Curiosidades gonçalenses: Você sabia que a primeira hospedaria de imigrantes do Brasil ficava em São Gonçalo?
O Museu da Imigração da Ilha das Flores, que hoje está no espaço onde funcionava a hospedaria, fica no bairro de Neves; As visitas são gratuitas e podem ser feitas de terça a domingo
Você sabia que fica em SG o Museu da Imigração que funciona no espaço da primeira hospedaria de imigrantes do Brasil?
Assim como muitas curiosidades gonçalenses, esta não poderia passar em branco, dada a importância histórico-cultural e educacional destes centros de pesquisa e investigação do patrimônio material e imaterial da humanidade.
Os museus se dedicam à preservação, conservação, interpretação e exposição do patrimônio cultural e natural, além de serem locais que possibilitam ações de pesquisa, educação, comunicação e ação cultural. É o espaço ideal para despertar a curiosidade, estimular a reflexão e o debate, promover a socialização e os princípios da cidadania, e colaborar para a preservação da memória cultural de um povo.
Museu da Imigração da Ilha das Flores
Localizado no bairro de Neves, em São Gonçalo, o Museu da Imigração funciona no espaço da antiga Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores (1883 - 1966), que foi a primeira hospedaria de imigrantes do Brasil, e é resultado de um convênio, firmado em 2012, entre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Marinha do Brasil.
Atualmente, a Ilha das Flores abriga a Tropa de Reforço dos Fuzileiros Navais, com seus respectivos Batalhões, além do Museu da Imigração da Ilha das Flores em um dos prédios históricos da hospedaria.
São dois espaços expositivos: o 'Circuito a Céu Aberto', onde os visitantes percorrem os antigos espaços da Hospedaria de Imigrantes e a 'Casa do Intérprete', inaugurada em 2016 e onde há uma exposição de longa duração que aborda os principais momentos da história da imigração no Brasil.
'Circuito a Céu Aberto'
Durante a visitação, o público entra em contato com toda a história do local, através de estruturas e elementos remanescentes da época em que o local, antes de virar propriedade da Marinha, era uma base de hospedaria no Brasil.
O circuito a céu aberto consiste em um "tour" pela ilha, onde o mediador explica a antiga função de cada prédio. Entretanto, não se pode entrar nas construções, que são utilizadas para fins administrativos da marinha.
"Quando o visitante chega nós oferecemos água e banheiro, explicamos como funciona o Museu e a partir daí nós começamos com o circuito, e, ao finalizarmos, vamos para a sala de exposição", contou Thiberius Gomes de Moura, Primeiro-sargento fuzileiro naval, encarregado do Museu da Imigração, que conduziu, junto ao Segundo-sargento fuzileiro Naval, Tiago Diniz, diretor financeiro do Museu, toda a visitação da reportagem de O SÃO GONÇALO.
Ao longo do percurso, existem placas autoexplicativas com fotografias e textos sobre a hospedaria, como a história do "cais do bote", que fazia o transporte das pessoas através de um bote, no trajeto Ilha das Flores - São Gonçalo.
"Esse cais é uma construção de 1928 que hoje a gente mostra como um parâmetro em relação ao aterro e a construção da rodovia. Nós explicamos sobre a chegada dos portugueses ao Brasil e também sobre a etimologia da palavra Brasil, através do pau-brasil que temos aqui na área externa", contou o primeiro-sargento Thiberius.
Durante o circuito, os visitantes também podem avistar estruturas da época da hospedaria como a "casa do farmacêutico" e a "casa do diretor".
Imigração no Brasil
Conforme explicou Richard de Macedo Toledo, estagiário do curso de história da UERJ, que também é um dos mediadores da visitação, os imigrantes europeus eram atraídos pela oportunidade de emprego e consequente recomeço da vida profissional.
"Acontecia no Brasil a mudança da mão de obra escrava para a mão de obra livre e a preferência do Império era que viessem brancos e europeus, porque no século XIX existiam algumas teorias raciais [infundadas] que diziam que um país só iria se desenvolver se a sua mão de obra fosse composta por brancos e europeus. O território também precisava ser ocupado, haviam muitos espaços [aparentemente] vazios. Alguns imigrantes vinham por contrato e outros vinham procurar emprego aqui. Além disso, a Europa enfrentava um processo de mudança com a industrialização recente e os camponeses estavam sendo deslocados de suas terras, e, procurando um modo de continuar sua vida, eles viam na imigração uma oportunidade possível", contou Richard.
"Eles ficavam na hospedaria de 3 a 8 dias, até conseguirem um emprego. A gente costuma fazer uma analogia com o filme Titanic pro pessoal conseguir entender, que quem passava aqui pela Ilha das Flores eram os imigrantes de terceira classe [pessoas que vinham através de batelões, atracavam no cais principal onde eram direcionados aos alojamentos, onde ficavam até serem direcionados a vagas de emprego]", completou o segundo-sargento Tiago Diniz.
'Casa do Intérprete'
Inaugurado em 2016, o espaço do Museu da Imigração conta com uma exposição de longa duração que aborda os principais momentos da história da imigração no Brasil.
Com o lema "você era um estranho e o Brasil te acolheu", logo na entrada do Museu, a história da hospedaria é contada através de relatos de descendentes de imigrantes, documentos, pesquisas e formas interativas de fazer com que os visitantes se sintam parte da história. Toda documentação referente ao período da imigração está disponível no Arquivo Nacional.
O acervo do museu, apresentado ao público de forma digital e interativa, é dividido em períodos como “Grande Migração – 1870- 1914”, “Entre Guerras 1919-1939”, “Pós Guerra 1945-1966″ e “ Espaço prisional”. Para cada período há disponível um monitor e fones de ouvido para que o visitante escolha os depoimentos, registros iconográficos ou trechos de livros que queira acessar.
"Apesar de tudo, temos relatos de que os imigrantes foram muito felizes aqui na Ilha das Flores, então são boas memórias, boas lembranças. A gente mostra pro público tudo que aconteceu aqui, explica sobre o nome da Ilha, sobre as outras hospedarias que tinham nas Américas. Vale ressaltar a importância da Hospedaria da Ilha das Flores, que foi a primeira hospedaria oficial inaugurada ainda no governo imperial", contou o primeiro-sargento Thiberius.
O Museu é uma iniciativa da Marinha, em parceria com a UERJ. O grupo de pesquisa vinculado ao museu é o Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores (CMIIF).
A Hospedaria de Imigrantes
No início do século XIX, a Ilha das Flores pertencia à Delfina Felicidade do Nascimento Flores, sendo denominada Ilha de Santo Antônio. É provável que seu nome atual tenha referência à essa proprietária, pois o local devia ser conhecido como a “Ilha da D. Flores”, passando depois à “Ilha das Flores”.
Após ter sido incorporada ao patrimônio da província do Rio de Janeiro, a Ilha foi arrematada por Maria do Leo Antunes, em 17 de agosto de 1834.
Já em 1857, foi vendida para o senador José Ignácio Silveira da Motta, onde passaram a ser desenvolvidos, no local, experimentos de piscicultura, algo avaliado de maneira positiva pela Comissão do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, vinculada ao Ministério da Agricultura, devido à necessidade de alimentos na Corte e na cidade de Niterói.
Após visita da Comissão do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, órgão vinculado a Inspetoria Geral de Terras e Colonização, iniciaram-se as negociações entre o senador Silveira da Motta e o governo imperial para a venda da Ilha das Flores. As negociações começaram em 1878 e foram concluídas em 1883, quando foi criada a Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores.
Geograficamente favorável
A localização geográfica da Ilha das Flores era considerada duplamente favorável, pois seu isolamento tornaria dispensável a passagem dos imigrantes pela cidade do Rio de Janeiro, considerada, na época, um foco de epidemias. Ao mesmo tempo, sua localização na Baía de Guanabara era próxima tanto da Corte quanto de Niterói, o que facilitaria o deslocamento dos imigrantes para seus destinos finais.
Para atrair a vinda de imigrantes para o Brasil, eram oferecidos transporte do país de origem e também interno, acesso às terras em núcleos coloniais, além de abrigo temporário na Hospedaria.
"D. Pedro II queria trazer imigrantes europeus para povoar o Brasil e com esse projeto foram criadas algumas hospedarias nas Américas. A da Ilha das Flores foi criada em 1883, sendo a mais antiga das Américas", contou o primeiro-sargento Thiberius Gomes de Moura.
Além de hospedaria de imigrantes, a Ilha das Flores também funcionou como espaço prisional e espaço de recepção e acolhimento de migrantes internos que se deslocavam, sobretudo do Nordeste, por conta dos períodos de seca.
"Muitas pessoas não conhecem essa história, não conhecem esse local, que tem uma beleza ímpar, uma coisa que não é muito percebida entre a população gonçalense", afirmou o primeiro-sargento.
Serviço:
Museu da Imigração
- Dias e horários de funcionamento: De terça a domingo; das 9h às 17h.
- As mediações do Circuito a Céu Aberto ocorrem em quatro horários: 9h, 10h30, 14h e 15h30
- As visitas são gratuitas
- Grupos acima de 15 pessoas precisam realizar agendamento através do site do próprio museu: www.miif.org.br.