Inflamação na planta do pé. Muitos têm, mas poucos sabem

Se você sente fortes dores na sola do pé, que te impedem de levantar da cama pela manhã, o problema pode ser uma inflamação que leva uma em cada 10 pessoas a procurarem um médico: a fascite plantar. Mais comum em mulheres, obesos e atletas mais velhos, a doença é, geralmente, causada pelo uso de calçados inapropriados.

De acordo com especialistas, o diagnóstico de fascite plantar é feito pela queixa de dor na região do calcâneo. Os incômodos, segundo o ortopedista e coordenador médico do centro cirúrgico do Hospital Niterói D’Or, Mario Augusto Fernandes, ocorrem nos primeiros passos pela manhã ao acordar ou quando o indivíduo levanta de uma cadeira após longo tempo sentado.

“O tratamento é inicialmente conservador (sem cirurgias), com eficácia em torno de 90%, com medicação anti-inflamatória e analgésicas, fisioterapia com termoterapia e alongamentos, ajuste dos calçados e uso de palmilhas, conforme o quadro apresentado”, enumerou. Ainda conforme o profissional, caso este tratamento inicial não surta efeitos, é possível realizar infiltração com medicamentos a base de corticoides.

“Em casos resistentes por mais de três meses, podem-se utilizar outras modalidades de tratamento conservador, como a terapia por ondas de choque, que podem ter bons resultados. O tratamento cirúrgico é o último recurso e tem eficácia de 70%”, indicou. O ortopedista e traumatologista Alexandre Ignácio, da Clínica Ortopédica Ortop, explica que a inflamação da fáscia plantar está mais ligada ao cotidiano dos pacientes do que com hereditariedade. Para o especialista, o tratamento mais prático para sanar as fortes dores na região do calcanhar é usar calçados com saltinho ou palmilhas com elevação na parte traseira do pé, para que o peso do corpo seja transferido para os dedos. “A fascite é uma inflamação na fáscia, que é uma espécie de tendão que temos na sola do pé. Ela inflama e causa muita dor frequente. Ela diminui a potência funcional e a pessoa não consegue pisar direito. Essa fáscia se estende do calcanhar até os dedos do pé. Por exemplo, para mulheres que costumam usar sandálias rasteirinhas, peço para optar por um saltinho”, explicou. Um retrato dessa inadequação do calçado aconteceu com o estudante de educação física, Rodrigo Soares Francisco, de 27 anos. No início de 2014, ele estagiava em uma academia e comprou um tênis pela internet para trabalhar. O formato do seu pé, no entanto, era diferente do molde em que o sapato foi feito. Não demorou para o primeiro sintoma da fascite plantar aparecer. “Eu colocava o tênis e ia correr na esteira. As primeiras dores foram aos poucos. Mas, depois de uma semana de uso, teve um dia que eu não conseguia levantar da cama. Eu arrastava o pé direito pela casa de tanta dor e descobri que se tratava de fascite plantar. Parei de usar o tênis e tive que fazer alguns exercícios de fisioterapia com uma bolinha de massagem”, contou o estudante, que mora no Lindo Parque, em São Gonçalo.

Fascite plantar x esporão de calcâneo

A fascite plantar é popularmente relacionada ao “esporão de calcâneo”. De acordo com especialistas, a diferença é que o esporão é uma calcificação na origem dos músculos flexores curtos do pé. Segundo Mario Augusto Fernandes, somente 5,2% dos pacientes com esporão de calcâneo referem sintomas relacionados com dor no calcâneo. 

“Podemos ter pacientes com fascite plantar com ou sem esporão de calcâneo associado, não sendo, a presença deste, necessariamente relacionada com um quadro de dor mais intensa a nível do calcâneo”, explicou.