'Reciclagem e literatura local' é tema em projeto escolar de SG
O movimento foi idealizado pela professora Cristine Caldas e acontece na UMEI Pastor Saulo Luiz, no Jardim Catarina
Brincar de "escolinha" na infância é uma das primeiras lembranças de boa parte das crianças brasileiras. E, para a pedagoga Cristine Caldas, não foi diferente. Desde muito jovem, um dos seus maiores divertimentos era juntar os amigos e encenar uma sala de aula em que ela pudesse ser a professora. Corrigir cadernos, fazer planos de aula: esses eram apenas alguns dos principais hobbies da futura educadora.
O que Cristine não esperava naquela época, no entanto, era que essa mesma paixão pela prática educacional, iria levá-la, anos depois, às turmas de Educação Infantil da UMEI Pastor Saulo Luiz, no Jardim Catarina, em São Gonçalo. Lá, acontece o mais novo projeto literário idealizado pela pedagoga, que oferece às crianças leitura e criatividade por meio de obras de autores locais.
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Ainda em fase inicial, Cristine conta que a ideia do projeto é utilizar o espaço em que os estudantes estão inseridos para ensinar valores cruciais para a formação acadêmica de cada um. Em uma das atividades, por exemplo, bastou apenas alguns potes de extrato de tomate para que a professora tornasse o tema "reciclagem" uma pauta durante aquela semana.
"Pensei em aproveitar os potinhos para plantar girassóis. Foi aí que lembrei do livro Cambada I, que fala do bairro Jardim Catarina, onde o autor diz ter um terreno com plantação de Girassóis. Eles amaram a leitura, se identificaram, então o trabalho foi realizado com a Educação Infantil", explicou a educadora.
O livro de crônicas citado pela professora, o 'Cambada I', foi escrito pelo gonçalense Erick Bernardes. Ele também é educador e viu na sua literatura uma oportunidade de ressignificar a imagem dos bairros de São Gonçalo, muitas vezes lembrados por aspectos negativos, como violência e criminalidade.
"O Jardim Catarina tem seus problemas desde o começo do seu loteamento, sua história de mau planejamento reflete ainda hoje. A falta de segurança também é inegável, conforme inúmeros outros bairros. No entanto, os moradores não têm culpa, há histórias de vidas e superação na biografia da comunidade. E a crônica, com aquele matiz poético, serve para suscitar coisas boas, o carinho que muita gente tem por sua rua, seu bairro. A importância de que as crianças enxerguem a própria história e se vejam como agentes de mudança é urgente, se quisermos de fato ver não só o Jardim Catarina, mas o nosso município mais humanizado", enfatizou o escritor.
Para Cristine, ensinar em um contexto periférico é extremamente desafiador. Segundo a professora, muitos dos estudantes não possuem acesso à leitura em casa e, por isso, às vezes a escola é o único espaço onde eles conseguem ter contato com literatura ou cultura de modo geral. "São crianças que precisam da nossa atenção, compreensão, amor, paciência e respeito acima de tudo. Eles vêm com a bagagem deles, suas experiências e expectativas", explicou.
Esse incentivo à leitura em espaços periféricos de São Gonçalo, na visão do educador Erick Bernardes, ainda é algo desvalorizado e esquecido pelo poder público. O escritor acredita que essa movimentação cultural não deveria acontecer só dentro das escolas da cidade, mas em todo o município.
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E ao ver os frutos desse projeto na vida de cada família representada por aquelas crianças, o sentimento que chega para Cristine não poderia ser outro: "Felicidade, sabe? Eles chegam à sala de aula procurando os vasinhos para regar as sementinhas, orientam outros colegas sobre o cuidado com o meio ambiente. Os responsáveis chegam à escola contando sobre o que os meninos aprenderam. É muito bom ver o resultado do nosso trabalho", conclui.
*Sob supervisão de Cyntia Fonseca