascido na época”, revelou.
Criado na Cidade de Deus, Firmino veio morar em São Gonçalo por causa de sua esposa Letícia, 29. O casal vive no município com o filho Luiz Miguel, 5, no bairro de Santa Catarina. Leandro revela ainda que já está habituado ao cotidiano local e, nesse tempo, fez inúmeras amizades e parcerias.
No município, ele é patrocinado pelo salão Radical Chic Estética Beleza, no Centro, que cuida de seu visual e também ministra uma oficina de “Improvisação e Interpretação”, no Centro de Referência de Assistência Social (Cras).
“Eu nem me sinto mais carioca, falo que sou gonçalense mesmo. Eu só saio daqui para trabalhar porque as agências e os grandes estúdios estão no Rio. Apesar até de eu ter feito uma ponta no filme ‘Trash’ (2014), uma produção inglesa que teve parte de suas locações em Neves. No Cras, estou dando aulas nas unidades do Barro Vermelho, às terças, de 9h às 15h, e no Engenho Pequeno, às quintas, no mesmo horário. A experiência está sendo incrível, pois sempre quis ter essa oportunidade de trabalhar com jovens. De certa maneira é uma forma de retribuir à sociedade com meu trabalho”, explicou.
A agenda de Firmino seguirá apertada até o final do ano. Além das atividades na TV e como professor, ele está envolvido em novas produções. “Em junho, irei começar a gravar a série “Magnifica 70” da HBO mas também tenho uma proposta para atuar em um filme independente de um amigo em Paulínia (SP) e ainda existe a possibilidade de gravarmos uma quarta temporada da série documental “Minha Rua”, do Canal Futura”, revelou.
‘Me sinto tão capaz quanto um branco’
O tema racismo é um assunto bastante polêmico, mas Firmino não se furta em se posicionar sobre o tema, inclusive em relação a sua profissão. “O preconceito racial no Brasil é algo mascarado. Quando participo de um filme e vejo uma equipe ao meu redor sem negros à frente, me sinto muito mal.
Em São Gonçalo, tive uma boa surpresa quando vi uma apresentação da Orquestra Municipal da cidade, considerada uma das melhores do país, sendo regido por maestro negro (Paulo Guarany). Fiquei muito feliz”, enfatizou.
Sobre o papel do negro no cinema brasileiro, Firmino percebe que ainda é cercada de estereótipos, no entanto não se recusaria em fazer papéis por acreditar que se deve ocupar os espaços.
“Infelizmente o negro é visto, muitas vezes, em posições inferiores. Eu ainda sou convidado para fazer personagens chavões. Mas, graças a Deus, já tive oportunidade de fazer outros filmes e atuar em outros papéis, porém muitos atores negros, não. Contudo, eu faço qualquer papel, porque me sinto tão capacitado quanto um ator branco. Tudo é questão de preparação e entrega. Se me chamarem para fazer um médico ou um juiz, farei da mesma forma, sem problemas”, argumentou.
Por Rennan Rebello