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Frente Literária Gonçalense: Um movimento pela valorização da Literatura em São Gonçalo

Escritores e produtores culturais se unem para combater a falta de representatividade da quinta arte na Cultura da região

relogio min de leitura | Escrito por Cristine Oliveira | 09 de janeiro de 2025 - 17:35
Grupo define metas para combater a falta de apoio e representatividade na Literatura em SG
Grupo define metas para combater a falta de apoio e representatividade na Literatura em SG -

Quem nunca ouviu a frase 'São Gonçalo é um celeiro de artistas' que atire a primeira pedra. Rica em expressões artísticas e esportivas, a cidade é conhecida como berço de talentos e, do berço para o mundo, esses talentos que geralmente iniciam suas jornadas na cidade, muitas vezes só desenvolvem a carreira e têm reconhecimento fora dela. Acontece assim com a Cultura em suas diversas formas: Teatro, Cinema, Dança, Pintura. E com a Literatura, o cenário parece ainda mais delicado. É justamente para nadar na contramão dessa premissa que escritores, professores, jornalistas e poetas se uniram e formaram a Frente Literária Gonçalense.

A falta de apoio e visibilidade para a produção literária não é um problema novo. Entre os exemplos estão o fechamento da última livraria de rua da cidade em dezembro/2024, a carência de bibliotecas municipais e a falta de programas populares de incentivo à leitura. A ideia de criar a Frente nasceu desse incômodo, em conversas entre escritores e produtores culturais. Composta por Yonara Costa, Suzane Veiga, Cristiana Souza, Helcio Albano, Zé Salvador, Erick Bernardes, AJ. Tolissano, Elis Barroso, Rui Aniceto e Fabio Rodrigo, a Frente Literária quer unir forças no mesmo sentido: transformar a produção literária da região em um bem acessível a todos. "Houve uma reunião em que discutimos a necessidade de um processo estruturado para fomentar a cultura literária em São Gonçalo. Estamos trabalhando para isso”, resume o cordelista e poeta Zé Salvador.


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Uma das primeiras demandas levantadas pelos integrantes é a inclusão de livros de autores gonçalenses nas bibliotecas escolares. Elis Barroso questiona: “Por que não vemos escritores locais nas escolas estaduais e municipais? Isso precisa mudar. Geralmente são obras de homens, estadunidenses, ingleses, nem brasileiros a gente vê, muito menos gonçalenses. Por que não a partir de agora a gente ver escritores gonçalenses nas escolas?".

Imagem ilustrativa da imagem Frente Literária Gonçalense: Um movimento pela valorização da Literatura em São Gonçalo

E pontua: "A Cultura do nosso município ignora completamente quem faz cultura de fato. Então, nós nos unimos porque vimos que é a única forma de darmos andamento e continuar a fazer cultura. Vários outros movimentos literários anteriores nunca partiram do poder público, sempre foram movimentos que começaram assim, em uma cafeteria, em uma esquina. Os movimentos literários sempre partiram de pequenos grupos e tomaram proporções gigantescas”.

"Queremos fomentar a cultura e lançar livros de mulheres, jovens e diversos segmentos, abranger todos os gêneros, todo o mercado literário”, acrescenta Cristiana Souza, assistente social e graduanda em História.

Para o grupo, é necessário atuar o quanto antes na "raiz do problema", que são os espaços públicos essenciais como escolas e bibliotecas. "Quando a gente fala na literatura, a gente sempre vê uma verba menor, uma possibilidade menor. Ainda tem uma coisa que é bem complicada, que é como se São Gonçalo fosse uma cidade que não produz esse tipo de cultura, ou que ela seja menor, ou que ela tenha menos espaço. [...] O nível de leitura está baixíssimo no Brasil e cada vez tem diminuído, então se a gente não tem uma boa leitura, a gente não tem uma boa escola, não teremos bons roteiristas, nem música de qualidade...são consequências. Então, a Frente Literária tem o objetivo maior de transformar essa cultura, a começar por São Gonçalo”, ressalta a escritora Yonara Costa, idealizadora do Coletivo Escritoras Vivas.

Da esquerda para a direita, Helcio Albano, Cristiana Souza, Suzane Veiga, Yonara Costa, Elis Barroso e Zé Salvador
Da esquerda para a direita, Helcio Albano, Cristiana Souza, Suzane Veiga, Yonara Costa, Elis Barroso e Zé Salvador |  Foto: Layla Mussi

“Impacta também na questão do pertencimento, quando a gente fala de representatividade. A literatura reforça esse sentimento de pertencimento e autoestima. Escritores e artistas que movimentam a cultura local influenciam positivamente a maneira como somos vistos e como nos enxergamos”, destaca Suzane Veiga, professora e editora em São Gonçalo, que também integra o primeiro Coletivo de mulheres autoras da cidade.

Jornalista e editor na Apologia Brasil, Helcio Albano reforça a importância de destacar a riqueza cultural do município: “São figuras importantes como Zé Salvador, que representa a tradição nordestina e o cordel, como o Rodrigo Santos, cujas obras alcançaram destaque nacional e internacional, além de outros poetas, romancistas e escritores”.

Segundo o grupo, para que todas as mudanças propostas ocorram, além da aderência da população, é necessário o olhar do poder público, por exemplo, por meio de emendas parlamentares.

"É fundamental a atuação política. Sem atuação política organizada, coesa, tendo objetivos muito claros, é impossível a gente reunir todos os nossos interesses, organizá-los e fazê-los funcionar. Então, a Frente Literária também é, acima de tudo, uma frente política, que se dispõe a dialogar e principalmente assessorar os entes políticos representativos eleitos, vereadores, prefeitos, deputados. Porque se nós temos uma demanda, eles precisam receber essa demanda e encaminhá-la. Estamos dialogando com os novos vereadores eleitos e temos também como objetivo nos aproximar do Executivo, da Secretaria de Cultura, da Educação, para que a gente consiga encaminhar essas demandas. Este ano, por exemplo, vamos realizar o segundo Festival Literário Via Palavra, na FFP-Uerj, no primeiro semestre, via emenda parlamentar, cujo autor foi o Dimas Gadelha. Então, tudo isso que chega a nós, chega porque nos movimentamos politicamente", completa Helcio Albano.

Próximos passos e desafios

A Frente Literária Gonçalense trabalha na elaboração de um documento oficial que justifique a união dos escritores e permita a busca de recursos em editais públicos. A meta é ampliar a visibilidade de quem produz literatura, promover mais eventos literários acessíveis e num médio prazo transformar São Gonçalo em uma referência literária também para outras cidades. O grupo convida, ainda, a população a apoiar e divulgar o movimento, participando ativamente dos eventos literários que serão organizados.

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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