Covid-19: dados mostram que gonçalenses e niteroienses não tomaram a segunda dose do imunizante
A segunda dose das vacinas é tão importante quanto a primeira
A vacinação contra a Covid-19 ainda é um grande tabu para muitas pessoas em Niterói e São Gonçalo. Isso porque muitos se recusam a tomar a vacina ou, até aqueles que já tomaram a primeira dose do imunizante, não retornam aos pontos de vacinação para tomar a segunda rodada. Isso tem preocupado autoridades de saúde, já que a falta da vacina nas pessoas faz com que a imunização nos municípios seja menor e, consequentemente, o número de infectados e mortos pelo vírus continue crescendo. O governo tem cumprido sua parte em fornecer os mais diversos imunizantes, incluindo CoronaVac, Pfizer, Astrazenica e Johnson & Johnson, mas agora a população tem sofrido com pessoas que possuem medo ou se baseiam em notícias falsas do tema para evitar a vacina. Pensando nisso, o jornal O SÃO GONÇALO conversou com especialistas para explicar melhor o funcionamento da vacina.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Niterói, até o momento, cerca de 278.775 niteroienses já tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19, isso representa mais de 50% da população da região, mas, apenas 99.264 pessoas receberam a segunda dose do imunizante. Tirando aquelas pessoas que ainda estão no intervalo entre as doses da vacina, os considerados "atrasados para a vacinação", ou seja, que não retornaram aos postos mesmo já estando no prazo recomendado para tomar a segunda dose, formam 4% da população. Ou seja, são 4% das pessoas que acabam colocando em risco a sua vida e a de parentes próximos.
Em São Gonçalo, o número de pessoas atrasadas na vacinação também é grande. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo, o município já vacinou 367.642 pessoas. Até o último sábado (26), no entanto, apenas 141.705 pessoas tomaram a segunda dose das vacinas. Segundo as contas do órgão público, também deixando de fora aqueles que ainda estão no prazo entre a primeira e a segunda dose, 950 pessoas já deveriam ter tomado a segunda dose do imunizante, mas não retornaram as postos para cumprir esse ato.
A professora assistente na Faculdade de Formação de Professores da Universidade Estado do Rio de Janeiro e mestre em Microbiologia/ Imunologia pelo Instituto de Microbiologia Paulo de Góes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Monica Antonia Saad Ferreira, explicou como funciona a vacina da Covid-19 e ressaltou a importância da segunda dose nas vacinas que pedem duas doses, exceto a Johnson & Johnson que funciona com dose única.
"A vacina contra Covid-19 funciona como qualquer outra vacina, ou seja, tem como objetivo estimular uma resposta imunológica, produzindo anticorpos e outros tipos de células que fazem parte do sistema imune, contra o agente causador da doença, nesse caso, o vírus SARS Cov-2. A vacina prepara nosso organismo para que este, ao entrar em contato com o vírus que causa Covid-19, esteja programado para "lutar" contra esse vírus de forma mais eficaz. Todas as vacinas existentes contra o vírus SARS Cov-2 são capazes de proteger contra as formas graves dessa doença. Isso quer dizer que, quem se vacina tem chances muito baixas de internação, intubação e quase nula de ir a óbito por Covid -19 ( até o momento todos os estudos referentes aos diferentes tipos de vacinas demonstraram 100% de eficácia contra óbitos por Covid-19 em indivíduos vacinados)", disse ela.
A profissional também explicou que a vacina vem sendo importante para as pessoas há anos, também para outras doenças. "As vacinas são consideradas as principais aliadas na prevenção de diversas doenças e junto com outras ações sanitárias, no caso da Covid-19, como o uso correto de máscara, lavagem frequente ou utilização de álcool em gel nas mãos, isolamento e distanciamento social, se tornam responsáveis pelo controle e eliminação da doença. Muitas outras enfermidades, por exemplo, sarampo, poliomielite, varíola, só conseguiram ser erradicadas através da vacinação em massa da população. Mas, para que essa estratégia continue a ser eficiente, é preciso que as pessoas colaborem e se vacinem, pois, só quando atingirmos um percentual elevado de indivíduos vacinados, aproximadamente 70% a 80%, conseguiremos diminuir drasticamente o impacto dessa pandemia. Quando o percentual de vacinados não é alto o suficiente, o agente causador da doença, nesse caso o SARS Cov-2, se espalha com facilidade. Porém, quando a cobertura é alta e uma pessoa adoece, mas no ambiente onde ela vive há vários vacinados e consequentemente imunizados, o vírus não consegue circular", disse ela.
A mestre acredita que muitas pessoas tem tido medo de se vacinar contra a Covid-19 e isso ocorre em decorrência de algumas fake news (notícias falsas) que circulam pela internet. "A resistência diante da possibilidade de ser vacinado, muitas vezes motivada pela desinformação, informações incorretas, fake news, já é um problema real que preocupa profissionais da área de saúde, incluindo médicos e pesquisadores. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 9% da população não quer se vacinar contra Covid-19. Infelizmente, não é uma tendência exclusiva do povo brasileiro. A crescente expansão de grupos antivacina nas redes sociais, uma parte delas no Brasil, fazem circular uma série de informações falsas a respeito das vacinas contra Covid-19, tais como: 1) alteração do DNA, 2) contém na sua composição células de fetos abortados, 3) implantação de microchips em seres humanos, 4) morte de voluntários e outras mais. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre o que chamou de "infodemia", as famosas teorias da conspiração. Gostaria de expor que, esse desserviço feito por esses grupos só vem aumentando os números de casos e óbitos pela doença. Não há, até o momento, nenhum tratamento precoce para Covid -19. Nenhum fármaco se mostrou eficiente muito menos tratamentos caseiros", explicou ela.
Sobre as fake news, Monica deu algumas dicas de como lidar com elas e detectar uma notícia falsas. "Primeiramente, avaliar de forma crítica qualquer alegação contra a vacina. Mas como podemos fazer isso? Checando a fonte da informação, principalmente se for uma fonte anônima. Existem sites oficiais que se propõem ao esclarecimento dessas fake news. Por isso, as pessoas precisam se informar melhor quando recebem mensagens duvidosas em grupos de redes sociais antes de passa-las adiante. O combate à antivacinação tem sido uma luta constante , e é preciso conscientizar a população que as fake news sobre a vacina da Covid-19 têm consequências muito sérias para saúde pública mundial", justificou ela.
Monica deu dicas para aqueles que tem medo ou receio de tomar a vacina contra a Covid-19. "Desde o início da pandemia de COVID -19, cientistas de todo mundo tem unido esforços para desenvolver vacinas capazes de conter o novo coronavírus e evitar mais mortes. Uma dúvida muito frequente e que acarreta no receio de tomar o imunizante é a "rapidez" com que as vacinas contra Covid - 19 foram desenvolvidas e quais os possíveis efeitos colaterais. Gostaria de elucidar alguns pontos importantes: Vacinas, remontam de séculos. As técnicas utilizadas para o desenvolvimento das vacinas para Covid -19 já vem sendo estudadas e algumas utilizadas há décadas. O que foi feito foram "adaptações" para o SARS Cov-2. A vacina CoronaVac, por exemplo, utiliza a mesma técnica da vacina da gripe. As outras vacinas utilizam técnicas, como a biologia molecular, que já são estudadas há muitos anos. Desde a gripe espanhola, 1918, a pandemia do SARS Cov-2 é a primeira que afetou o mundo em tamanha proporção. Lembrando que, atualmente, a ciência dispõe de inúmeras ferramentas capaz de proporcionar o desenvolvimento rápido dessas vacinas e que nunca se investiu tanto dinheiro pra que isso tivesse ocorrido. Mesmo com esse curto período, todas as vacinas disponíveis foram testadas para garantir a segurança da população e liberadas por agências de saúde competentes. Efeitos adversos e colaterais podem, sim, ocorrer, mas como em qualquer outra vacina que já existe há décadas e faz parte do nosso esquema de vacinação. Esses efeitos são tão raros de acontecer que não justificam não tomar a vacina. O risco de contrair a doença e desenvolver a forma grave é muito maior. Vale lembrar que vacinar é um ato coletivo, além da sua proteção pessoal, você estará protegendo algumas pessoas que fazem parte de grupos que não podem tomar vacina. Portanto, se você quer que a vida volte ao normal: vacine-se! ", afirmou ela.
Ao final, ela ressaltou como a segunda dose das vacinas que pedem esse reforço é necessária e salva vidas. "O propósito da vacina é fazer com que o indivíduo esteja preparado para "lutar" contra o vírus . Quando a vacina é introduzida no organismo, esse precisa de um tempo para que a resposta imune se inicie e se torne eficaz. O organismo precisa reconhecer o que está sendo introduzido como um agente estranho e assim montar uma resposta. Apenas uma vacina, a Janssen, se mostrou eficiente com apenas uma dose. As demais, precisam de uma segunda dose com certo intervalo de tempo, depende da vacina em questão, pra completar o ciclo. Traduzindo, quando se toma a primeira dose da vacina é a primeira apresentação desse agente estranho ao nosso sistema imune. Nesse primeiro encontro as nossas células do sistema imune já começam a ser acionadas e montar uma resposta. Contudo, os estudos mostraram que uma segunda dose, em um certo intervalo de tempo aumenta a eficácia da vacina, deixando o indivíduo mais protegido: daí a importância de tomá-la. Se você já tomou a primeira dose e por algum motivo atrasou a segunda, não tem problema, o ideal é respeitar o intervalo imposto pelo fabricante da vacina, mas você ainda pode tomar a segunda dose e garantir a sua imunidade completa", finalizou.
As prefeituras do Rio, incluindo São Gonçalo e Niterói, seguem aplicando as primeiras e segunda doses das vacinas contra o coronavírus (incluindo também a vacina da Johnson & Johnson com dose única). Por isso, procure nos sites dos órgãos públicos o calendário de vacinação e, caso você esteja apto para tomar o imunizante, vá até o posto de vacinação mais próximo de sua casa e se imunize. Salve a sua vida e a de quem você ama.