Gerações unidas em nome do bom samba
Por Sérgio Soares, Ari Lopes, Rennan Rebello e Laryssa Moura
Com 70 anos de existência e tradição no Carnaval carioca, a Viradouro reúne diferentes gerações. Na escola, ainda há pessoas que participaram da inédita fundação, como Ito Machado. Aos 84 anos, ele não deixa de se emocionar quando fala de sua trajetória. O ‘orgulho de ser Viradouro’ também tem na nova geração, a rainha de bateria Raíssa Machado, que estava com 14 anos, quando a escola conquistou o título e ainda sonhava em ser uma ‘estrela’ da folia.
Raíssa nasceu em São Luís, capital do Maranhão e, com quatro anos, veio com a mãe e os irmãos morar em Niterói. Eleita rainha do Carnaval de Niterói em 2008, consolidou um dos grandes sonhos ao integrar o ‘time’ de musas da vermelha e branca. Em 2014, recebeu o convite para ser rainha de bateria e foi ‘pé quente’, sagrando-se campeã da Série A. O rebaixamento no ano seguinte da chamada ‘elite’, não tira o otimismo de retorno ao Grupo Especial esse ano.
“O dia do desfile é um momento mágico, mas a ansiedade e o nervosismo fazem com que tudo passe muito rápido”, afirmou. Quem tem praticamente uma vida dedicada a escola é o advogado Ito Machado, de 84 anos, único fundador vivo da agremiação, em 24 de junho de 1946, muito antes de a sede ter sido erguida, no fim da década de 80, na Praça do Barreto.
“O nome da escola advém de onde foi criada, numa comunidade que fica em frente ao local onde, no passado, os bondes faziam o retorno, no Largo do Viradouro, em Santa Rosa”, afirmou. Na escola, ele fez de ‘tudo um pouco’. Participou dos 18 títulos conquistados quando a agremiação desfilava em Niterói e também compôs dez sambas-enredo.
Ito praticamente formou uma ‘família’ de diferentes gerações na escola, como seu neto, Washington Motta, de 44 anos, e o filho Itamar da Cruz Villaça Guedes, o ‘Mazinho da Viradouro’, de 61. Eles mandaram fazer camisetas alusivas ao título de 1997.
‘Herança’
"Eu posso dizer que isso aqui é a minha vida, meu pai começou seu negócio em 1997, no ano do título. Lembro de cada detalhe, a rua cheia de gente comemorando, cerveja liberada mas eu não podia beber porque era guri, tinha 10 anos, mas foi uma grande festa", disse. Atualmente Leandro repete o ofício do pai como ambulante no mesmo lugar e com a mesma paixão pelo carnaval, neste ano considerado histórico, por se comemorar os 20 anos do título do carnaval carioca, ele irá desfilar junto com sua namorada Laudiane Aguiar na Marquês de Sapucaí. Para dá sorte à Viradouro, Leandro, manterá uma tradição iniciada por seu falecido pai, em seu primeiro ano como vendedor ambulante no carnaval.
"Lembro que em 97, depois do último ensaio na quadra, fizemos um churrasco com os componentes da escola para lhes desejar boa sorte na avenida. No próximo dia 21, farei a mesma coisa para manter essa tradição", finalizou. Quem também espera ser o 'pé-quente é o comerciante Olímpio Pinheiro, de 71 anos, que também vive em função da Viradouro, vendendo churrasco em frente à quadra. Morador da Engenhoca, ela mantinha um comércio no bairro e um ano depois, decidiu trabalhar no local. "Vivo do meu trabalho, por isso não posso frequentar os ensaios. "A Viradouro é a paixão da minha família", declarou.
Quem também espera ser o ‘pé-quente’ em 2017 é o comerciante Olímpio Pinheiro, de 71 anos, que também vive em função da Viradouro, vendendo churrasco em frente à quadra. Ele está no local há dezenove anos.
Pai e filho venceram em ocasiões diferentes
São duas gerações de compositores que têm em comum o amor pela Viradouro. Do pai, o engenheiro e músico José Antônio Cunha, de 72 anos, o seu filho, Anderson Lemos, de 32, herdou o dom de compor sambas. E esse ano, conseguiu pela primeira vez ‘emplacar’ um hino oficial, que promete ser um dos pontos fortes da escola no desfile de sexta-feira de Carnaval.
Além de Anderson, o samba foi feito por Felipe Filósofo, Renan Gêmeo, Manolo, Fabio Borges, Cláudio Mattos, Rodrigo Gêmeo, Diego Nicolau e Marcello Bertolo. “Eu tinha doze anos quando a escola ganhou em 1997. A quadra estava lotada e havia muita alegria”, relembrou.
O pai de Anderson, José Antônio Cunha, integrou o ‘time’ que ganhou os sambas nos anos de 1996 e 2005.