Cinquenta mil fiéis celebram o Corpus Christi em São Gonçalo

Por Marcela Freitas

Reunidos para louvar ao Senhor, mais de 50 mil fiéis participaram da celebração de Corpus Christi, em São Gonçalo, ontem. A tradicional confecção dos tapetes de sal grosso, que completou 23 anos em 2018, é considerada a maior festa católica na cidade.

Este ano, por conta da greve dos caminhoneiros, o cancelamento do evento chegou a ser cogitado, mas a entrega do material a tempo garantiu a continuidade da tradição. E nem mesmo o frio da madrugada e início da manhã, associado as dúvidas sobre transporte e segurança, foram capazes de afastar os fiéis que juntos alçaram os festejos de São Gonçalo ao maior tapete de sal da América Latina.

Ao todo, 27 paróquias e entidades não governamentais do município atuaram na confecção dos 240 painéis, que se estenderam ao longo de 1,5 km. Foram utilizadas 50 toneladas de sal, além de borra de café, pedrarias, tintas corantes e mais de 200 sacos de cem litros de serragem.

Celebrada desde 1995 na cidade, a confecção dos tapetes de sal de Corpus Christi é, desde 13 de junho de 2005, Patrimônio Público Cultural e Religioso do município e leva às ruas, todos os anos, milhares de fiéis desde a confecção até a celebração da missa e procissão.

Em 2018, os temas escolhidos para a confecção das artes foram: eucaristia, campanha da fraternidade e o fim da violência. A tradição da confecção do tapete surgiu em Portugal e veio para o Brasil com os colonizadores. Os desenhos utilizados são variados, mas enfocam, principalmente, o tema Eucaristia.

As amigas Carmem de Oliveira e Ana Marques, ambas de 61 anos, membros da Paróquia São José, na Estrela do Norte, passaram toda a madrugada confeccionando o tapete de sal e, às 6h30, já se preparavam para assistir à missa. “Saímos daqui às 5h da manhã e voltamos com muito amor. Todo sacrifício para Deus é válido. Este é o sexto ano ininterruptos que participamos dessa celebração”, contou Ana.

Para a costureira Eliana de Souza, 52, essa é a festa religiosa do povo. Mesmo não sendo católica, ela faz questão de participar e levar o neto Juan Menezes, de 7 anos, para ver a beleza dos tapetes. “Sempre que posso, eu venho. Ano passado, não pude estar aqui e fiquei triste. Meu irmão é católico, mas eu não. Mesmo assim, faço questão de prestigiar esse trabalho tão lindo”, revelou.

Os obstáculos foram vencidos na organização

Por conta da greve dos caminhoneiros em todo o Brasil, a celebração tradicional em São Gonçalo foi ameaçada e para garantir a chegada do sal à cidade, o secretário Municipal de Cultura, Carlos Ney, com apoio das Secretarias de Segurança e Governo, com escolta da Guarda Municipal, foi ao distrito de Praia Seca, em Araruama, buscar o sal para a confecção dos tapetes.

“A empresa que venceu a licitação disse que estava com dificuldades para passar pelos pontos de bloqueio. Como é um evento que envolve muitas pessoas, não poderíamos deixar de cumprir esse compromisso com a população. Na terça-feira, trouxemos o sal. Passamos por três pontos de bloqueios e, em dois deles, o clima foi bastante hostil. Tivemos que dialogar muito e chegaram a falar que deveríamos cancelar a celebração. Mas, graças ao esforço conjunto, o evento está acontecendo”, explicou.

O pároco da Igreja Matriz de São Gonçalo do Amarante, André Luiz Bastos Siqueira, explicou que a confecção dos tapetes é uma demonstração de fé e dedicação a Deus. “Este ano, tivemos receio em relação à solenidade. Não faltaram tribulações na organização deste evento. Mas, pela graça de Deus, todos os obstáculos foram vencidos e as tribulações humanas sanadas. Posso garantir que este foi o melhor evento. Mesmo temeroso, o público marcou sua presença. Um verdadeiro testemunho de fé. Deus seja louvado por essa belíssima celebração de Corpus Christi”, comemorou o padre.

Procissão reúne milhares de fiéis

Minutos antes da missa, o sol ainda tímido trouxe um clima de aconchego aos milhares de fiéis que cantavam e dançavam ao som de louvores, entoados pela banda Ministério Canto de Louvor.

Às 8h, o bispo auxiliar Dom Luiz Antônio Ricci deu início a santa missa, que teve como tema a eucaristia. Ele agradeceu a todos e disse ter visto muito amor nos fiéis de São Gonçalo. “Gosto muito da frase: fazer com amor e por amor. E foi isso que vi aqui. Estive acompanhando a confecção dos tapetes de sal durante à noite e vi que muitas pessoas ficaram também para a missa. O que vemos é uma igreja viva emanada e preparada para a eucaristia. Tudo aqui que é belo, é bom e verdadeiro”, ressaltou.

Após a missa, o bispo auxiliar convidou os presentes para acompanhar a procissão sobre os tapetes. Após a bênção das peças religiosas, muitos fiéis levaram para casa um pouco do sal usado na confecção.

Patrimônio cultural e religioso

Os tradicionais tapetes de sal que enfeitam as ruas no feriado de Corpus Christi foram, em 2005, instituídos como Patrimônio Público Cultural e Religioso de São Gonçalo através da lei 012/2005, do então vereador Miguel Moraes.

“Antes da lei, não havia comprometimento do poder público e, para que esta celebração acontecesse, ficávamos na pendência de boa vontade. A lei permitiu que a celebração recebesse apoio do poder Executivo com previsão orçamentária”, explicou Moraes.

Autoridades comparecem ao evento

O prefeito de São Gonçalo, José Luiz Nanci, assistiu à missa ao lado de sua esposa Eliane Gabriel e do sogro. Ele falou da importância deste momento para a igreja católica. “Nós, católicos, não vemos essa celebração apenas como um tempo de festa. O Corpus Christi é a eucaristia”, afirmou.

O deputado federal Otávio Leite também prestigiou a festa em São Gonçalo. “Tenho vindo sempre a essa celebração de São Gonçalo, que é belíssima. Aqui, vemos toda a mobilização de um povo e isso alimenta a nossa alma”, afirmou.

Vereadores, secretários e ex-secretários do atual governo também participaram do evento.

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