Durval: experiência e tradição numa trajetória de amor dedicado à Colônia de Pescadores
Série 'Eles fazem história' celebra a vida e trajetória de gonçalenses marcantes, em celebração aos 134 anos de emancipação político-administrativa da cidade
Em mais um capítulo da série de reportagens que ressalta, valoriza e enaltece gonçalenses que fazem parte da vida e, literalmente, da história da população, conheça a história do pescador Orivaldo Freire Alves, o "Durval".
ORIVALDO, O "DURVAL" - A pesca como semente de uma vida de boas colheitas no serviço e amor ao próximo
Nascido no município de Conceição de Macabu, no Norte Fluminense, o pescador Orivaldo Freire Alves, conhecido como "Durval", de 72 anos, teve, desde o início da vida, uma forte identificação com a pesca, que fez com que, aos 13 anos, ao chegar a São Gonçalo, no ano de 1965, iniciasse na profissão. Mesmo aposentado, a exerce até os dias de hoje.
Casado, pai de três filhos e avô de sete netos, Durval teve na pesca não só o seu "ganha pão" e sustento da família, como seu grande propósito de vida.
Em entrevista a O SÃO GONÇALO, o experiente pescador contou sobre a trajetória difícil, o amor pela profissão e a relação com os moradores da Colônia de Pescadores, que podem contar diariamente com sua disponibilidade e olhar empático para a vida.
As pessoas que espalham amor, não têm tempo nem disposição para jogar pedras Irmã Dulce
Mar calmo não faz bom "marinheiro"
Filho de dona de casa e pai dentista, Durval cresceu ao lado de quatro irmãos em uma infância que, segundo ele, foi "muito boa". Porém, ao chegar a São Gonçalo, durante a adolescência, o pescador se viu diante de um mar turbulento de adversidades.
"Em 1967, meu irmão sumiu e nunca mais apareceu. Algum tempo depois uma irmã foi encontrada morta na BR e até hoje não se sabe o que aconteceu, quem cometeu o crime, nada. Logo depois veio a morte da minha mãe, que tinha ido à uma missa, num domingo de manhã, na Paróquia Nossa Senhora das Graças, no Porto Velho, e acabou sendo atropelada e não resistiu", contou Durval, que continuou o relato.
"Três anos após a morte da minha mãe, veio a tragédia com meu pai. Ele saiu para ir até a casa de uma sobrinha em Neves e quando foi pegar o ônibus, o motorista "arrancou", ele caiu, bateu com a cabeça no meio-fio e morreu".
Diante de tantas perdas dentro da própria família, o caminho percorrido por Durval poderia ter sido totalmente diferente, com amargura, rancor e desgosto com a vida. Porém, assim como a profissão que escolheu aos 13 anos, Durval foi resiliente e soube fazer dos desafios sua força para não só seguir seu caminho, como fazer a diferença na trajetória de tantas pessoas.
Presidente da A.M.P.O.V.E.P
Ao longo dos anos, Durval foi se firmando na Colônia de Pescadores e se tornando um profissional respeitável, referência não só como pescador, mas como ser humano.
Há 26 anos como presidente da Associação de Moradores e Pescadores do Porto Velho e Suas Praias (A.M.P.O.V.E.P), localizada na colônia de pescadores do Gradim, em São Gonçalo, Durval esteve presente desde o início da criação da Associação, em 1989, ano em que já fazia parte da diretoria.
Com intuito de defender os interesses e direitos da comunidade, a associação trouxe a busca por melhores condições de vida e infraestrutura para os moradores da região, ajudando a promover ações que visassem o desenvolvimento daquela região.
Em concomitância com tudo que sempre lutou em relação aos seus "vizinhos" e colegas de trabalho, Durval contribuiu diretamente para que muitas pessoas pudessem ter seus direitos reconhecidos, como é o caso do pescador Benedito Alves de Souza, que já estava na Colônia quando Durval chegou, aos 13 anos, mas nunca havia tido acesso a um documento jurídico que atesta sua existência física, sua existência no mundo do direito: a certidão de nascimento.
"Conheço o Benedito desde quando cheguei aqui na comunidade. E ele nunca teve certidão de nascimento, então nós fomos até o fórum e conseguimos tirar, pudemos dar essa dignidade pra ele", afirmou Durval.
Um bom líder
Durval é unanimidade na Colônia de Pescadores e onde passa, traz consigo sorrisos e cumprimentos acalorados, demonstrando uma relação paterna com todos os moradores, em sua maioria pescadores que estão há mais de 20 anos na região e também sustentam suas famílias através da pesca.
"É uma gente muito boa, são trabalhadores, gente que vi nascer, vi crescer, estão aqui há anos e amam o que fazem. Alguns poderiam até escolher estar em outro lugar, mas o amor pela pesca faz com que permaneçam aqui", explicou o Presidente da Associação.
Para que exista um bom funcionamento dentro da comunidade, Durval preza pela organização, através, por exemplo, de uma espécie de mapa, de documento que permite um certo tipo de controle em relação à quantidade de moradores no local, através do desenho do número de casas presentes em cada uma das ruas da colônia, e a quantidade de moradores presentes em cada uma delas. Atualmente, são 75 boxes e 17 residências.
Ele faz história
Participativo nas questões sociais e nas necessidades dos moradores, empático com as demandas de cada pessoa que passa pela sua vida e exemplo de superação, resiliência e força de vontade para os que pensam em desistir na primeira "queda", Durval segue fazendo a diferença e amando ao próximo não só nas palavras, mas em cada pequena grande ação realizada no dia a dia.
Seja para apadrinhar um vizinho, retirar documentos, ajudar na pesca, ser um ombro amigo, uma palavra acolhedora ou até mesmo para ser a referência paterna que muitos sentem falta, Durval esteve, está e estará sempre presente para acolher e dar suporte a todos que a ele recorrerem.
"Sr. Durval é uma pessoa muito especial pra mim. Está sempre ajudando ao próximo. Ele me conhece desde pequena e na hora que mais precisei, me ajudou, que foi me dar uma moradia aqui na colônia dos pescadores. Hoje ele é meu padrinho, que eu amo muito, e desde sempre é um exemplo de homem honesto, amigo e muito prestativo", afirmou Girlayne Ferreira da Silva, de 29 anos, moradora da Colônia de Pescadores.
Grato com o papel de liderança que desempenha naturalmente diante da comunidade, Durval não esconde a satisfação de ser realizado em sua profissão, mesmo com todas as dificuldades.
"Minha relação com os moradores é muito boa e me sinto muito realizado como pescador, mesmo hoje em dia não sendo mais como era antigamente, que era muito mais farto em relação ao nosso trabalho. Estou sempre aqui para servir a todos os vizinhos, estou sempre disponível para o que precisarem. Já até tirei pessoas da cadeia, pessoas que eram envolvidas com drogas e hoje estão bem, trabalhando, embarcados. Então não tem como não me sentir feliz em poder fazer parte da vida de cada uma dessas pessoas, porque ajudar ao próximo é algo que me faz muito bem", concluiu o pescador Durval.