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'Arte de guardar histórias': escritora de Niterói ajuda a formar nova geração de leitores com projeto nas escolas

Em entrevista a O SÃO GONÇALO, Neide Graça apresentou seu extenso portfólio, com sete livros publicados e um a caminho, todos voltados ao público infantil

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 29 de maio de 2024 - 11:16
Nascida em Minas Gerais e moradora de Niterói desde os 7 anos de idade, Neide é escritora e bibliotecária
Nascida em Minas Gerais e moradora de Niterói desde os 7 anos de idade, Neide é escritora e bibliotecária -

Com a mesma vitalidade dos pequenos aos quais se inspira para escrever seus livros, a escritora de literatura infanto-juvenil, Neide Graça, de 75 anos, em entrevista a O SÃO GONÇALO na livraria Blooks, em Icaraí, contou sobre sua trajetória, seus livros e o projeto de que tanto se orgulha: Arte de guardar histórias.

Nascida em Minas Gerais e moradora de Niterói desde os 7 anos de idade, Neide, que é formada em biblioteconomia, está na literatura desde 2005, quando decidiu trabalhar com crianças e jovens em um projeto voluntário, intitulado "Casa Verde de incentivo a leitura".

"Sempre digo que estou na literatura por causa desse projeto, que me faz virar escritora da literatura infantil. Eu vi que escrever pra criança é realmente uma coisa muito especial, e por conta do projeto, eu vejo no dia a dia o quanto a literatura pode ajudar, o quanto pode fazer a diferença na vida delas", afirmou a escritora.

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Início na escrita

Com o primeiro livro publicado em 2008, Neide conta que as crianças fazem seu trabalho valer a pena, pois é a partir delas que surgem novas ideias, opiniões e insights para os atuais e futuros livros.

"Escrever sempre gostei, a questão é ter coragem de publicar. Foram as crianças e a experiência desses anos no projeto que me mostraram que era possível. Foi também a partir daí que comecei a levar os livros nas escolas, porque acho que isso é um complemento do meu trabalho, ouvir as crianças, suas opiniões sobre a história, os palpites, que muitas vezes aproveito para um próximo livro a ser escrito", contou Neide, que completou:

"Procuro sempre colocar nas minhas histórias temas que eu acho que as crianças vão se interessar, porque não adianta escrever sobre coisas que não vão ser do interesse delas. Todos os meus livros têm uma história, um bastidor".

Projeto Arte de guardar histórias

Com o projeto de levar seus livros às escolas e, dessa forma, aproximar os leitores da própria autora, Neide já visitou dezenas de centros educacionais, de onde carrega lembranças carinhosas das experiências, que são sua principal motivação para continuar escrevendo.

"Vou em muitas escolas, bibliotecas, salas de leitura. Foi uma grande vantagem escrever já tendo o projeto do incentivo à leitura na prática. Sei o tipo de livro que as crianças gostam e isso me faz prestar atenção em cada uma delas e suas particularidades", ressaltou Neide.

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Oficinas e atividades

Questionada sobre todo o processo desenvolvido no Projeto Arte de guardar histórias, Neide conta que a parceria com as escolas tem dado muito certo, já que existe uma boa troca de ideias e um feedback extremamente positivo.

"Nas escolas, o processo é o seguinte: a escola escolhe o livro que quer trabalhar naquele momento e eu faço as atividades da oficina. As crianças acham muito interessante conhecer o autor do livro, o que é muito legal, porque elas querem conversar, fazer perguntas e até mesmo sugerir algumas mudanças. Em uma escola, certa vez, algumas crianças me questionaram do motivo de alguns personagens do livro não terem nomes, serem apenas "pai, mãe", o que foi interessante porque eles gostam de ter essa referência. Respondi que era para que eles mesmos pudessem dar os nomes com a sua imaginação", contou Neide em tom descontraído ao relembrar o momento.

Plantar e regar a literatura na vida das crianças

Neide Graça, que é natural de Pirapora, em Minas Gerais, não recebeu o incentivo familiar para se tornar uma amante da literatura. Mas, mesmo diante dessa realidade, o amor pelos livros surgiu em seu coração desde muito cedo, quando se apaixonou pelas revistas em quadrinhos.

"Eu sempre digo que se eu escrevo livro, vocês com acesso também podem escrever. Eu não tive uma família leitora, isso partiu de mim, porque eu amava revista em quadrinhos, por isso pra mim a ilustração dos livros é tão importante. Mesmo sem ainda saber ler, eu criava as histórias da revista. Mas, para além disso, também tive uma grande vantagem. Sou de Minas e tinha uma amiga de infância com quem eu trocava muito, lia, e isso era um incentivo enorme para essa prática. Até hoje quando vou a Minas a gente troca ideia sobre os livros", afirmou a escritora.

"Hoje em dia graças a vários recursos, é muito mais fácil apresentar a literatura às crianças, com muito mais acesso. É muito importante que isso seja feito desde cedo, porque a criança vai olhar pra vida de uma outra forma. Além disso, um personagem tem muita força, principalmente pela questão da identificação, onde elas olham, se veem e se identificam", ressaltou.

Sete livros publicados e mais um a caminho

Com sete livros publicados e um a caminho, todos voltados ao público infantil, Neide tem um vasto repertório de temas da literatura infanto-juvenil, onde cada livro possui características únicas e relevantes dentro do universo das crianças, proporcionando interpretações singulares em cada pequeno leitor.

- 1°: Alice e o mistério da casa verde

- 2°: A viagem de Alice ao país dos seus sonhos

- 3°: O sumiço da caixinha de Alice

- 4°: A ciranda de Alice

A série de quatro livros, os primeiros escritos por Neide Graça falam sobre uma criança, chamada Alice, que vai de encontro ao fantástico da curiosidade com a imaginação. A personagem vai crescendo juntamente aos livros, apresentando novas vivências, expectativas e curiosidades com a passagem da infância para adolescência.

O último livro da série, "A ciranda de Alice", é descrito pela autora como "o livro da família".

"Ele é interativo com coisas que as crianças podem fazer, receitas de brinquedos de sucata, por exemplo. É o livro que mais fiz em escolas, porque os personagens se mudaram para um sítio e não tinham nada. Foi quando aprenderam a fazer seus brinquedos e ativaram a criatividade", descreveu Neide.

Neide tem sete livros publicados e um a caminho, todos voltados ao público infantil
Neide tem sete livros publicados e um a caminho, todos voltados ao público infantil |  Foto: Layla Mussi

No 5° livro da escritora, com título "Cadê a lagoa que estava aqui", Neide relembra e compara sua infância em Pirapora com os dias atuais, abordando o tema do meio ambiente.

"Foi por conta da minha cidade, Pirapora em Minas Gerais, que é um lugar onde passa o Rio São Francisco e tem muitas lagoas. Um dia voltando a minha cidade, percebi que uma lagoa tinha sumido, e me fiz essa pergunta: Cadê a lagoa que estava aqui?". Pensei que precisava falar disso com as crianças, colocar esses questionamentos na cabeça deles, algo extremamente educativo", explicou a escritora.

Já no 6° livro, "O menino pirilampo", Neide decidiu falar sobre um tema muito comum nas escolas: as diferenças. Ela conta, a partir da perspectiva de um menino, como é ser tímido e como lidar com essa característica.

"Me deparo com muitas crianças tímidas e um dia vendo uma criança que não participava das atividades, pensei em falar sobre isso, sobre a timidez a partir do personagem, trazendo identificação. Além disso, nesse livro tem uma professora, profissão que sou apaixonada", contou.

O 7° e último livro publicado por Neide Graça, até o momento, Zuri e Dulce traz uma ilustração sensível de Ana Maria Sena, a qual a escritora fez questão de ressaltar.

Zuri e Dulce é um livro que fala de ancestralidade e empatia
Zuri e Dulce é um livro que fala de ancestralidade e empatia |  Foto: Layla Mussi

"O livro conta com a ilustração da maravilhosa Ana Maria Sena. Fala sobre ancestralidade e empatia, coisas que precisam ser debatidas com as crianças. Todo mundo precisa saber de suas origens, sua história", afirmou Neide, que já está com seu 8° livro a caminho, previsto para ser lançado no próximo mês.

"O nome é "A menina e o mágico" e, por um acaso, essa menina sou eu. É sobre profissão. As vezes, vejo as crianças não falando muito das profissões dos pais, na maioria dos casos por vergonha, e nesse livro eu falo da profissão do meu pai, porque eu achava realmente mágico ele ser alfaiate, pegar um tecido e aquilo virar uma roupa. É importante trazer a valorização à qualquer profissão que seja", explicou a escritora.

Assista abaixo a entrevista, no Boletim TV Universo:



Persistência

"Eu não escrevo para ser escritora, eu escrevo porque acho que isso pode levar as crianças [a esse universo]. Esse é o meu caminho, escrevo porque faço esse trabalho e porque posso ir a escolas conversar com as crianças sobre esse trabalho", afirmou Neide Graça, que ressaltou também a importância de não desistir dos sonhos.

"Se realmente é isso que você quer, não desista, porque desistir é a coisa mais fácil. Fico pensando que do primeiro livro até esse último que já está para lançar, era muito fácil ter desistido. Infelizmente é difícil publicar, é texto e ilustração, um complemento, um casamento, e isso é muito caro, então é um processo que requer persistência, determinação. Eu não desisti porque tenho as crianças comigo", concluiu a escritora niteroiense.

Para conhecer mais sobre o trabalho da autora infanto-juvenil e seus projetos, basta visitar seu Site ou sua página no Instagram.  

A autora de 75 anos leva seus livros até as escolas realizando um projeto com oficinas e atividades
A autora de 75 anos leva seus livros até as escolas realizando um projeto com oficinas e atividades |  Foto: Divulgação

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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