Amigos transformam hobby em empresa e inovam a gastronomia de SG; conheça a Usina Parrilla!
Reportagem da série ''A História de Cada lugar' visita restaurante na Parada 40 inaugurado durante a pandemia
O clássico churrasquinho de fim de semana, tradição familiar em diversas regiões do país, faz parte da rotina de vários moradores de São Gonçalo. Porém, para os amigos Hugo Rodrigues, de 38 anos, e Rafael Salgado, de 37, essa tradição é mais que um hobby. Hoje, os amigos levam o churrasco 'à sério' no restaurante que administram no bairro Parada 40, A Usina Parrilla.
O nome pode soar inusitado, já que, para os ouvidos brasileiros, a palavra 'parrilla' soa familiar mas não diz tanto quanto 'churrascaria'. "Uma das coisas que mais temi na hora de criar a marca foi esse lance de colocar a parrilla no nome comercial, porque nem todo mundo sabe. Muita gente que vem aqui pergunta: ‘mas o que é parrilla?’. A tradução literal é grade, grelha. Para os argentinos, é o que a gente aqui chama de churrasqueira", explica Hugo.
Na tradição latina, a diferença entre a parrilla, como chamam os argentinos, e a nossa churrasqueira está no lugar da brasa. Na técnica dos 'hermanos', a brasa é formada ao lado da grelha, ao invés de embaixo. A temperatura e o fogo são controlados pela proximidade das brasas e da carne. Apesar de comum em eventos da área, a peça tradicional do churrasco latino é rara nos restaurantes locais.
"Já trabalhei com parrilla, mas só em eventos, não em restaurante. Em São Gonçalo, acho que o primeiro restaurante com parrilla fixa foi aqui", conta o churrasqueiro Elisandro Pereira, de 33 anos, que trabalha no local. Apesar do protagonismo da parrilla, porém, Elisandro e toda a equipe do local também precisam lidar com outros personagens do churrasco internacional.
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"A gente mistura o churrasco portenho, que pega influências do Uruguai e da Argentina, com o estilo americano, no defumado do pitsmoker, e o brasileiro, com aquelas coisas que só tem no nosso churrasco: cupim, coração de galinha, pão de alho", comenta Hugo, que teve a ideia de misturar e reunir todos esses estilos durante a pandemia.
Ele conta que o espaço, um amplo salão na rua Dr. Francisco Portela, funcionava, até não muito tempo atrás, como uma oficina mecânica. Quando o inquilino do local devolveu o terreno para ele, o empreendedor resolveu arriscar um pouco e transformar o gosto por preparar uma boa carne em seu novo negócio, mesmo sem experiência profissional no ramo dos restaurantes.
"Sempre fui entusiasta do churrasco e decidi montar alguma coisa relacionada. Já estava um burburinho de bares na região, aí tive a ideia de montar um bar de churrasco. Chamei o Rafael Salgado, que é chef e especializado nisso, e ele comprou a ideia", relembra Hugo, que, apesar de também meter a mão na massa vez e outra, deixa a parte mais gastronômica com o colega, que conheceu através de amigos em comum na época que estava preparando a ideia da Usina.
Rafael, por sua vez, apesar de ganhar a vida como servidor público em Niterói, já tinha uma experiência de vários anos trabalhando com comida. Além disso, desde 2016, ele vinha se dedicando especificamente ao churrasco. Na Usina, ele encontrou a oportunidade de trabalhar não só com a entrega de pratos, mas com a construção de uma experiência gastronômica para quem visita. "Entregar uma experiência é muito melhor que qualquer coisa, permitir a pessoas ter aquele contato, aquele momento", acredita o chef.
A tal experiência da parrilharia já começa na rampa de entrada, com o metal do defumador pitsmoker dando um sinal do estilo visual encontrado lá dentro. A decoração e a estrutura do espaço misturam tendências do rústico e do industrial, com muitos detalhes em madeira e metal em cada canto. A ideia é de um clima acolhedor, mas que remete ao fabril, para combinar com o nome do espaço. No fundo, depois das mesas, ficam, de frente um para o outro, o bar e churrasqueira, ambos bem aparentes para que o cliente acompanhe o preparo tanto das bebidas quanto da comida.
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Muitas ideias para esse visual surgiram, confessa Hugo Rodrigues, de buscas por inspiração e referências na internet, ainda na época do auge da pandemia. Quando a crise sanitária começou a aliviar e permitir a flexibilização de público em estabelecimentos na cidade, em maio de 2021, os donos d'A Usina decidiram dar início ao projeto de vez.
"Fizemos alguns eventos-teste no início até a gente abrir efetivamente todo final de semana e, graças a Deus, não paramos desde então", celebra Rafael. Atualmente, A Usina funciona às sextas e sábados. Num futuro próximo, compartilham os proprietários, o restaurante deve abrir aos domingos também, com foco no horário de almoço.
Enquanto essa nova grade horária não chega, os domingos ficam dedicados, ocasionalmente, a workshops especiais de churrasco abertos ao público, onde os alunos aprendem enquanto comem e preparam as carnes. "Alguns domingos a gente organiza, vende uns passaportes. Às 8h da manhã o pessoal vem, toma café, e aí começam os professores a darem toda a parte teórica para, logo após, vir a parte prática, para a galera aprender a fazer os cortes, limpar uma carne e tal", esclarece Hugo.
Foi através de um evento desse tipo que o designer Matheus Gradella, de 31 anos, acabou se tornando funcionário do local. Ele começou a frequentar apenas para experimentar uma boa carne, se tornou amigo da ‘galera’ do espaço, estudou e hoje trabalha fazendo churrasco n’A Usina. “Hoje em dia eu faço até camisetas com estampas relacionadas ao churrasco”, revela Matheus, que associou o novo emprego a sua experiência com o design.
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Não são só os amantes de carnes e ‘churrascadas’ que encontram espaço por lá. Outro dos diferenciais do restaurante está nas bebidas. “A gente trabalha com uma variedade de cervejas artesanais e especiais: IPA, APA, Strong Ale. E temos uma carta com drinks que saem muito”, destaca, orgulhoso, Hugo. Entre os mais pedidos, estão um drink original da casa com bastante melancia, vodka e água de coco, e outro que mistura um uísque adocicado de mel com refrigerante de gengibre.
Resenha Degustativa
Entre as opções do menu, que inclui desde cortes específicos a burguers, o ‘carro-chefe’ é a Tábua Parrilleira, que reúne em um só prato chorizo na parrilla, linguiças, drumetes de frango e copa-lombo desfiado. As duas primeiras são bastante saborosas: o chorizo é macio, ao ponto, muito bem temperado, enquanto a linguiça é correta e traz um gostinho de churrasco caseiro bem vindo. Ambos são acima da média, mas perdem protagonismo quando comparados aos outros elementos do prato: o frango e, em especial, o porco.
As coxinhas da asa são um petisco ideal, daqueles que se comeria vários sem perceber. Têm um quê apimentado que é saboroso e picante sem deixar de ser acessível para quem tem medo de pimentas fortes. Mas a estrela do prato mesmo é o ‘pulled pork’, uma porção de copa-lombo suíno que deixa com vontade de lamber o prato. As muitas horas de defumação no pitsmoker não só guardam a suculência da carne durante a cocção mas também trazem um daqueles sabores que a gente não sabe muito bem como descrever, realça todo o sofisticado mix de temperos secos e convidam olfato e paladar a uma espécie de transcendência gustativa. É inesquecível.
Também vêm no prato um pão de alho inteiro, um potinho de barbecue bem clássico, uma salsa criolla com toques finos e sutis, e uma farofa de farinha panko bem crocante e divertida, traz uma leveza que amarra bem todo o prato junto. Juntando tudo com a porção de batatas fritas que acompanha o pedido, a Tábua sai a R$ 109, um preço mais do que justo levando em conta tanto a quantidade de comida, a variedade de carnes no mesmo prato e, acima de tudo, a qualidade.
Serviço
A Usina Parrilla fica localizada na rua Francisco Portela, 2414, na Parada 40, em São Gonçalo.
O restaurante funciona às sextas, de 18h a 00h, e aos sábados, de 12h a 00h.
➢ Este artigo não é um texto publicitário e reflete a opinião da repórter no momento em que visitou o estabelecimento. Valores e condições de atendimento podem sofrer alterações algum tempo depois da publicação.