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Conexão Pernambuco-Jardim Catarina, em São Gonçalo: conheça a história da rede 'Fátima Salgados'

Depois de várias tentativas, empreendedora se encontrou nos salgados e hoje administra três estabelecimentos

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 21 de abril de 2023 - 13:00
Maria de Fátima de Lavor, criadora da marca Fátima Salgados, se consolidou na região na área de gastronomia para eventos
Maria de Fátima de Lavor, criadora da marca Fátima Salgados, se consolidou na região na área de gastronomia para eventos -

Há alguns anos em São Gonçalo é difícil falar de salgadinhos para festa sem falar da Fátima Salgados. A lanchonete no bairro Jardim Catarina, que hoje tem unidades também no Pacheco e em Icaraí, em Niterói, se tornou uma referência na produção de salgados para eventos. Apesar disso, por mais que o nome estampe caixas e sacolas em diversas festinhas da região, nem todos os moradores de outros bairros pelo município sabe, de fato, quem é a tal Fátima dos salgados e como ela se tornou a dona de uma pequena rede que já levou salgadinhos e kit festas até para outros estados. Esta é mais uma reportagem da série 'A História de Cada Lugar'.

Por detrás da “Fátima Salgados”, há a Maria de Fátima de Lavor, uma pernambucana de 55 anos, moradora do Jardim Catarina que já trabalha com lanchonete há cerca de três décadas, ainda que com muitas interrupções. Conforme contou, em conversa com O SÃO GONÇALO, não foram poucas as vezes em que a empreendedora literalmente desistiu do ramo antes de se tornar uma referência local nele

O gosto pela culinária começou ao observar os avós na cozinha, ainda lá no Nordeste. A origem é um de seus principais orgulhos. “Eu sou nordestina, até porque só nordestino aguenta esse tanto de 'paulada' “, esclarece ela, logo de cara. Nascida na cidade de Serrita, em Pernambuco, Fátima era filha da última irmã da família a deixar a região. Em 1981, porém, quando Fátima estava no início de sua adolescência, a família decidiu seguir os outros irmãos e se mudar de vez para o Rio de Janeiro

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De lá, veio parar em São Gonçalo, no bairro Coelho, perto de onde ela arrumou seu primeiro emprego: embaladora de bolos em uma padaria no Alcântara, aos 15. Foi ali que tomou o gosto ou, como gosta de dizer, ‘se viciou’ pelo ramo. “Quando as pessoas falam: 'Ah, tô no meu primeiro emprego, é uma padaria', eu falo: 'é igual a cachaça, você vai se viciar'”, brinca.

Imagem ilustrativa da imagem Conexão Pernambuco-Jardim Catarina, em São Gonçalo: conheça a história da rede 'Fátima Salgados'
 

Ela chegou a se distanciar da área, trabalhando em laboratório, até meados dos anos 90, quando sua mãe, que tinha uma loja de produtos têxteis no Barcas Shopping de Niterói, a convidou para o que seria seu pontapé inicial no universo dos salgados e bolos.

“Um mês antes de a gente se casar, meu marido ficou desempregado. E levou um ano sem conseguir arrumar algo. Aí minha mãe começou a chamar para montar uma lanchonete lá, porque viu que não tinha nada de comida”, ela explica.

Uma familiar topou entrar na empreitada e, juntas, formaram uma sociedade para abrir a loja, que vendia lanches, bolos e sanduíches. “A loja explodiu, virou um sucesso em Niterói”, relembra Fátima, que também faz questão de destacar o esforço que havia por detrás do sucesso imediato: “Era muito trabalho e tudo muito corrido. A gente chegava lá às 6h da manhã e saía às 22h”.

Experiência traumática

Tudo ia muito bem até cerca de seis meses após a inauguração, quando a sociedade começou a dar seus primeiros sinais de instabilidade. Um tempo depois, a sociedade ruiu: “Lembro do dia, era uma segunda-feira. O telefone tocou; era uma advogada. Falou: 'Hoje, quando você sair, saia sem nada e deixe tudo aí, inclusive as chaves, porque a sociedade acabou'. Meu mundo caiu”, recorda Fátima.

Essa primeira experiência deixou um pequeno trauma na empreendedora, que acabou, em parte por conta disso, passando repetidas experiências de ‘abre e fecha’. Impactados pelo baque do fechamento, ela e o esposo, que já viviam no Catarina, decidiram ir morar em Niterói e tentar a sorte por lá com outra lanchonete. Dessa vez, o trabalho foi ainda mais árduo, apesar das boas vendas.

No meio disso, vieram dois filhos ‘emprestados’: os gêmeos Pedro e Lucas, filhos de uma funcionária e amiga. Essa amiga foi a ‘escolhida’ de Fátima para tomar conta do estabelecimento quando chegou sua própria vez de dar à luz, no ano 2000. O problema foi que, ao mesmo tempo em que Fátima ficou grávida do pequeno José Antônio, sua amiga, mãe dos gêmeos, entrou em uma nova gestação.

“Foi um desastre. Eu não podia trabalhar, ela não podia trabalhar e a cozinha cheia de gente nova. Eu consegui levar para a frente ainda por um ano a loja trabalhando com meu filho lá dentro, mas, quando  chegou 2002, que fiquei grávida de novo, da Maria Luísa, não deu. Como eu ia trabalhar com dois filhos; na verdade, quatro, com os gêmeos? Eu não consigo, ou eu sou mãe ou eu sou patroa”, conta.

De volta a São Gonçalo

Num ímpeto, ela decidiu voltar para o Jardim Catarina e fechar a loja em Niterói, mesmo no auge do movimento. “Estava dando um tiro no meu pé sem saber o que eu estava fazendo. Quando eu acordei para o que eu tinha feito, falei: 'E agora?'. Agora eram dois desempregados em casa com filhos e um monte de dívida”.

Enquanto ela pensava no que faria para resolver, seus clientes de Niterói sentiam falta dos salgados. Duas estudantes da UFF que frequentavam religiosamente seu estabelecimento a procuraram quando descobriram o fechamento e fizeram a proposta: “‘Se a gente te ligar pedindo para fazer salgadinhos para as nossas festas, a senhora aceita?’”.

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Com esse pedido, os salgadinhos da Fátima saíram da lanchonete e entraram de vez no círculo das festas, onde seguem fazendo sucesso até hoje. Ela conta que os kit festas, que vende desde que chegou a sua loja atual, são seu carro-chefe. Antes de chegar lá, porém, ela foi se tornando a “Fátima do salgado” - e, depois, “Fátima Salgados” - a partir das festas realizadas para suas clientes da UFF, que foram recomendando os salgadinhos para conhecidos, que por sua vez recomendavam a outros.

Em meio a recomeços

A certa altura, mesmo sem se organizar para montar um novo negócio, Fátima recebia diversas ligações por semana, de gente que nem conhecia, para fazer e fritar salgados para festas.

A dificuldade, porém, era o tempo e o dinheiro. As dívidas da loja fechada ainda batiam à porta e, para dar conta, Fátima enfatiza que contou com a ajuda de muita gente, desde vizinhos, como o “Seu Beto que sempre emprestava dinheiro”, até familiares, como sua sogra, que montou uma cozinha alguns anos antes, para que ela desse conta da demanda. Uma hora porém, ela não aguentou e, mais uma vez, desistiu dos salgados. Parou com as encomendas e foi trabalhar em uma padaria perto de casa.

“Acho que Deus me reciclou ali, me colocou lá [na padaria] para eu aprender e exercitar. Foram dois anos e meio onde aprendi muito, talvez nem se eu tivesse feito uma faculdade eu tivesse aprendido tanto", acredita.

Ela não nega que a falta de experiência e o impulso motivaram algumas de suas desistências pelo caminho mas, bastante religiosa, a empreendedora também acredita que cada uma dessas mudanças súbitas foi importante para que ela chegasse onde hoje está. 

Desistir não é opção

Por volta de 2008, um colega e cliente a quem ela tinha ajudado anos atrás, a procurou para oferecer uma loja. "'Quando eu precisei, você estendeu a mão. Agora, quero que você fique na loja'", disse a ela o amigo, que tinha um espaço no Jardim Catarina que estava reservado para que Fátima vendesse seus salgados. 

Receosa, ela conta que baseou a decisão de assumir a loja em duas coisas: a direção de Nossa Senhora, a quem pediu ajuda, e a observação do ponto de vendas, bastante movimentado. Com o auxílio do lucro de algumas encomendas de salgados, ela conseguiu acertar as últimas contas para assumir a lanchonete, contra a vontade do marido, que tinha medo de que a nova aventura desse errado novamente. 

Mais uma vez, uma lanchonete deu certo, mas a correria ameaçava tudo. Além do estabelecimento, Fátima também fazia encomendas de salgados semanalmente para uma paróquia do Alcântara e, com isso, mal tinha tempo para qualquer coisa que não envolvesse trabalho. Cansada, ela chegou a desistir de tudo mais uma vez, procurando a imobiliária para entregar o espaço. 

Mas quando seu marido se deu conta do lucro que as encomendas na igreja e a lanchonete estavam rendendo, decidiu motivá-la a continuar. "Quando meu marido viu o dinheiro que fazia só na igreja, veio desesperado: ‘Que dinheiro é esse? Você tem noção do quanto está rendendo?. Eu disse: 'Tenho, tô só trabalhando, mal consigo dormir, como que não sei?’. Chegou no outro dia, ele pediu contas no trabalho e veio trabalhar na loja comigo", ela explica. 

Desde então, o empreendimento só cresceu. Quando Fátima fechou as portas da lanchonete, foi para abrir um espaço ainda maior, no mesmo bairro. Os poucos funcionários se tornaram 54 famílias contratadas, que seguem o aval e as receitas da dona.

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"Eu primo muito pela qualidade. Sou fiel às minhas receitas, que são todas padronizadas. Qualquer um pode chegar lá e fazer. Eu não abro mão de marca, não troco nada porque está mais barato", ela conta. 

Hoje, ela conta também com o apoio dos filhos, que ajudam a dar conta da administração das outras duas lojas, mais novas, no Pacheco e em Icaraí. Apesar dos novos estabelecimentos em outros pontos, Fátima enfatiza que seu coração segue no Catarina. Ela se entristece com os estigmas do bairro, que criou uma má reputação em São Gonçalo por conta dos problemas de segurança pública, mas acredita que a região tem muito mais a oferecer do que isso. 

Resenha degustativa
 

Falar dos salgadinhos que o estabelecimento vende não é exatamente uma tarefa fácil. Ao escrever sobre gastronomia, a tendência é enfatizar o que há de diferencial, peculiar nos sabores. A proposta dos salgados da Fátima, como ela deixa bem claro, é o sabor clássico de um salgadinho. Ela mesmo credita a essa regularidade o sucesso; seu objetivo é fazer o "feijão com arroz" do clássico salgadinho de festa. 

Imagem ilustrativa da imagem Conexão Pernambuco-Jardim Catarina, em São Gonçalo: conheça a história da rede 'Fátima Salgados'
 

Nesse sentido, quem for experimentar esperando um salgado diferente pode se decepcionar. A principal força das coxinhas, quibes e bolinhas de queijo do estabelecimento é justamente o fato de serem feitos para agradar a todos. O nível de óleo é correto e a massa, crocante, não rouba espaço nem sabor do recheio. É daqueles salgadinhos que cumprem seu papel, que não ganham pelo fascínio, mas pela correção. Nos clássicos, é irrepreensível. 

O destaque, na opinião deste repórter, é o bolinho de feijoada; cremoso por dentro, bem temperado. A diversidade de salgadinhos também conquista; dos clássicos aos salgadinhos de camarão (os mais recheados do grupo), bolinhos de aipim com diferentes recheios. Em todos, o mesmo padrão de massa e fritura, assinalando o estilo tradicional do salgado e dando um senso de coesão ao kit. 

Imagem ilustrativa da imagem Conexão Pernambuco-Jardim Catarina, em São Gonçalo: conheça a história da rede 'Fátima Salgados'
 

Compõem o kit festas, também, os docinhos - corretos e bem variados - e as tortas. Os sabores são, também, variados; uma das mais bonitas da vitrine é a de nozes, confeitada com delicadeza e carregada, é claro, do sabor forte de nozes no recheio. Os kits vêm em tamanho diferentes e são daquele tipo de comida que só faz sentido, de verdade, quando experimentado no contexto de festas. Os valores dos kits festa variam a partir de R$ 110.

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Serviço

A lanchonete principal fica na Avenida Albino Imparato, lote 31, no Jardim Catarina. As outras ficam na rua Mariz e Barros, nº 230, próximo a esquina, em Icaraí; e na Estrada do Pacheco, nº 651.
Outras informações no Instagram: @fatimasalgadosbl


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➢ Este artigo não é um texto publicitário e reflete a opinião do repórter no momento da entrevista. Valores e condições de atendimento podem sofrer alterações algum tempo depois da publicação. 

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