De SG para o mundo: DJ Lafon do MD alcança sucesso leva cultura das comunidades para fora do país
‘Cria’ da comunidade Menino de Deus, DJ estourou com hit no BBB e faz parte da ‘tropa’ de DJ's do Poze
“Papai do Céu me abençoou”, é o que responde o DJ Lafon do MD quando perguntado sobre o que aconteceu com sua carreira. Nascido e criado na comunidade Menino de Deus, no Rocha, o jovem de 23 anos foi dos bailes de rua de São Gonçalo para as festas mais badaladas do Brasil e, agora, do mundo.
Rafael Gomes Rodrigues, conhecido pelos amigos e fãs como Lafon do MD, se tornou um dos nomes mais procurados para comandar bailes de funk depois que ‘estourou’ nas paradas com a música ‘Vapo Vapo na Tcheca Tcheca’, no final do ano passado. Desde então, o hit já viralizou em dancinhas de famosos no TikTok, já virou comemoração de jogadores de futebol e chegou a tocar na última edição do reality show ‘Big Brother Brasil’, da TV Globo.
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“Quando eu vi [a música] tocando pela primeira vez no BBB, chorei muito. Minha família ficou me mandando vídeo, meus amigos. Fiquei muito feliz, de verdade”, conta Lafon, autor do sucesso que se tornou dança ‘viral’ na internet e já foi reproduzida por celebridades como a atriz Mel Maia, o atleta Gabigol e o ‘brother’ Douglas Silva. Com o sucesso do trabalho, o gonçalense foi ganhando cada vez mais notoriedade e foi convidado para integrar a ‘tropa’ de DJs que tocam com o MC Poze do Rodo, um dos mais populares artistas do gênero.
Quem vê sua ascensão meteórica hoje talvez não imagine o tanto de dificuldades que o jovem enfrentou até chegar à fama. Rafael começou a aprender o ofício de ‘disc jockey’ aos 15 anos, mesma época em que começou a tocar nos bailes da sua comunidade.
Tocava nas festinhas aqui por perto, depois comecei a tocar no baile aqui do morro. Foi aí que minha mãe começou a me liberar para tocar. DJ Lafon
“Tocava nas festinhas aqui por perto, depois comecei a tocar no baile aqui do morro. Foi aí que minha mãe começou a me liberar para tocar. Na época, aqui em cima não era muito tranquilo para criança ficar. Nos bailes, rolava muito tiro, muita morte, mas mesmo assim minha mãe me liberou porque ela sabia que era meu sonho”, relembra.
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Seu tio Paulo Roberto, de 38 anos, conta que as primeiras batidas de funk do sobrinho vinham de um equipamento improvisado. "Ele começou com um computador velho. Levava muita pancada, mas seguiu lutando mesmo assim", afirma.
Logo nos primeiros estágios dessa jornada, algumas surpresas surgiram. Aos 16 anos, Lafon descobriu que seria pai pela primeira vez. “Minha ex-esposa ficou grávida da minha primeira filha na mesma época em que eu estava começando. Meus pais nos ajudaram muito. Eu ainda não ganhava muito dinheiro, tinha que pagar aluguel, cuidar da filha”, explica.
Depois, vieram o segundo filho e mais 'correrias'. Rafael conta que não cogitou desistir, mas que as dificuldades o fizeram repensar se estava no caminho certo: "Não pensava em desistir não, mas eu ficava pensando: ‘Pô, será que nunca vai chegar a minha vez?’. Eu estava na mesmice, tocando em baile, pegando só um dinheirinho. Já estava meio que enjoando daquela vida. Mas eu não desisti não, porque eu sabia que Deus podia me abençoar".
Não pensava em desistir não, mas eu ficava pensando: ‘Pô, será que nunca vai chegar a minha vez? DJ Lafon
Uma hora, "sua vez" chegou. Os tiktokers descobriram sua música e a transformaram em 'trend'. "Eu já tinha umas músicas estouradas nas comunidades, só que não era com a proporção que o TikTok deu às minhas músicas depois. A rede social hoje em dia abre muitas portas", vibra o gonçalense.
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Pouco tempo depois, veio também o convite para integrar a equipe de Poze do Rodo, a quem Lafon já conhecia dos tempos de baile. Seu trabalho chamou a atenção do MC carioca. "DJ dele mesmo, o RW, me perguntou: ‘Tem como você tocar na festa do homem não? Ele quer que você toque. Faz umas musiquinhas aí também para tocar na festa’. Aí eu fui, fechei e fiz as músicas", comenta.
Além das novas oportunidades, com o sucesso veio também o status de celebridade local do Menino de Deus. Lafon hoje mora no Jóquei, mas, toda vez que retorna à comunidade onde nasceu, é recebido com entusiasmo por moradores de todas as idades - em especial os mais novos. É ver ele chegando e já se escuta: “Lafon?”. Aos poucos, as uma ou duas crianças que o viram chegando se transformam numa pequena multidão de ‘menores’ reunidos em torno do DJ.
“Toda vez que ele vem aqui é assim”, conta Alice Silva, de 20 anos, uma das mães que foi levar seu filho para tirar uma foto com o artista. Para ela, é curioso vê-lo como um ‘famoso’. “Conheço ele desde pequena. Quando ele começou, eu era criança e não ia nos bailes, mas já o conhecia”, explica. A jovem tem orgulho de ver o amigo e antigo vizinho não só conquistar novos espaços com a música, mas também levar o nome do lugar de onde veio enquanto faz isso. “É surreal o que ele está conquistando. Como moradora, é gratificante ver ele representando a comunidade”, comemora.
O presidente da associação de moradores do ‘MD’, Wallace Dingueira, de 49 anos, também se emociona ao ver o sucesso alcançado pelo jovem DJ. “Ele sempre foi muito humilde. Vinha tocar nos bailes e muita gente não deixava, mas eu sempre defendi. E agora a humildade dele prevaleceu e ele cresceu”, declara.
Para Lafon, é esse carinho o que mais vale a pena. “A fama tem um lado bom e um lado ruim. Tem aquela ‘rapaziada’ que era meu amigo antes e agora acha que eu tô rico, milionário, e não quer mais falar comigo, vira a cara para mim. E tem o lado bom também, que é o reconhecimento das crianças, a rapaziada que me vê e fala comigo. Isso aí vale muito mais do que o dinheiro”, afirma o DJ, enquanto distribui refrigerantes para os pequenos empolgados ao seu redor.
Essa cultura da comunidade gonçalense onde cresceu ele carregou, no final de novembro, para a Europa, quando visitou a Inglaterra para um show especial. “Minha primeira experiência tocando fora do Brasil foi agora, em Londres, que também foi a primeira vez que saí do país. Já fiquei meio maluco da cabeça com a viagem, 12 horas no avião, mais de 10 mil pés de altura. Graças a Deus, deu tudo certo. Fiz o show numa casa de shows lá, com um público de muitos brasileiros e consegui colocar ‘o coro para comer’”, brinca.
No ano que vem, ‘o coro’ deve ‘comer’ em Portugal, na segunda viagem profissional de Rafael, prevista para fevereiro. Enquanto isso, ele aproveita o tempo com a família e os amigos aqui, mirando “sempre em objetivos maiores”, como afirma, mas já bastante satisfeito com o legado que vem deixando em sua trajetória: “A galera da minha comunidade vê que eu era assim, sou daqui igual a eles, e vendo que eu tô conseguindo alcançar esses objetivos, deixa inspiração, né”.