Colégio municipal em Icaraí celebra legado de povos originários em projeto cultural
Projeto da E. M. Profª Elvira Lúcia homenageou autor indígena Daniel Munduruku
"Sawé"! O espírito de resistência do grito de guerra do povo indígena Munduruku deu a tônica da festa de encerramento do Projeto Instituinte, iniciativa da E. M. Profª Elvira Lúcia Esteves de Vasconcelos, em Icaraí, Niterói, que homenageia, todos os anos, um figura relevante da cultura nacional. A festa de encerramento do projeto aconteceu nesta sexta-feira (24).
Em 2023, as crianças que cursam do 1° ao 5° ano na escola estudaram o autor e professor Daniel Munduruku, um dos mais reconhecidos artistas e ativistas da comunidade indígena do país. Ao longo dos bimestres, todo o projeto pedagógico se baseou na vida e na obra do escritor, que foi escolhido através de um processo democrático entre o corpo docente, como em todos os anos letivos.
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Toda a escola foi decorada com atividades e trabalhos das diferentes turmas. Não apenas as salas de artes e recursos foram 'repaginadas' pela exposição de projetos dos alunos, como o próprio corredor a quadra principal também ganharam as cores e os ícones da cultura nativa celebrada no trabalho.
Além de conhecerem as artes e exercícios feitas pelos pequenos e expostas pela escola, os pais e responsáveis que visitaram o colégio no encerramento desta sexta (24) também assistiram às criativas apresentações feitas pelas turminhas, com direito a encenação teatral de uma das histórias da tradição indígena adaptados em conto por Munduruku.
No fim das contas, não são apenas os alunos e os professores que participam da iniciativa. "É um trabalho de formação. Formação tanto dos professores, quanto da nossa comunidade, que abrange também todos os funcionários, alunos, responsáveis; a escola toda fica envolvida", explica a diretora adjunta Silvana Capobiango.
O projeto já acontece regularmente há quase dez anos, desde 2014, além de versões iniciais nos anos anteriores. A essa altura, já se tornou uma tradição tão marcante da escola que as crianças já embarcam com facilidade nos temas propostos.
"No início, até tem alguns que podem demorar a entender. Mas depois eles engajam na temática de um jeito que você fica surpreso quando vê eles falando. Eles sabem, se você perguntar eles falam muito mais coisa sobre o tema do que você pode imaginar. A gente se surpreende com como eles aprendem. E não só o conhecimento, mas o respeito, que é o principal disso tudo. Aprender que a gente precisa respeitar é o mais importante de todo o trabalho", defende a diretora Débora Frederica.
A escolha do homenageado é outro momento que já se tornou de praxe na rotina da Escola Municipal. De Ivone Lara a Chiquinha Gonzaga, todos os nomes já homenageados passaram pelo mesmo processo 'eleitoral'.
"Acabando agora [o projeto], os professores já começam a pensar em quem vai ser o próximo. Há uma espécie de 'disputa', como se fosse a defesa de uma tese. Cada pessoa ou dupla faz a defesa do personagem, depois fazemos a votação e quem ganhar vira o tema do ano, com todo um trabalho de pesquisa", esclarece a diretora.
O desse ano foi mais o do que aprovado pela comunidade local; toda a releitura sobre aspectos primordiais da cultura brasileira que a obra de Munduruku despertou chamou a atenção dos pais e responsáveis. Mãe da pequena Manuele, de 9 anos, que cursa o 3º ano na escola, Paloma Ferreira, de 35 anos, é uma das que saiu satisfeita com o resultado do projeto por mais um ano.
"Minha filha fica muito ansiosa sempre, participa bastante. eles fizeram trabalhos, eles mesmo fizeram o desenho das camisas. É um engajamento muito legal entre as crianças com o próprio personagem. Eles vão do começo até o fim, pesquisam tudo. Achei tudo muito organizado, bem interessante a escolha", celebra Paloma.