Grafiteiros levam arte e cultura para escola estadual em São Gonçalo
C. E. Adino Xavier, no Mutondo, recebeu grafites e oficinas com projeto “A Leitura Graffita a Vida”
A Travessa Professora Adélia Martins, no Mutondo, uma das mais movimentadas de São Gonçalo, ganhou um pouco mais de cor nas últimas semanas. A fachada do Colégio Estadual Adino Xavier, que fica no endereço, recebeu, em suas paredes externas, as artes de alguns dos principais artistas do grafite gonçalense.
As pinturas fazem parte do projeto “A Leitura Graffita a Vida”, iniciativa contemplada pelo edital Rua Cultura RJ, do Governo estadual. Cerca de 140 metros quadrados receberam as artes de Siri do Muro, Gal, Vitor Moy e Cabal. Idealizado pela arquiteta e pesquisadora Camila Dias Oliveira, o projeto é tema de um documentário, que deve ser lançado on-line ainda esse ano.
Camila conta que a ideia de trazer um pouco mais de vida e cor às paredes do Adino nasceu como um sonho. "Eu já tinha vontade de trabalhar com arte urbana há algum tempo, e esse foi o primeiro a ser concretizado na área da cultura, em que pude contribuir para a valorização dos artistas locais. Me senti orgulhosa de ter conseguido superar os problemas que surgem no meio do caminho e realizar meu papel na direção artística e curadoria com sucesso", comemora.
Para criar o conceito e tirar do papel a arte, a iniciativa contou com o trabalho de alguns dos mais renomados artistas do grafite na região. Vinícius Medeiros, conhecido como Siri do Muro (@siridomuro), e Glauber Gal (@glaubergal) encabeçaram o trabalho de criação artística. Junto com eles, vieram Vitor Moy (@vitor.moy) e Luiz Cabal (@luizcabal), dois artistas de renome que agregaram ao projeto.
"O projeto pedia dois artistas e dois ajudantes. Só que nossos dois ajudantes são dois artistas também, conceituados e de peso. E antes de sermos artistas, somos amigos. Eu acredito muito que a qualidade do projeto no geral, não só na estética mas em tudo, se deve a nossa amizade", destaca Gal, grafiteiro com mais de 20 anos de carreira que, após uma breve pausa na arte para focar em outros projetos profissionais, retornou ao 'street art' para o projeto no Colégio.
Outro nome conceituado com décadas de trabalho no grafite, Siri do Muro, acredita que ter um projeto grandioso como esse na parede de uma escola no município é, também, uma celebração da cultura do grafite na região. "Esse aqui é o segundo maior painel do município. E é importante falar também que o grafite, no Estado do Rio, começou aqui em São Gonçalo. Então, esse projeto, para a gente, é de uma importância tremenda para essa cultura do grafite", reforça Siri.
Além das artes e do documentário - que já teve sua primeira exibição em novembro, durante a Rio Innovation Week -, o "Leitura Graffita a Vida" também trouxe ao Adino Xavier oficinas de produção de grafite. Os artistas levaram aulas práticas e teóricas aos alunos com colégio, que, em muitos caso, tiveram seu primeiro contato com a forma de expressão artística através da oficina.
"Muita gente conhece, vê na rua, mas não sabe como funciona, não sabe o material, não conhece o processo do desenho. A gente teve a oportunidade de, com o projeto, mostrar para a galera do colégio como fazer na prática. A troca foi muito bacana. A gente não é dono de todo o conhecimento. Eu aprendo com os adolescentes, e eles comigo. Fora que a gente está plantando sementes para o futuro", acredita Cabal, que coordenou os encontros com os discentes.
O grupo acredita que o contato serviu para dar um pontapé inicial para futuros artistas do grafite. Além disso, na opinião dos artistas, a inspiração do projeto pode motivar não apenas os alunos, como também qualquer um dos transeuntes que, passando pelas calçadas do Mutondo, entrar em contato com o painel.
"Um dos grandes benefícios do grafite, principalmente aqui em São Gonçalo, é a possibilidade de a pessoa ter um contato com a arte sem estar dependendo de um lugar específico como um museu ou uma galeria, onde nem todo mundo tem acesso", explica Cabal. Gal complementa: "O grafite é escrita. A gente tá escrevendo a história da cidade. Quem passa e vê, está lendo, através de um desenho gráfico, a própria cidade".