Incrível!! João Luka, 'cria' do futebol em SG, vence câncer 3 vezes e volta a jogar profissionalmente (vídeo)
Atacante é um caso raro de superação. Sua história ganhou corrente de solidariedade, com apoio do zagueiro Davi Luiz, do Flamengo, entre outros. Último jogo oficial será nessa quinta-feira (14)
min de leitura | Escrito por Sergio Soares | 13 de novembro de 2024 - 17:24
Ele é um dos milhões de 'Joões' espalhados pelos quatro cantos do Brasil. Na infância, um garoto de vida simples e 'cria' do futebol de São Gonçalo, cheio talento e de sonhos, que queria vencer, para ajudar a família, e também se transformar em referência no esporte de preferência nacional. Mas quis o destino que o 'mundo da bola' girasse, não exatamente como o atacante queria, mas o submetesse a um drama que parecia sem fim, o levando a interromper, já em plena atividade, na Europa, a promissora carreira para se tratar do câncer em em duas ocasiões, meses após ser diagnosticado pela primeira vez com a doença no Brasil.
João Luka não apenas conseguiu a vitória mais expressiva da vida, ao superar o câncer três vezes, e levar uma vida normal, como também está dando continuidade ao sonho de menino. Sua incrível história, de portador de uma doença grave e desenganado, ao retorno ao futebol, pôde ser comprovada através da rotina de treinos no Niteroiense, clube da antiga capital do Estado do Rio recém promovido à Terceira Divisão do futebol profissional, que lhe abriu as portas para o reingresso. Nessa quinta-feira (14), o atacante fará contra o Bonsucesso, na casa do adversário, no Estádio Leonidas Silva, no Rio, seu último jogo oficial pelo clube da antiga capital. João agora terá uma nova missão. Vai virar um empresário de atletas, mostrando sua vida como experiência, os encaminhando e ajudando a vencer no futebol e na vida.
"Quero estimular as pessoas a buscarem a superação, mostrando que é possível conseguir a felicidade, mesmo com as maiores dificuldades que o destino lhe impõe", afirmou ele, que buscou na fé e no apoio de poucos amigos o estímulo para enfrentar o drama que viveu. João Luka voltou a viver em São Gonçalo, onde veio morar com a família, vindo do Rio, quando tinha apenas dois anos. Começava então, uma linda história do pequeno João, que viria a virar mais um grande representante do futebol brasileiro para o mundo.
História - Nascido no bairro carioca de Botafogo, em junho 1988, o menino foi registrado pelos pais como João Luíz de Sá Miranda. Ainda pequeno, logo chamou a atenção devido ao grande interesse quando via uma bola de futebol. E aos primeiros chutes, começava ali, sua trajetória no esporte.
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João veio morar em São Gonçalo, no bairro do Paraíso, aos 2 anos, com família. E bem jovem já despontava nas divisões de base de times profissionais conhecidos, exatamente pelo grande talento e instinto goleador. O primeiro deles foi Flamengo. O atacante jogou nessas categorias na Portuguesa (RJ), Bonsucesso, Macaé e América (RN). Com apenas 17 anos, se profissionalizou no Bela Vista e graças à boas performance, assinou com o clube Clube Atlético Peñarol, de Manaus (AM), em 2009. Com habilidade acima da média nos dribles e lançamentos, e visão privilegiada de jogo, acabou despertando o interesse em outros clubes e empresários no Brasil e no exterior, ganhando experiências e melhorando seu currículo.
Ainda em 2009, começou a carreira internacional ao ser contratado pelo Noisy-le-Grand Football Club, na França, onde ficou até 2011. Depois seguiu alternando passagens no futebol brasileiro pelo Barretos Esporte Clube (2012/2013), e Fernandópolis (2013/2014), de São Paulo, até voltar novamente ao exterior, pelo Al Musanah (2014), de Omã, no Oriente Médio, onde passou por uma das melhores fases da carreira.
Em 2016, estava no Palmeira Goianinha, no Rio Grande do Norte (2016), quando descobriu o primeiro câncer, em um dos testículos, que tratou e curou no Hospital Garfree Guingle, na Tijuca no Rio. Aliviado, nesse mesmo ano, ele voltou então à França, cheio de planos de dar continuidade à carreira profissional e logo foi contratado pelo Villemomble. A fase era tão boa que ele começou a chamar atenção, não apena de equipes daquele pais, mais outras de fora, como o famoso Las Vegas City, dos Estados Unidos. Na última partida pelo clube frânces, o drama. Ele sentiu fortes dores no abdomen, foi hospitalizado após a partida acabou tendo diagnosticado outro tumor, dessa vez, embaixo do pâncreas.
Câncer - "Já estava com contrato em mãos e ia jogar na equipe americana. Fui desenganado pelos médicos, que me deram duas semanas de vida", revelou ele, que longe da família, teve apoio de pessoas de comunidades brasileiras e francesas para combater a doença em hospitais da França. Ali começava, uma longa e dura rotina, com longo tratamento de quimioterapia, até a retirada do tumor. Foi aí que a corrente de solidariedade em torno do drama de João cresceu muito, com manifestações públicas de jogadores com Léo Mattos, Davi Luiz, Paulo César, Arouca e Kayke Moreno, entre outros.
Artéria rompida - João chegou voltar a treinar no Noisy Le Grand e três meses depois, acabou sendo surpreendido mais uma vez, ao ser diagnosticado com o terceiro câncer, em 2017, na região próxima ao intestino. Foi nessa fase que mais sofreu, chegando a ficar com 38 quilos. E a situação que já seria grave e delicada, ficou ainda pior, logo após a segunda cirurgia. O procedimento médico foi um sucesso, mas o jogador teve a artéria aorta rompida quando se recuperava, no quarto onde estava internado, em um hospital de Paris, e chegou a ser dado como clinicamente morto.
"Comecei a ter dificuldades em respirar, sem forças sequer para pedir socorro. Nesse momento, a enfermeira entrou no quarto e ao perceber a gravidade da situação, conseguiu mobilizar rapidamente a equipe médica e fui submetido a uma nova e delicada cirurgia para estancar a perda sanguínea. Conseguiram me salvar", relembrou João. O atleta acredita que só tenha conseguido superar o câncer pelo fato de ser uma pessoa de fé e ter recebido atendimento de bons profissionais.
Luta pela volta - Nos meses posteriores, João começava a enfrentar, ainda na França, mais uma fase difícil, quando após passar por sessões de quimioterapia, acabou tendo que se submeter a um tratamento avançado, como se fosse se submeter a um transplante de medula óssea, em 2018.
A proximidade com a família, acabou sendo um dos pilares para que o atleta continuasse a luta pela recuperação. Vieram então as sessões de fisioterapia, atividades físicas e musculação, que foram mantidas na voltar ao Brasil, ao longo dos anos de 2019 e 2020. Em solo brasileiro, recebeu grande apoio do amigo e fisioterapeuta Vinicius Tartaglia, na Clínica Saúde Corpus, em São Gonçalo. Um ano depois, em meio à pandemia do coronavírus, voltou à França para novos acompanhamentos hospitalares de prevenção contra o câncer.
No ano de 2023, finalmente voltou a treinar no Clube Aschamps Football, onde até hoje é embaixador. Nesse mesmo ano, chegou a iniciar entendimentos e treinar no Rio Branco, no Acre, no início de 2024. Mas seu destino foi o Niteróiense, a partir de meados desse ano, para a última e derradeira temporada, aceitando um convite do presidente André Luiz.
"Agradeço a toda diretoria, comissão técnica e companheiros de equipe, não apenas por jogar futebol, minha maior paixão, mas também fazer amigos e crescer, tanto como atleta, quanto ser humano', afirmou João, que confessa estar ansioso pelo momento especial a ser vivido nessa quinta-feira, contra o Bonsucesso, em jogo válido pela Terceira Divisão do futebol profissional do Estado do Rio.
Um dos grandes amigos de João, Clayton Divina, que como ele, fez história no futebol, com passagens por vários clubes do Brasil, após ser revelado junto com Ronaldinho Fenômeno, no São Cristóvão (RJ), deu palavras de incentivo. "Acho que a milagrosa recuperação dele vem das mãos de Deus. E nada é por acaso. Uma pessoa boa e perseverante como ele só poderia colher bons frutos", declarou.
Após a aposentadoria, João Luka vai começar a trabalhar como empresário de atletas, com foco no Brasil e também no exterior. E para isso, irá morar na França e trabalhar com os advogados André Alves Fernandes, Rodrigo Austorian Avocats e Márcio Pires. "É bom poder continuar no futebol", enfatizou.
Milagre - A milagrosa recuperação do atacante, é considerada um caso caso raro nos meios médicos. A médica e professora universitária aposentada da Universidade Federal Fluminense, Eunice Martins, acredita que o fato de João ser uma pessoa adepta de exercícios físicos, - com alimentação controlada, e hábitos saudáveis, com horários determinados para repouso - possa ter sido determinante para a sua recuperação.
"O fato dele ter procurado logo o tratamento em unidades com estrutura moderna e tecnologia avançada certamente fez toda a diferença e determinou sua cura", afirmou Eunice.
O que é o câncer - O câncer é um conjunto de mais de 100 doenças que se caracterizam pelo crescimento desordenado de células, que podem formar tumores e invadir tecidos e órgãos. A doença surge quando as células normais sofrem uma alteração no DNA, o que é chamado de mutação genética. Essas alterações podem ser causadas por fatores internos ou externos, como: Tabagismo, obesidade, alcoolismo, alimentação não saudável, Exposição excessiva ao sol, exposição à radiação, Exposição a agentes químicos e Infecções virais.
Os tipos de câncer mais comuns variam de acordo com o sexo. Em mulheres, os mais comuns são: mama, pulmão, cólon e reto, útero e melanoma. Já em homens são: próstata, pulmão, cólon e reto, bexiga urinária e melanoma.
O câncer é uma das principais causas de morte no mundo. Quanto mais cedo for descoberto, mais eficiente será o tratamento e maiores as chances de sobrevivência.