Festa Literária das Periferias (Flup) vai até 17 de novembro no Circo Voador, RJ
Entre as pautas em destaque estão debates raciais, étnicos, de gênero e climáticas
A 14ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup) começou nesta segunda-feira (11), no Rio de Janeiro, com mais de 90% da programação composta por mulheres negras. Na abertura, o destaque foi o debate sobre as questões das periferias globais e brasileiras, como pautas raciais e étnicas, de gênero e climáticas.
A Flup acontece até 17 de novembro, e terá a participação de escritores nacionais e internacionais, personalidades ligadas à arte e à academia, oficinas formativas, apresentações musicais, saraus, lançamentos de editoras e performances.
O tema deste ano é “Roda a saia, gira a vida”. Segundo os organizadores, há um alinhamento com o conhecido pensamento da filósofa e escritora estadunidense Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
O evento de abertura da Flup foi a mesa de debates “O que Queremos Para Ontem?”, que tratou das principais demandas e necessidades das pessoas de periferia.
Tanto as do passado, que seguem incompletas, quanto as mais atuais trazidas pelas novas dinâmicas sociais.
Participaram dela a ativista de direitos humanos e direitos LGBTQIAPN+, Neon Cunha, a deputada federal, Benedita da Silva (PT-RJ), e a diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.
Dentro do tema, elas destacaram a homenageada dessa edição da Flup: a historiadora, poeta e cineasta Maria Beatriz Nascimento (1942-1995), que teve atuação marcante na defesa dos direitos humanos de negros e mulheres no Brasil, e é considerada uma inspiração para a nova geração de escritoras negras.
“A Maria Beatriz foi uma das mulheres fortes que eu tive a sorte de conhecer, que deram as mãos para que pudéssemos vencer as batalhas em nossos quilombos. Porque as nossas favelas nada mais são do que os nossos quilombos. E lá sabemos que temos que extrair força, energia, conhecimento, organização para poder enfrentar o que vier”, disse a deputada federal, Benedita da Silva.
“Maria Beatriz criou conceitos que traduziram a nossa experiência como humanos e foi atrás de alternativas. Falou que nós também somos capazes de encontrar respostas em meio à tragédia humana. Seja no quilombo como território de guerra, quilombo para perseguir a paz, quilombo como estratégia de viver bem. Disse que, por vezes, o quilombo também precisa recuar e buscar proteção”, disse a diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck.
Já a mesa sobre as Políticas Culturais do Livro e Leitura foi realizada no dia 12, na Casa dos Processos Formativos Flup e Malê (Casa de Luzia), na Lapa (RJ). E contou com a participação da escritora Eliana Alves Cruz, do secretário de Formação Cultural, Livro e Leitura (Sefli), Fabiano Piúba, e do diretor do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, Jéferson Assumção. A mediação foi do produtor cultural e escritor Raphael Ruvenal.
“A Flup mais uma vez dá mostra de sua força, como espaço fundamental das vozes periféricas criativas e críticas. Com 90% de mulheres em sua programação, a edição de 2024 aprofunda cada vez mais o debate sobre temas emergentes da sociedade brasileira. Na mesa de ontem, debatemos políticas culturais para o livro e a leitura e a construção do PNLL neste contexto”, afirma o diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, Jéferson Assumção.
O diretor frisou ainda que a “casa estava cheia de vozes que estão construindo um Brasil de baixo para cima. A presença da escritora Eliana Alves Cruz em nossa mesa também foi fundamental para mostrar a potência de uma literatura que ao contrário de outros momentos não pede mais passagem, mas é o próprio espaço de inovações e possibilidades para a literatura contemporânea brasileira”, finaliza.
Quem criou a Flup
A Festa Literária das Periferias (Flup) foi criada em 2012 por Ecio Salles e Julio Ludemir. A ideia surgiu em 2010, em Nova Iguaçu, quando os dois conversaram sobre a possibilidade de realizar uma festa literária numa favela do Rio de Janeiro com UPP.
A Flup é um evento que promove debates, oficinas e saraus nas favelas do Rio de Janeiro. O objetivo é aproximar a literatura e a arte das comunidades carentes, revelando novos autores e entregando-os ao mercado.
Festa Literária das Periferias (Flup)
Dias: de 11 a 17 de novembro
Local: Circo Voador
Endereço: Rua dos Arcos, s/n, Lapa – RJ
Entrada gratuita