O Futebol Como ele é (hoje)
O futebol europeu se tornou um gigante inalcançável devido ao poderio econômico que tem. Clubes como Real Madrid, Barcelona e Manchester United ganham mais que um bilhão de reais por temporada com suas atividades. Isso faz com que os clubes sempre possam aleijar rivais menores, seja na Europa, seja nos países da América do Sul, que não dispõem da mesma renda que os rivais. Mas até esses grandes clubes que faturam uma infinidade de dinheiro passaram a ter problemas. Se explica;
Em 1990, o belga Jean-Marc Bosman iria ter seu contrato encerrado com o Liége, de seu país natal, e queria renovar. A proposta de salário da renovação era quatro vezes menor que o salário que ele ganhava. Ele então pediu para se transferir. Na época, mesmo com contrato encerrado, o “passe” continuava a pertencer ao clube, como no Brasil pré-Lei Pelé. O Liége pediu uma quantia astronômica, e o jogador entrou na justiça comum contra o clube. Depois de cinco anos de batalha jurídica, o Tribunal Comum Europeu entendeu que, ao fim do vínculo contratual, o jogador estaria livre para assinar com o clube que quisesse, como qualquer trabalhador comum.
Mas o que isso tem a ver com agora? Ao identificar o jogador de futebol como um trabalhador qualquer, o Tribunal também garantiu que qualquer um que tivesse passaporte da zona comum européia poderia se mover normalmente na área para trabalhar. Em outras palavras, um jogador nascido na Espanha, poderia jogar na Inglaterra, sem maiores complicações. Na época, as maiores ligas da Europa tinham limite de estrangeiros, mas com a decisão, espanhóis jogando por times ingleses, por exemplo não entrariam nessa conta por serem todos eles do continente. Isso abriu passagem para as grandes ligas de lá contratarem uma penca de jogadores daqui sem maiores problemas, bem como desmantelar times de lá sem pudor, como aconteceu com o Mônaco nessa temporada.
Com o tempo, os clubes do Velho Continente passaram a ser comprados por mega-bilionários, que gastavam sem nenhuma vergonha quantias pornográficas de dinheiro para terem resultados imediatos, ao mesmo tempo que aleijavam os adversários. Por isso, a UEFA criou o tal do Fair Play Financeiro, que limita o gasto dos clubes a uma porcentagem do que eles arrecadam. Teoricamente, os clubes se endividariam menos, e as ligas ficariam mais equilibradas. Mas como o PSG mostrou, não é um regulamento muito difícil de se burlar.
Nos Estados Unidos, as ligas de basquete e futebol americano, por exemplo, possuem um teto de gastos. É simples: a liga chega, diz que o clube pode gastar, por exemplo, 20 milhões em salários. Se gastar mais, paga uma multa imensa por descumprir o limite. Basta a UEFA, a CONMEBOL, a FIFA, a CBF ou seja lá quem for fazer o mesmo. Pega a transferência do Neymar, usa de referência, e diz que clube nenhum pode gastar em contratações mais que isso, e pronto. Ninguém mais fica endividado, os times conseguem manter seus bons jogadores, e bilionários que saem de um buraco qualquer não estragam o espetáculo. Se não for feito logo, o mundo vai ser de PSG e Manchester City. E os outros que se conformem.