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São Gonçalo realiza 1º Encontro do Setorial dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matrizes Africanas

O evento aconteceu com o objetivo de pensar em políticas públicas para esse grupo, com o auxílio da Lei Paulo Gustavo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 07 de agosto de 2023 - 09:31
O evento reuniu 95 lideranças para debater políticas públicas
O evento reuniu 95 lideranças para debater políticas públicas -

A Secretaria de Cultura e Turismo de São Gonçalo foi palco de um evento histórico para a cidade, na última semana. Pela primeira vez, o Encontro do Setorial dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matrizes Africanas aconteceu, com a presença de um número expressivo de participantes dos Povos Tradicionais de Terreiros e das Comunidades de Pescas Tradicionais.

De acordo com a propositora de políticas públicas segmentadas para Povos Tradicionais de Matrizes Africanas, Arethuza Doria de Oyá, o evento foi todo pensado para que o máximo de pessoas pudessem comparecer, respeitando os horários de trabalho e os dias dedicados às práticas religiosas. O objetivo era discutir pautas importantes para cada grupo e pensar em políticas públicas a serem implementadas, com o objetivo de dar visibilidade e proteção a essas pessoas, que por tanto tempo foram invisibilizadas e hostilizadas.


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“Foi um evento histórico! Diante de todo um processo histórico em que nós, Povos tradicionais de Matriz Africana, sofremos de inúmeras tentativas de apagamento,  extermínio, e diante de todo plano de poder ao longo dos anos, de implementar nos nossos, uma total falta de interesse, pelos nossos direitos, pelo porquê de sofrermos tantos ataques, racismo institucional, estrutural e religioso. Em São Gonçalo, não é diferente, mas não podemos desistir do nosso lugar.”, disse Arethuza.

Além disso, um ponto muito importante abordado no encontro, foi a Lei Paulo Gustavo, que pode e deve incluir políticas públicas culturais para esse grupo. Durante a reunião, a Secretária de Cultura e Turismo, Julia Sobreira, falou um pouco sobre as possibilidades e os direitos que os Povos de Matrizes Africanas e de Terreiros tem.

“Ela optou por se apresentar, reafirmar que nós, povos tradicionais de Matriz Africana/Terreiros, temos o total direito de acessar a política pública cultural,  e abriu para cinco perguntas. Informou que terá cursos para ensinar a elaborar editais, que terá um mutirão para abrir novos MEI, e que a secretaria está à disposição para tirar quaisquer dúvidas de todos, além de reforçar a importância do povo estar no fórum de cultura, para que se aproxime ainda mais dos órgãos públicos”, revelou a propositora.

Arethuza foi a responsável por sugerir a criação do Setorial, no encontro que teve com a Secretaria de Cultura de São Gonçalo, na escuta do fórum segmentados dos Povos Tradicionais, onde imediatamente teve o apoio do Babá Gilma de Oyá,  Babá Milton de Omolu e Iyá Alexandra de Oxum, e desde então, todos se mobilizam para levar cada vez mais integrantes para o movimento.

Já pensando nos próximos passos, o Setorial está se organizando para receber um representante da secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro,  para que possam se aproximar também do Estado e tirar ainda mais dúvidas.

Segundo a idealizadora do Setorial, hoje, ele conta com 170 lideranças, e convoca todos os líderes de terreiros do município, para que ninguém fique de fora. Apenas no evento, 95 lideranças estavam presentes.

Por se tratar de um povo que sofre tanto para ocupar espaços em uma sociedade racista e intolerante, Arethuza explica que convocá-los para uma reunião como a que aconteceu na última quinta-feira, não foi uma missão fácil, e que em 40 anos de vida, nunca viu uma mobilização tão grande de sua comunidade em busca dos próprios direitos.

“São muitos anos que o nosso povo foi usado e enganado. Hoje somos um povo cansado, desacreditado e, sobretudo, desconfiado. São sentimentos que herdamos dos que vieram primeiro, e que vimos como foram explorados. Então a maneira que o nosso povo tem como defesa, é ser desconfiado, questionar, bater na mesa e afirmar que não será mais usado”, explicou.

“Historicamente, somos um povo que foi negado de informação, por muitos anos. Então vê-los interessados em aprender sobre seus direitos, em conhecer mais sobre as possibilidades de políticas públicas, foi mágico!”

Agora, Arethuza Doria de Oyá deseja que toda a mobilização cresça, e que cada vez mais, seus ‘irmãos’ possam se juntar ao movimento que está sendo criado na cidade de São Gonçalo, para que, unidos, consigam sair da invisibilidade social em que foram colocados por tanto tempo.

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