Gonçalenses do jiu-jitsu fazem vaquinha para participar de torneio em Abu Dhabi
Entre medalhas nacionais e internacionais, irmãos do Jardim Catarina somam mais de 200 títulos no esporte
Dois meses após conquistarem o ouro em um torneio internacional na Flórida, Estados Unidos, a dupla Gabriel Figueiredo, de 14 anos, e João Pedro Figueiredo, de 12, já está pronta para representar o jiu-itsu gonçalense em outros continentes. Os dois irmãos, moradores do bairro Jardim Catarina, estão se preparando para disputar, em novembro, o Campeonato Mundial de Jiu-Jitsu em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
Para ajudar a chegar lá, a família dos atletas iniciou uma vaquinha online para arrecadar fundos para a viagem. O objetivo é conseguir dinheiro o bastante para levar os jovens novamente ao Oriente Médio, onde já conquistaram medalhas, no passado, com disputas internacionais.
“Para eles irem para Abu Dhabi, agora, nós não temos quase nada. Mesmo com os patrocínios, acaba que todas as viagens custam bastante para a gente. Só que eu já sei que vai dar certo. O que eu vou fazer, não sei, mas eu tenho certeza de que vai dar certo e que Deus vai colocar alguma coisa no caminho para ajudar”, conta a analista financeira Gláucia, de 38 anos, mãe dos meninos.
Leia também:
➢ 'Cria do Salgueiro' conquista quatro medalhas de ouro em campeonato internacional de jiu-jitsu
➢ Modelo gonçalense reúne artistas em Concurso Plus Size em Portugal
Ela e seu marido, Fabiano Figueiredo, de 41 anos, se desdobram para garantir que o talento e a dedicação dos filhos continuem resultando em uma trajetória de sucesso - e, até agora, tem dado certo. Juntos, João e Gabriel somam mais de 200 títulos. Além de estarem entre os atletas mais reconhecidos de sua categoria no estado, já conseguiram vitórias em outros três países e seguem sendo convidados para os principais torneios.
A paixão pelo esporte nasceu com o pai, Fabiano, que também é treinador dos meninos e mestre de um Centro de Treinamento no bairro onde moram. Ele, que concilia o emprego com instalação de placas solares com o comando do CT, conta que é apaixonado pela arte marcial desde a juventude. “Eu vivo jiu-jitsu. Conheci o esporte como aluno no Henrique Lage, em 1996, e de lá para cá nunca mais parei”, relembra.
Foi acompanhando sua rotina como atleta que os filhos começaram a se interessar pela luta: “Fiquei parado uns 10 anos para casar e trabalhar [em outras áreas]. Quando comecei a treinar de novo, eles, com quatro anos de idade, iam para o tatame comigo, me esperando nos treinos. E daí seguiram, até hoje”.
O mais novo, João Pedro, conta que esse contato na infância fez toda a diferença. “Fui fazendo amigos e me apaixonando pelo esporte com os ensinamentos dos professores, vendo o valor do caminho que o esporte ia fazendo a gente seguir”, relata o jovem.
Nesse caminho, ele e o irmão Gabriel encontraram dificuldades, mas acumulam suficientes sucessos para se emocionarem com a trajetória. Um deles foi o recente torneio na Flórida, onde ambos saíram vitoriosos em suas disputas. “Na hora foi difícil de acreditar. A ficha não caiu, não é todo dia que se consegue ganhar um campeonato desse nível. É indescritível, uma sensação única”, compartilha Gabriel. Seu 'currículo', conta a família, já têm mais conquistas do que a de muitos lutadores adultos de faixa preta.
Com as vitórias, vêm também valores aprendidos. “As pessoas perguntam: ‘o que vocês ganham com isso, só a medalha?’. Não é só a medalha, é tudo que há em volta. Toda a cultura, o amadurecimento, a responsabilidade”, destaca a mãe dos meninos.
Além dos aprendizados pessoais, a família também acredita que o legado deles contribui para o objetivo principal de todo o esforço, que é, segundo eles, fazer a diferença na vida das pessoas. No CT, os Figueiredo recebem diversos alunos de contextos marginalizados e de realidades familiares conturbadas, que encontram no esporte uma chance de ir além das limitações de suas circunstâncias sociais.
“Cada vez que eles voltam com títulos chegam mais crianças. A trajetória deles inspira pessoas, e é muito gratificante, porque o objetivo é sempre fazer a diferença através do esporte”, reforça Gláucia. E, para fazer isso, o auxílio financeiro é uma etapa importante e, por vezes, a mais difícil de se conseguir. “Se tivéssemos um ‘bolsa atleta’ aqui em São Gonçalo, seria uma salvação. Independente do valor, tudo que chega para somar é muito bem-vindo. Faltam incentivos”, acredita a gonçalense.
Ainda assim, a família faz como pode para contornar esses obstáculos. Seja através do site de sua vaquinha virtual ou através da chave PIX que direcionam para doação (151.300.687-85), os irmãos e seus pais articulam estratégias para seguir em frente com sua jornada, sempre com muita fé, como explica a mãe dos meninos: "Eles viajam pela fé, sem fé eles não sairiam do bairro. Eu sei que a gente vai conseguir. Não importa o tempo, vai dar certo".
*Estagiário sob supervisão de Thiago Soares