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Botafogo: Estádio do Caio Martins, em Niterói, é devolvido ao Governo do Rio

Clube carioca administrava o complexo há 33 anos. Construído em área de Icaraí que abrigava um 'canódromo', estádio mais antigo até que o Maracanã, foi palco de série especial 'Nos Gramados' da Vida', de 'O SÃO GONÇALO'

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 30 de dezembro de 2021 - 16:03
Caio Martins estava sob gestão do Botafogo há 33 anos
Caio Martins estava sob gestão do Botafogo há 33 anos -

O histórico Estádio do Caio Martins, em Icaraí, Niterói, aos 80 anos de existência, palco de jogos de futebol memóraveis entre grandes clubes brasileiros, da nossa seleção, e de atuações de grandes craques do país, segue dias de incerteza às vésperas da chegada de 2022. Um Decreto do governador Cláudio Castro (PL-RJ) publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado, na última quarta-feira (28), devolveu a administração do Complexo Esportivo Caio Martins, em Niterói, para o Governo do Estado, depois de 33 anos sob a gestão do Botafogo.

O estádio, que leva o nome de um menino escoteiro-herói mineiro, teve a sua história contada no ano de 2016, na série especial Nos Gramados da Vida, de O SÃO GONÇALO, quando completou 75 anos, sem nenhuma  celebração das autoridades ou do próprio Botafogo. A equipe de OSG, por iniciativa própria, comprou um bolo e levou ao gramado para o tradicional 'parabéns' de alguns personagens 'ilustres' da região que jogaram naquele local, como o bi-campeão mundial da Seleção Brasileira, Jair Marinho, e Geremias, 'craque' de grandes clubes cariocas, além de Clayton Divina, atual presidente do Centro de Oportunidade ao Talento (COT), que jogou por vários times do país, com passagem mais marcante pelo Grêmio, de Porto Alegre.  

Estádio serviu ao Botafogo durante anos
Estádio serviu ao Botafogo durante anos |  Foto: Divulgação
 

Comodato - O estádio de futebol estava concedido ao Alvinegro desde 1988, em regime de comodato, e vinha servindo como local de treino para as categorias de base.  Nos últimos meses, abrigou partidas oficiais da equipe feminina do clube no Campeonato Carioca deste ano, sem a presença de público, uma vez que determinações do Ministério Público do Estado do Rio, por força de medidas impetradas na Justiça por setores organizados da cidade, entre elas entidades comunitárias de Icaraí, impediam há anos, a realização de partidas oficiais, com torcedores, naquele local.  

A concessão ao Botafogo era válida até 2027, mas havia um acordo entre as partes pela devolução do local em 2021. A última partida oficial com público no histórico estádio, foi em dezembro de 2004, pelo Campeonato Brasileiro – na derrota do Botafogo para o Corinthians por 2 a 1.

Nos Gramados da Vida - A história do Caio Martins foi contada na Série de Reportagens Nos Gramados da Vida, de OSG, feita entre os anos de 2015 e 2016, sobre a trajetória de clubes, jogadores e estádios da região, fruto de um amplo trabalho de pesquisa da equipe de Redação. Quem passa por Icaraí e vê o velho estádio jamais poderia imaginar que o ‘gigante’ de concreto, grama e terra, situado em uma área entre a Avenida Roberto Silveira e as Ruas Lopes Trovão, João Pessoa e Presidente Alfredo Backer, fica numa área onde antes ‘desfilavam’ animais.

Antes do estádio havia espaço para corrida de cães no local
Antes do estádio havia espaço para corrida de cães no local |  Foto: Divulgação
  

Quando a Zona Sul de Niterói era constituída apenas por casas e grandes áreas de mata, e a cidade era a capital do Estado, o poder público criou ali um canódromo para corrida e exposições de cachorros, em meados da década de 1930. Em meio ao já consolidado processo de popularização do futebol, iniciado no fim do século 19, o então governador Amaral Peixoto e autoridades estaduais decidiram transformar o local num grande complexo esportivo, que segundo informações do arquivo pessoal do político - cedido à Fundação Getúlio Vargas (FGV) - começou a ser construído na década de 40. Em meio à política voltada para as cidades do interior e do fortalecimento da então capital Niterói, era desejo do governador que a cidade sediasse jogos do Campeonato Carioca e outros eventos esportivos. 

O estádio Caio Martins viria a ser o maior fora do Rio de Janeiro para a prática do futebol, depois do São Januário, Laranjeiras e Andaraí (todos do outro lado da Baía de Guanabara), já que o Maracanã só foi erguido em 1950. Da antiga área do canódromo, duas arquibancadas situadas às margens da Presidente Backer foram mantidas. E paralelamente à construção do estádio, foi erguido também um Complexo Esportivo. 

Caio Vianna Martins: um pequeno escoteiro-herói em Minas Gerais

Nascido na cidade mineira de Matozinhos, em 13 de julho de 1923, Caio Vianna Martins foi morar com a família na capital, Belo Horizonte. E lá logo descobriu uma paixão: o escotismo, movimento que ‘abraçou’ aos 14 anos. Um ano depois, aos 15 anos, em 19 de dezembro de 1938, uma tragédia marcou para sempre o nome do pequeno escoteiro. O grupo de Caio havia organizado uma excursão de trem a São Paulo. Vinte e cinco membros viajavam no vagão da primeira classe do trem noturno da Central do Brasil, quando, no início da madrugada, a composição se chocou com um trem cargueiro que vinha em sentido contrário, entre as estações de Sítio e João Aires, próximo à cidade mineira de Barbacena. Quarenta pessoas morreram. 

Caio Martins, escoteiro-herói, deu nome ao estádio
Caio Martins, escoteiro-herói, deu nome ao estádio |  Foto: Divulgação
 

Caio recebeu uma forte pancada na região lombar durante o choque, mas mesmo assim, continuou junto com os colegas a ajudar no socorro aos feridos. Recusou a maca e foi andando, com os amigos. O esforço foi determinante para a sua morte, por hemorragia interna. Além do nome no estádio, Caio recebeu homenagens por todo o país. Vários grupos es escoteiros levam seu nome, entre eles o 92 Caio Vianna Martins, de Jacarepaguá, no Rio. 

Centenas de 'craques' jogaram no estádio
Centenas de 'craques' jogaram no estádio |  Foto: Divulgação
  

Entre a partida inaugural do Caio Martins, entre Canto do Rio e Vasco da Gama - vencida por 3 a 1 pelo time de São Januário, em 20 de julho de 1941, foram centenas de jogos e um autêntico ‘desfile’ dos maiores craques brasileiros, como Zizinho, Pelé, Zico, entre outros. Mas não só alegrias marcam a trajetória do tradicional estádio, que em um dos períodos mais negros da história do país - a ditadura militar - foi usado como o ‘cárcere’ de presos políticos, fato que teria inspirado representantes de regimes semelhantes em outros países da América do Sul, como no Chile, de Augusto Pinochet, a fazer o mesmo.

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