Curiosidades gonçalenses: Você sabia que a Praça Zé Garoto tem esculturas em homenagem a grandes personalidades do município?
Os monumentos, localizados na principal praça de São Gonçalo, fazem jus a relevância de três influentes personagens da história de São Gonçalo
Você sabia que a Praça Zé Garoto possui esculturas em homenagem a grandes personalidades do município?
Assim como muitas curiosidades gonçalenses, esta não poderia passar em branco, dada a importância histórica destas esculturas para a promoção de uma identidade cultural que valorize a memória de influentes personalidades que deixaram suas marcas no município.
Antes chamada de “Praça Cinco de Julho” e popularmente conhecida como Praça do Zé Garoto [por causa de um filho de imigrantes, José Alves de Azevedo, que chegou a São Gonçalo aos 10 anos e ficou conhecido por esse apelido], a praça Estephânia de Carvalho [homenagem a uma das mais importantes e influentes educadoras do município], fica localizada no bairro Zé Garoto, em São Gonçalo.
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A Praça foi um importante cenário durante as décadas de 40 e 50 do movimento operário gonçalense, sendo palco importante de intensas manifestações da organização local. Por ser um espaço público e livre, a Praça também se tornou o reduto dos manifestantes ligados aos estaleiros locais, metalúrgicos, operários da fábrica de fósforo, da fábrica de cimento Mauá e do setor de pescado, que reivindicavam melhorias trabalhistas. Pela Praça, passava o antigo bonde que fazia a curva no sentido rumo ao Alcântara.
Atualmente, além de oferecer brinquedos para as crianças, espaço para apresentações teatrais em homenagem ao palhaço Carequinha e um chafariz com iluminação noturna, a Praça também tem três importantes esculturas em homenagem a personalidades gonçalenses: os bustos da professora Estephânia de Carvalho e do médico Dr. Luiz Palmier, e o monumento a Joaquim de Almeida Lavoura, ex-prefeito de São Gonçalo.
Busto de Luiz Palmier
Um busto nada mais é do que a representação esculpida ou pintada de uma pessoa, se limitando à cabeça, pescoço, uma parte do torso e ombros, geralmente sobre um apoio. A escultura tem por finalidade recriar o mais fielmente possível a fisionomia do indivíduo.
Logo no entorno da Praça Zé Garoto, a obra arquitetônica da rosa dos ventos, realizada durante o governo de Aparecida Panisset (PDT), ex-prefeita de São Gonçalo, traz uma homenagem ao médico, professor, escritor, político, pesquisador e jornalista, Dr. Luiz Palmier.
O busto, feito pelo escultor e professor da Escola de Belas Artes, Honório Peçanha, fica no centro do diagrama [representa os pontos cardeais e colaterais, sendo normalmente circular e com os pontos cardeais em destaque], trazendo destaque à esta influente personalidade gonçalense.
Mini biografia
Filho de Felicio Palmier e de D. Florisbela da Silva Palmier, o Dr. Luiz Palmier nasceu no interior do Estado do Rio de Janeiro, no Município de Sapucaia, no dia 21 de setembro de 1893.
Formado em farmácia, Palmier iniciou o curso de medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro [atualmente um dos centros da Universidade Federal Fluminense (UFF)] em 1918, mesmo ano em que passou a colaborar no tratamento e combate à epidemia da gripe espanhola.
Desde cedo, Luiz manifestou sua vocação para o magistério, tendo sido também Professor em escolas de São Gonçalo e Niterói. Foi, ainda, Professor da Faculdade Fluminense de Medicina e lecionou na Escola Superior de Agricultura do Estado do Rio.
Envolveu- se com a política e foi eleito Vereador pelo município de São Gonçalo. Em 1936 e 1937 foi Deputado à Assembleia Constituinte do Estado do Rio, onde fez parte de várias Comissões Técnicas e foi Presidente da Comissão de Higiene e Instrução.
Escritor fluente, colaborou em vários jornais, do Estado do Rio e do antigo Distrito Federal (depois Estado da Guanabara), entre eles: - "Jornal do Comércio", "Jornal do Brasil", "Gazeta de Notícias", "O Estado", "O Fluminense", "Diário do Povo", "A Gazeta de São Gonçalo", "O São Gonçalo", "A Comarca", "A Sapucaia". Foi Redator do "Sapucaiense" e do "Anuário Geográfico do Estado do Rio de Janeiro" e Redator-Chefe da revista "Ilustração Fluminense".
Como demonstração da preocupação de Luiz Palmier com São Gonçalo, o escritor lançou, em 1940, sua principal obra como escritor: "São Gonçalo cinquentenário: história, estatística, geografia", em comemoração aos cinquenta anos de emancipação política e administrativa do município.
Palmier também foi fundador e diretor médico do Hospital de São Gonçalo, que hoje tem seu nome. Com relevantes feitos para a cidade de São Gonçalo, o médico faleceu em 16 de outubro de 1955.
Busto de Estephânia de Carvalho
Localizado em uma das entradas da Praça Zé Garoto, bem ao lado do chafariz, o busto da professora Maria Estephânia Mello de Carvalho é uma homenagem, juntamente ao nome da própria praça, a uma das mais importantes e influentes educadoras do município de São Gonçalo.
Abaixo da escultura, uma placa traz alguns dizeres que homenageiam a educadora forte e determinada, que lutou incansavelmente pela educação gonçalense. "No seu eterno e merecido descanso. Estephânia de Carvalho simboliza não só a educadora virtuosíssima, como também excelsa mãe do estudante pobre".
Mini biografia
Nascida em Cantagalo, no dia 7 de junho de 1885, Estephânia adotou São Gonçalo para dedicar seu tempo, dedicação e amor à educação.
Aluna exemplar do Colégio Sion, em Petrópolis, cursou ciências, letras, línguas e música. Também cursou o Colégio Pedro II e fez vestibular para medicina.
Aos 35 anos de idade, ao casar-se com Zeno Bellido de Carvalho, abandonou o magistério e passou a morar em Niterói. Porém, um triste acontecimento lhe fez voltar a se dedicar ao ensino: a morte da sua única filha, aos dois anos de idade.
Mesmo em meio a tristeza, Estephânia resolveu abrir espaço para a perseverança, fundando, em sua própria residência, um curso primário. Mais tarde, tornou-se diretora do Curso Feminino do Colégio Brasil de Niterói e, logo depois, fundou o Colégio Carvalho.
Aos 56 anos, Estephânia de Carvalho chegou à São Gonçalo e foi convidada pelo então prefeito, Nelson Corrêa Monteiro (PP) para participar de uma concorrência pública para montagem de um colégio secundário. O local seria no lugar de um casarão na rua Coronel Moreira Cezar, que a prefeitura havia acabado de adquirir para tal finalidade.
A educadora passou seu Colégio Carvalho, em Niterói, para o Dr. Plínio Leite, e, em 10 de novembro de 1941, inaugurou o Colégio São Gonçalo, contrariando muitos que não acreditavam em um curso secundário na cidade. Estephânia não só provou que era possível, como também inaugurou a primeira Escola Normal de São Gonçalo e o Curso Técnico de Contabilidade.
A professora participou ativamente na cidade, como na Campanha de Manutenção e Auxílio às Famílias dos Combatentes da Segunda Guerra Mundial. Ela também foi uma das principais responsáveis pela campanha pró-busto do Dr. Luiz Palmier, e também por um dos maiores marcos históricos da cidade, o Cruzeiro da Coruja, inspirado e construído com a ajuda de seus alunos. Dela também partiu a iniciativa de iniciar as comemorações do Dia do Município com o desfile cívico, que anos depois foi incorporado pelas autoridades municipais e se tornou tradicional na cidade de São Gonçalo.
Com seu falecimento, em 2 de março de 1958, e depois de tudo o que fez pela educação de São Gonçalo, o reconhecimento de seu trabalho lhe rendeu muitas homenagens. Uma delas foi batizar o Colégio Municipal Estephânia de Carvalho, no bairro Laranjal. Outra importante homenagem foi dar seu nome à principal praça do município, onde também ergueu-se um monumento com seu busto.
Muitas mães devem à educadora a oportunidade de seus filhos receberem uma bolsa de estudo, pois Estephânia não deixava ninguém sem estudar, até mesmo os mais pobres. Assim, ficou conhecida como “A mãe do estudante pobre gonçalense”.
Monumento Joaquim de Almeida Lavoura
Um monumento nada mais é que uma estrutura comemorativa que homenageia pessoas ou eventos importantes para um grupo social, como forma de registrar e conhecer a história de uma época.
Os monumentos são verdadeiros museus a céu aberto, que materializam a memória coletiva de acontecimentos históricos ou testemunham o patrimônio artístico e cultural. Eles integram o meio ambiente construído e compõem a paisagem de determinados espaços públicos da cidade.
Na Praça Zé Garoto, outro importante monumento construído para valorizar àqueles que fizeram história no município, homenageia Joaquim de Almeida Lavoura, ex-prefeito de São Gonçalo, considerado até os dias hoje como o "mito" da política gonçalense.
Mini biografia
Filho de José Marques de Almeida e de Maria Cândida de Almeida, Joaquim nasceu no bairro Caju, no Rio de Janeiro, em 4 de abril de 1913. Aos sete anos ficou órfão de mãe e seu pai decidiu se mudar com toda família para São Gonçalo, no bairro Gradim. Apenas com a quarta série do Ensino Fundamental, cursada em uma escola estadual, o político sempre ajudou economicamente sua família.
Lavoura optou por alterar seu sobrenome aos 21 anos de idade, adquirindo o nome da avó paterna.
Na idade adulta, Joaquim Lavoura passou a trabalhar no comércio do bairro Porto Velho e logo depois ingressou na política, apoiado por um grupo de estudantes e trabalhadores. Com seu carisma, conseguiu alcançar muitas pessoas e se tornou uma liderança de bairro logo cedo. Através da defesa forte e segura dos pescadores do Gradim e da população humilde do Quarto Distrito da cidade (Neves), estreou na Câmara de Vereadores em 1947 (mandato 1947-1950) e novamente no mandato 1951-1954.
Em 1950, Joaquim Lavoura começou a preparar as bases para a realização do seu maior sonho: ser prefeito. Mesmo não contando com o apoio das elites que estavam no comando, Lavoura mais uma vez surpreendeu, concorrendo à prefeitura em 1954 pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional) e sendo eleito (mandato 1955-1959). O político fez uma campanha onde se apresentava em cima de um trator rodeado de trabalhadores.
Seu slogan era: "Com trabalho há progresso, Com trabalho há progresso, Com trabalho há progresso". Já no primeiro governo promoveu uma verdadeira revolução administrativa no município. Ali nascia uma expressiva liderança que permaneceria por vinte anos no poder, marcando de vez seu nome na história da cidade.
Lavoura retirou as linhas de bondes, alargou as passagens e promoveu os calçamentos do Porto Velho e Sete Pontes, vias principais de ligação de São Gonçalo com o município vizinho de Niterói. Modernizou o Hospital Luiz Palmier e construiu o Pronto Socorro Infantil "Darcy Vargas". Era comum encontrá-lo na direção de tratores e escavadeiras e utilizando pás. Foi capa da Revista americana "Time", ao ser apontado como um dos melhores administradores de prefeituras do país. Seus símbolos eram o chapéu, a picareta e o cigarro de palha.
Vítima de complicações pulmonares, Lavoura faleceu no Hospital dos Servidores do Estado - HSE, na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1975, aos 62 anos. Mais de 10.000 pessoas assistiram ao seu funeral no Cemitério de São Gonçalo.
Líder nato, político presente e homem do povo são apenas alguns dos atributos espontaneamente expressados em São Gonçalo quando o assunto é Joaquim de Almeida Lavoura, seja de quem o conheceu pessoalmente, ou de quem apenas ouviu falar. O legado deixado não deixa mentir: Lavoura é patrono de uma escola municipal no bairro Barro Vermelho; do Centro Cultural Lavourão, na Estrela do Norte; de rua no bairro Vista Alegre; e do viaduto da rodovia estadual RJ-104, em Tribobó. As homenagens se estendem ainda ao monumento do político, localizado na Praça Zé Garoto.