Integrantes do 'Encontro das Pagodeiras' falam de orgulho de fazer samba com jeito feminino
Artistas que transformaram 'resenha' em projeto musical inovador participaram do programa 'Rádio Mania Entrevista'
Por muito tempo, raras eram as vezes em que o nome de uma cantora aparecia nas listas de artistas de pagode mais escutadas no país. Apesar de bastante popular entre ouvintes do público feminino, o gênero musical sempre foi marcado por uma certa predominância masculina e poucas foram as artistas que conseguiram derrubar as barreiras do mercado para atrair o reconhecimento e o sucesso que os homens têm no meio.
Aos poucos, porém, esse contexto foi mudando, através da força de algumas pioneiras do gênero. Se depender das meninas do Encontro das Pagodeiras, o cenário vai continuar mudando, como contaram em uma entrevista concedida a OSG nesta segunda-feira (22/05), logo após participarem do programa Entrevista Mania, da Rádio Mania.
As talentosas Juliana Diniz, Gabby Moura, Aline Costa, Thaís Macedo, Deborah Vasconcelos, Beta, Andressa Hayalla, Fernanda Vasconcelos e Renata Santiago são quem encabeçam esse movimento que começou informalmente, como uma 'resenha' de amigas artistas e, de repente, se transformou em sucesso na internet e em fonte de inspiração para outras musicistas do estilo.
"Nosso intuito maior é realmente incentivar, fazer com que mulheres enxerguem seu potencial e lançar, através de nós, muitas sucessoras dentro do samba, do pagode", explica Andressa Hayalla, uma das integrante do projeto. A ideia, elas relembram, surgiu quando Juliana Diniz reuniu as amigas em um show da Thaís Macedo. Aproveitando que todas estavam no Rio, o grupo se juntou, na semana do evento, para um encontro de amigas na varanda da Thaís.
Foi lá que gravaram o primeiro vídeo cantando juntas - registro esse que elas compartilharam nas redes sociais ainda sem pretensão de iniciar um movimento. O trechinho do encontro, no entanto, viralizou na Internet e ultrapassou, de cara, um milhão de visualizações. O sucesso foi 'chamando' outros encontros, que renderam mais vídeos, mais visualizações e ajudaram a consolidar a iniciativa.
Agora, o grupo planeja organizar projetos ainda maiores em breve. Um dos sonhos delas é, um dia, conseguir reunir pagodeiras de todos os cantos do país em um só evento para celebrar o potencial do talento e da energia feminina no pagode. Elas já carregam um tanto dessa energia nas suas apresentações, que, compartilham, compondo a soma das forças de todas elas.
"A gente tem algumas com mais experiência, como a Gabby Moura, nossa pioneira, que, além disso tudo, já fazia esse movimento de chamar as meninas para tocar no pagode dela antes. E também tem as outras meninas que estão começando a carreira agora, mas com muita potência, muita qualidade, como a Renatinha Santiago, nossa caçula que dá um show no palco. A gente consegue juntar essas duas qualidades e conseguimos uma aprender com a outra", define Juliana, neta do lendário sambista Monarco da Portela.
Falando, inclusive, em autores de outras gerações, o grupo também não nega que muito do seu trabalho carrega o peso de 'calçar as sandálias' de outros nomes célebres que foram precursoras no estilo. "A gente não pode deixar de ressaltar que temos uma missão muito grande: continuar tudo aquilo que nossas baluartes começaram, como a Jovelina, a Beth Carvalho, a Leci Brandão. Nós não podemos deixar esse legado acabar. Se está difícil para a gente, imagine como foi para elas lá atrás no começo", afirma Gabby.
À sua maneira, elas próprias já tem deixado uma marca na história que, conforme acredita Débora Vasconcelos, será vista com ainda mais clareza no futuro: "Depois delas e depois de um longo hiato, sermos essas pessoas que vão dar continuidade é de uma grande responsabilidade e nos honra muito também. A gente sabe que vai chegar lá na frente, vai olhar para trás e pensar: ‘caraca, olha o que a gente conseguiu movimentar, o quanto a gente contribui para outras pessoas’".
Mesmo hoje, porém, elas já tem um gostinho disso a cada feedback que recebem pessoalmente ou através das redes. Desde que começaram a publicar os vídeos, elas contam que se multiplicaram as respostas de outras artistas que, inspiradas por elas, hoje tocam juntas, com o orgulho de fazer pagode de um jeito feminino. "O desejo de todo artista é impactar, fazer algo que entre realmente para a história. E entrar para a história nem sempre significa mudar a humanidade. Mudar a história da vida de uma pessoa já é o cumprimento do seu propósito", conclui Andressa.