Estevão Ribeiro lança livro infantil em homenagem à filha autista: 'Guilhermina não gosta de 'NÃO'!'
A obra literária retrata a rotina de Guilhermina e como ela é amada pelos vizinhos, pai e a irmã gêmea Sofia Leonora, que também está dentro do Espectro Autista

O escritor capixaba Estevão Ribeiro, de 46 anos, morador de Niterói e pai das gêmeas autistas, Guilhermina Vitória da Matta e Sofia Leonora da Matta, de 8 anos, está lançando um livro infantil: “Guilhermina não gosta de ‘NÃO’!. A obra conta a rotina da filha e os desafios enfrentados - e em sua grande parte superados - pela família, além de conscientizar sobre o autismo, com leveza e bom humor.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é dividido em 3 níveis, sendo o nível 1 considerado leve, o nível 2 moderado e o nível 3 apontado como suporte substancial. Dentro dessa divisão, Sofia está enquadrada no nível 1 e a Guilhermina no nível 3. Convivendo com duas crianças autistas, o escritor percebeu a importância de conscientizar as pessoas sobre o transtorno.
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“Eu tenho duas meninas que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista, duas meninas maravilhosas, incríveis. E a ideia foi escrever um livro para que as pessoas entendessem como funciona pelo menos a rotina da Guilhermina, que é a nossa biografada. Então eu trabalho aqui com alguns comportamentos dela, e principalmente brincando com uma coisa que a gente sempre fala com ela que é o ‘não’. Quando ela ouve o ‘não’, ela responde com frustração, às vezes beliscando as pessoas. Óbvio que a gente fala para ela não fazer, tenta trabalhar isso [...]”, explica Estevão.

Além da frustração em receber o ‘não’, outros tópicos abordados nas páginas do livro infantil são: a dificuldade da pequena Guilhermina em falar, de como ela é tratada com carinho pelos vizinhos e sobre a sua sensibilidade, retratada na obra pelo momento de pentear o cabelo.
“Como ela é uma criança em que o verbal dela é trabalhado através do incentivo, temos outros desafios para nos comunicarmos com ela, como o que ela quer, o que ela faz. E esse livro fala um pouco sobre evolução, de como foi a relação com o condomínio onde moramos hoje, por exemplo, em relação a comportamento. [...]. Guilhermina hoje é uma menina que é inserida, incluída na verdade, e tem seus direitos respeitados em relação à inclusão na escola, faz terapia. E dentro de uma comunidade, consegue cultivar amizades, as pessoas gostam muito da Guilhermina e são muito acolhedoras em relação à condição dela”, disse o escritor.

Estevão Ribeiro também comentou sobre a importância de outras histórias serem retratadas por meio dos livros infantis, fazendo com que crianças e adultos entendam que há outras histórias de vida que merecem respeito e precisam ser acolhidas com carinho para uma boa convivência em sociedade.
“Eu sou ‘cria’ das histórias em quadrinhos, eu acho que não tem ninguém da minha geração, dos 30 aos 40 anos, que não tenha sido educado lendo Maurício de Sousa. E também nessa época, a representatividade como homem negro era de um cara preto que quase não aparecia, o Jeremias. Então hoje, quando eu trabalho o livro da Guilhermina, por exemplo, trabalho para mostrar que existem outras histórias a serem contadas, e que precisa contá-las. Quando a gente conta, a gente mostra um outro prisma e também admite a existência de outras pessoas. Essa convivência precisa existir, até para a gente poder se entender como sociedade”, completou.
Dentro da cultura, seja a literatura, seja no audiovisual, existem inúmeros gêneros como romance, comédia, drama, terror, fantasia, entre outros. Mas apesar dessa variedade, quando o autismo é retratado, acaba sendo limitado ao drama em uma situação muito estereotipada.
“Existem livros, séries de TV, existe todo um mundo sendo aberto para isso, mas temos que lembrar que isso antigamente era um estigma, digamos assim, que a gente não gostaria de mostrar de outra forma senão pelo drama. Era sempre um protagonista que tinha um filho, um irmão autista, a gente sempre tinha a história de um homem galã. Então eu acredito que ainda falte, estamos tendo algum tipo de progresso, mas ainda é pequeno. A gente precisa ter um protagonismo, a gente precisa buscar esse protagonismo com mais personagens com seus dramas e sim na comédia, desde que seja algo saudável, como pessoas dignas de afeto e amor, e entender que são pessoas que têm direito a qualquer tipo de sentimento”, acrescentou.

Ainda seguindo com o objetivo de produzir obras literárias voltadas para a conscientização sobre o autismo, mas também motivado pelo pedido de sua outra filha, Sofia, Estevão Ribeiro planeja publicar um segundo livro.
“Bem, ‘Guilhermina não gosta de não!’, é o primeiro. Estou fazendo o segundo sobre a Sofia. Já fiz livros sobre a Sofia para outras editoras, mas ela quer um livro parecido com o da irmã, porque é isso, gêmeas são assim, sempre querem coisas parecidas. Então, o próximo livro já está em produção”, disse o escritor de forma bem humorada, cercado pelas filhas.
A pequena Sofia está ansiosa para o seu livro, que ainda está sendo produzido, chegue nas livrarias e plataformas digitais, mas já fala um pouco da história da obra, demonstrando conhecimento sobre o autismo.
“O meu livro sobre o meu autismo é um livro sobre manha, birra. Tipo, quando eu estava no primeiro (1º ano do Ensino Fundamental) aí eu falava, aí a professora falava ‘Deixa alguém falar’. Exemplo, 'é manha ou birra, Sofia?', é tipo ficar dizendo que sou malcriada mas é só por causa do autismo, porque autismo é assim (sic). Por exemplo, algumas pessoas autistas podem ter alguma dificuldade para aprender a falar, tipo a minha irmã, que ela tem que aprender as coisas do jeito dela, no tempo dela e ela também tem seu próprio sentimento. Eu e minha irmã somos grandes irmãs”, disse Sofia.
Estevão ressalta a diferença de como pessoas com autismo nível 1, como sua filha Sofia, são enxergadas pela sociedade, em que anos atrás não recebiam tratamento correto por falta de informação e um olhar humanizado.
“É interessante falar sobre isso, porque pessoas do espectro autista para crianças com grau de suporte 1, muitas vezes é visto como birra, de manha, temperamental. Hoje, a gente tem muitos diagnósticos tardios, provavelmente porque essas pessoas foram vistas, por exemplo, como uma pessoa mimada, uma pessoa dengosa, e dependendo de sua classe social e da sua cor, essas coisas passam muito ao longe, uma pessoa branca pode ser tida como mimada, uma pessoa ‘aí gente, que pessoa chatinha, mas porque ele é riquinha’. Por outro lado, para pessoas negras que não se tiveram paciência alguma porque achavam que eram ‘encapetadas’, que não tinham jeito e eram pessoas que precisavam de um tipo de tratamento que o racismo atravessa dizendo ‘Não, essa pessoa nasceu para ser vagabunda’”, disse.

Para quem tiver interesse em adquirir o livro infantil “Guilhermina não gosta de ‘NÃO’!”, basta acessá-lo em plataformas online e em rede de livrarias. O lançamento oficial vai ocorrer no dia 10 de maio, na livraria Janela, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, às 11h, mas o livro já está disponível em livrarias e no site da editora.
*Sob supervisão de Cyntia Fonseca