Famílias se desesperam em incêndio na colônia de pescadores no Gradim: "como vamos viver?"
O prejuízo estimado pelos moradores é de R$ 200 mil
"Foi muito triste, o fogo consumiu tudo em 10 minutos, eu já chorei... sinto muito pelos meus amigos que perderam tudo". As palavras tristes são de Orivaldo Freire Alves, conhecido como Durval, presidente da Associação de Moradores e Pescadores do Porto Velho e suas Praias (Ampovep), localizada na colônia de pescadores do Gradim, bairro de São Gonçalo, que sofreu com um incêndio na madrugada desta quinta-feira (11). O fogo destruiu todas as casas e cabanas da região. Cerca de 10 famílias perderam suas casas e mais 10 perderam suas cabanas onde ficavam os materiais de pesca, como redes e motores de barco. O prejuízo estimado foi de mais de R$ 200 mil. O jornal O SÃO GONÇALO esteve no local e viu o desespero e a indignação de diversas famílias e crianças que não sabiam como reagir.
Um dos pescadores da região contou como as chamas tiveram início. "Eu vi o primeiro barraco pegando fogo, acredito que foi por causa de um curto-circuito, mas quando eu vi as chamas, comecei a acordar todo mundo que estava aqui e chamei os Bombeiros. Vi diversas casas derreterem durante a noite. O incêndio começou por volta das 2h30 da madrugada de quinta-feira (11), mas, em 10 minutos, o fogo já havia tomado a região", contou Carlos Augusto Barbosa de Moraes, de 66 anos, que trabalha como pescador há mais de 20 anos na região.
A família de Carlos, inclusive, mora em Rio das Ostras, mas o amor pela pescaria é tão grande, que ele preferiu ficar aqui por São Gonçalo. "O fogo levou, além da minha casa e dos meus eletrodomésticos, o dinheiro que eu estava guardando para os meus netos. Juntei quase R$ 2 mil e só sobraram as moedas queimadas", contou ele que sobrevive graças à pesca.
No incêndio não houve nenhum ferido. No entanto, muitas famílias perderam tudo o que tinham, incluindo casas, eletrodomésticos, alimentos, camas e roupas. Foi o caso da família de Vanessa Santos de Almeida. A autônoma de 29 anos é mãe de três filhos e teve sua casa consumida pelas chamas. "A minha sorte é que eu não estava em casa e não aconteceu nada com a gente, mas eu estava na casa do meu cunhado, no Rio, quando minha filha viu o vídeo do fogo na madrugada. Pensei em voltar para cá na hora, mas esperei amanhecer. Cheguei aqui e vi que perdemos tudo. É muito triste, como vamos viver? Eu e meu marido vamos ficar na nossa sogra, mas eu já não tinha condições anteriormente, estava contando com o auxílio, agora então, não sei como vai ser. Só nos restou o que estava na mala que eu fiz quando fomos na casa do meu cunhado", contou ela que tem um filho de 13 anos, outro de 10 e mais um de 5 anos e mora na região por sempre ter tido contato com a pescaria.
Um outro pescador do local contou que perdeu todos os seus equipamentos de pesca. "Eu vivo e trabalho com pescaria. Não moro aqui, mas, como muitos, guardo meus equipamentos de pesca aqui. Muita gente perdeu muita coisa. Só o motor de um vizinho daqui estava guardado em uma das cabanas que foi consumida pelas chamas, por exemplo, custava R$ 30 mil. Eu perdi o mesmo, pois, no incêndio, minhas redes de pesca foram destruídas. É o sustento de muitas famílias, para repor esse material só com bastante esforço. Graças a Deus o meu barco estava na água e não pegou fogo, mas vai demorar para conseguirmos lidar com tudo isso", contou ele.
Apesar de chegarem rapidamente ao local, ainda na madrugada, os Bombeiros precisaram lidar com as chamas e a fumaça até o período da manhã. Até o momento, a causa do incêndio não foi confirmada.
As famílias agora pensam em como sobreviverão à essa catástrofe. Durval contou o que deseja fazer daqui para a frente.
"Até o momento, não nos foi oferecido nenhum auxílio. Os Bombeiros vieram com dois caminhões-pipa apagar e não deu vazão. Mais de R$ 200 mil (em materiais) foram perdidos. A minha ideia é reunir o pessoal que morava e guardava seus equipamentos no local para podermos decidir o que fazer, mas é muito triste, vai ser complicado de recuperar tudo isso, espero que possamos ter a ajuda de algum órgão público no caso", contou ele.
Em nota, a Prefeitura Municipal de São Gonçalo comunicou que está prestando apoio às vítimas do incêndio que atingiu a colônia de pescadores do Gradim, na madrugada desta quinta-feira. "Numa ação integrada que envolve várias secretarias, o município irá verificar medidas a serem adotadas para amparar os profissionais que perderam barcos, motores, ferramentas e outros bens, além de auxiliar na emissão de documentos.
A Secretaria de Saúde e Defesa Civil enviou equipes cedo ao local, logo após ser informada, através do Corpo de Bombeiros, sobre o incidente. Segundo o subsecretário de Defesa Civil, coronel Fernando Rodrigues, foi realizada uma vistoria em toda a área para checar os riscos e as condições estruturais de algumas moradias próximas ao local destruído. Três imóveis foram vistoriados, mas não houve necessidade de interdição. Equipes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano também foram acionadas para ajudar na limpeza.
Agentes da Secretaria de Assistência Social iniciaram o trabalho de cadastro das 30 famílias que perderam suas moradias e também irão auxiliar na emissão de novos documentos, entre eles certidão de nascimento e de casamento, de forma gratuita. A pasta vai prestar assistência psicológica e jurídica aos atingidos.
O secretário de Assistência Social, Wagner Rodrigues Ventura, informou que nesta sexta-feira a secretaria prossegue o cadastramento dos moradores da colônia no programa Bolsa Família. A oferta de um abrigo provisório em escola da rede municipal foi recusada pelas famílias, que estão em casa de parentes. A Secretaria de Habitação também está fazendo o cadastro das famílias que perderam suas moradias.
O secretário municipal de Agricultura e Pesca, Roberto Sales, também esteve no local e informou que a Pasta irá realizar um levantamento detalhado a partir desta quinta-feira para verificar as medidas a serem adotadas para amparar os profissionais que perderam seus bens", dizia o comunicado.