Adolescente do Jardim Catarina coleciona títulos no kickboxing
Verônica "Biquinho" se prepara e busca apoios para conseguir participar de campeonato no Sul
Quem viu a adolescente Verônica Bastos chegar para os treinos de kickboxing em 2019, época em que começou a praticar o esporte, provavelmente se surpreenderia ao vê-la lutar atualmente. A jovem moradora do Jardim Catarina, que começou sua jornada no esporte um pouco tímida e assustada, hoje, aos 16 anos, é bicampeã da categoria em três campeonatos: o de São Gonçalo, o estadual e da Copa do Brasil.
Agora, a atleta, conhecida pelo apelido "Biquinho", se prepara para disputar, pela primeira vez, o Campeonato Sul-americano de Kickboxing, que acontece em dezembro, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Além dela, seu professor, o mestre Márcio "Meleca" Dantas, também está treinando para participar de um evento na cidade, o Pan-americano da categoria. Juntos, eles deram início a uma campanha de arrecadação para conseguir juntar os mais de 360 dólares que precisam para se inscrever no torneio, sem contar os gastos de estadia e transporte.
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A dupla se conheceu em 2019, quando Verônica, aos 12 anos, foi assistir a uma aula do esporte com o primo. Na época, ela passava por um momento delicado; tinha perdido seu pai há poucos meses. "Meu pai tinha morrido e eu ficava muito tempo dentro de casa, triste, quase não saía direito. Aí meu primo resolveu me levar e eu treinava só por ir. Não gostava, não fazia ideia que ia ganhar esses títulos todos", relembra a lutadora.
Não muito empolgada com o primeiro contato com a luta, ela resolveu parar de treinar logo no início, decisão que a ajudou a perceber a afinidade que estava criando com o esporte. "Foi só depois que eu parei por um tempo que eu senti falta e me apeguei", ela explica. No ano seguinte, assim que os treinos puderam ser retomados com o abrandamento das medidas de distanciamento por conta da pandemia, Verônica retornou, determinada a dar uma nova chance para a arte marcial.
"No começo foi muito difícil. Eu não sabia de nada, só apanhava. Apanhei muito. Quando chegava em casa, esperava minha mãe dormir para começar a chorar de tanto que tinham me batido no treino. Aos poucos, fui criando força", explica Biquinho. "Agora é ela que coloca os outros para apanhar", complementa, brincando, Márcio Meleca.
O mestre, que tem 39 anos e já foi nove vezes campeão brasileiro de kickboxing, viu o potencial da jovem e decidiu investir na sua carreira. Batizou-a com seu atual apelido de luta - inspirado pela expressão de "biquinho" que fazia durante os confrontos - e a motivou a se inscrever nos torneios competitivos pelos quais ele mesmo passou no início da própria trajetória. E assim se iniciou a coleção de medalhas de Verônica, cada uma delas sempre acompanhada por muita luta na arrecadação de verba para participar dos campeonatos.
"Para o primeiro campeonato que participei fora, lá no Espírito Santo, eu fiz uma rifa. Como eu não tinha nenhum apoio, comprei uma daquelas cartelinhas de rifa, com espaço para os nomes, e fui vendendo sozinha. Vendi pelas ruas e consegui vender tudo. Acabei não conseguindo o resultado que esperava lá, mas no próximo que a gente foi, em Maringá, eu conversei com algumas pessoas para ter apoios. Falei com a Fátima Salgados, que doou kits festa pra sortear, e com o Alex da Farmácia Para Todos, que ajuda com o transporte", conta a lutadora, bolsista nos treinos do Mestre Meleca.
Apesar do suporte dos comerciantes locais, a atleta ainda encontra algumas negativas na hora de procurar por apoios. Essa etapa, para o professor, é a mais difícil. "Bate um pouco de desânimo para arrecadar alguma coisa. É sempre muito difícil e nem sempre a gente consegue. Aqui no Catarina tem muito comércio, muita gente, mas não é sempre que o pessoal chega junto, muita gente não apoia. Fica difícil. Estamos correndo atrás ao máximo para conseguir juntar pro torneio em dezembro", desabafa Márcio.
Mesmo com todos esses contratempos, os atletas continuam se esforçando para participar do máximo de lutas o possível. O próprio Márcio, já faixa preta e bastante envolvido com a rotina de ensinos e mentoria, não quer abrir mão de participar dos torneios profissionais em que ainda pode competir. O esforço, eles explicam, é motivado pela paixão ao esporte e pelo potencial de transformação que encontraram na vida de lutadores.
Verônica, por exemplo, se orgulha em dizer que o contato com a luta mudou totalmente seus sonhos e metas pessoais para os anos vindouros. "Não pensava em nada para o futuro. No máximo, fazer um cursinho de informática e ver no que ia dar. Agora eu quero me profissionalizar na luta, me formar em educação física. Um dos meus maiores sonhos é ser campeã mundial. Quero dar uma vida melhor, uma casa melhor e uma condição melhor para minha mãe e meus 8 irmãos", compartilha a adolescente.
Tanto o Campeonato Pan-Americano como o Sul-americano de Kickboxing acontecem entre os dias 6 e 10 de dezembro, em Foz do Iguaçu, no Paraná. Interessados em ajudar a dupla podem doar qualquer valor através da vaquinha online, no link https://www.vakinha.com.br/4104402.
Rifas e outras formas de arrecadação são compartilhadas pelos atletas nos seus perfis do Instagram, @veronicabastz e @marciomeleca. As aulas da "Tropa do Meleca" acontecem na Rua Finlândia, n° 110, no Jardim Catarina.