Todo dia uma mulher é estuprada em São Gonçalo, Niterói e Itaboraí
Crime é cometido por familiares na maioria dos casos
A cada dois dias pelo menos três mulheres são estupradas nos municípios de São Gonçalo, Niterói e Itaboraí. É o que apontam os dados do Instituto de Segurança Pública referentes aos meses de janeiro a novembro de 2017.
Niterói apresentou queda de 20% nos índices, de 173 para 138 casos, assim como Itaboraí, que diminuiu os números de 110 para 91 casos, o que representa uma redução de 14%. São Gonçalo, por sua vez, teve um aumento de 14% nos registros do crime, passando de 181 casos em 2016 para 207 casos em 2017.
A delegada Débora Rodrigues, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de São Gonçalo, explica os números.
“O estuprador de rua, que aborda em lugares ermos, e obriga a vítima a entrar num carro, é um caso bastante raro, compondo cerca de 20% do total de registros. Metade disso é formada pelos que fazem diversas vítimas em curto período. Neste ano, prendemos dois homens, sendo que um deles foi encontrado em Itaboraí, cometendo outros delitos. A maior parte dos estupros é praticado por quem menos esperamos: o avô, o vizinho, o padrasto, o tio, o amigo da família, enfim, a pessoa supostamente de confiança. Estuprador não tem cara!”, salienta.
A delegada destaca que o crescimento dos registros não significa o aumento do crime.
“A vítima de violência sexual e doméstica geralmente sofre por períodos longos. Não é a pessoa que é agredida hoje e denuncia amanhã. São cinco, dez anos, até que ela se encoraja a romper esse ciclo. Hoje, com a consolidação da Lei Maria da Penha e a divulgação cada vez maior dos direitos da mulher, as vítimas se encorajam a dar um basta à violência”, afirma.
Embora veja na coragem de denunciar um ponto positivo nesse aumento dos índices, a delegada pontua que os números ainda altos refletem uma cultura que deixa as mulheres em desvantagem.
“A cultura é realmente machista, onde homens se acham no direito de tocar, apalpar outra pessoa sem o consentimento. Mas precisamos entender que o estuprador não faz isso em busca do prazer pelo corpo, e sim por sentir prazer na violência. A culpa não é da perna, do braço ou seja qual for a parte do corpo à mostra. A culpa nunca é da vestimenta da vítima. A cultura do estupro diz essas coisas e precisamos rompê-la”, ressalta.
Débora tem se dedicado a garantir o direito à medida protetiva, quando a vítima solicita que o acusado saia da residência ou permaneça afastada.
“Nós representamos a vítima junto ao Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Em caso de descumprimento da determinação judicial, o acusado vai preso. É muito importante que a vítima vá a delegacia informar a desobediência”, apela.
Débora lembra ainda que os profissionais da Deam estão capacitados para atender travestis e transexuais vítimas e violência sexual e de gênero.
(Elena Wesley)