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São Gonçalo tem apenas uma livraria de rua em funcionamento: sabe onde fica?

Conheça a história da livraria Ler é Arte e da proprietária apaixonada por literatura

relogio min de leitura | Escrito por Cyntia Fonseca e Beatriz Machado | 20 de julho de 2021 - 12:47
Virgínia Siqueira, dona da livraria Ler é Arte
Virgínia Siqueira, dona da livraria Ler é Arte -

O último censo divulgado pelo IBGE (2020) confirma: são 1.091.737 pessoas habitando no município de São Gonçalo. Sim, mais de 1 milhão de habitantes e somente uma livraria de rua em funcionamento. Parece que a conta não fecha. E por pouco quem não fechou foi exatamente esse único estabelecimento dedicado aos livros: a Livraria Ler é Arte chegou próximo de encerrar suas atividades por conta da crise gerada pela pandemia em 2020.

Isso só não aconteceu porque escritores da cidade, incentivados pelos autores Erick Bernardes ('Panapaná: Contos sombrios' e 'Cambada: crônicas de papa-goiabas') e Mário Lima Jr  ('Casa de Agonia: A Rotina Na Marinha Do Brasil') se uniram e promoveram a campanha virtual "A Ler é Arte precisa de um respirador", o que possibilitou a livraria manter as portas abertas. Mas as dificuldades foram superadas mês a mês, como conta Virgínia Siqueira, dona do estabelecimento. 

"Os escritores gonçalenses foram minha maior motivação para seguir em frente no momento de crise, eu queria um espaço onde eu pudesse expor suas obras, dar a visibilidade que eles merecem e estar a frente disso, garantindo que acontecesse, e a boa notícia é que deu certo".

Em outubro de 2020, o cenário que estava cinzento para o estabelecimento, clareou. A Ler é Arte ganhou o Prêmio Flisgo de Cidadania Cultural, na categoria Literatura. Em paralelo, a campanha gerou mais divulgação da livraria, localizada na Galeria Matriz, no Zé Garoto. Muita gente que não sabia de sua existência na cidade, "descobriu" a Ler é Arte, apesar de ter sido fundada em 2005; e com isso, os elos entre autores do município e novos leitores ficaram mais fortalecidos desde então.

No entanto, ainda são muitos os fatores que afastam o mercado dos livros no município do cenário ideal. Virgínia chama atenção para um deles: o fato de os livros físicos serem ainda produtos considerados caros para o grande público. Tudo piorou, quando há exatamente um ano, os livros tiveram próximos de terem seu custo ainda maior no país, com a perda da isenção de impostos. Pela proposta de reforma tributária, apresentada pelo governo federal, os livros, que hoje são isentos de impostos pela Constituição Federal de 1988 e, desde o ano de 2014, têm alíquota zero de PIS/Cofins, passariam a ser taxados em 12% pela Contribuição de Bens e Serviços (CBS). 

Questionado na época sobre suas afirmações polêmicas sobre o assunto, o então ministro Paulo Guedes afirmou que iriam doar livros para os "pobres e frágeis", mas os ricos deveriam pagar impostos sobre os livros. Desde então, enquanto a proposta não é aprovada, uma petição online já reúne mais de 1,5 milhões de assinaturas contra a PL. 

A pandemia do coronavírus também teve um peso importante na piora do setor. Com a alta do valor de aluguel, uma outra livraria pertencente a uma grande rede, localizada dentro de um shopping, não resistiu e fechou as portas. 

Segundo especialistas, porém, tanto a falta de livrarias quanto de incentivos culturais para a literatura local não é um problema atual, mas histórico. É só relembrar o fim de aparelhos governamentais do setor como a Biblioteca Pública Municipal, que ficava no Centro Cultural Joaquim Lavourão, que fechou em março de 2019 e reabriu no Mutondo, em um local de menor procura; e o Projeto ‘Mais Leitura’, fruto de uma parceria da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia com a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, encerrado em 2017. 

Mas engana-se quem pensa que tantos contras minimizam os prós idealizados por Virgínia. Aos 62 anos, com uma vida dedicada à sua paixão pela leitura, Virgínia não pretende desistir. A livraria é vista por ela como uma filha, tão nítido é o carinho que possui pelos livros e o quanto seus olhos brilham ao falar deles. 

Em meio às centenas de exemplares, dos infantis aos clássicos, está uma estante inteira dedicada exclusivamente aos autores gonçalenses e de municípios circunvizinhos. Entre eles, Virgínia recomenda atualmente a leitura do romance 'Macumba', do autor Rodrigo Santos. 

Dos internacionais, a dica é 'Mulherzinha', da norte-americana Louisa May Alcott.

"Ao contrário do que muitos pensam, a procura por livros pelo público mais jovem só cresce. Com as redes sociais, me sinto mais próxima dos clientes, recebo muitas mensagens diariamente sobre buscas de determinados exemplares", completa a livreira, que revela estar adorando viver essa atualização tecnológica.

A livraria Ler é Arte atende também pelo Instagram (https://www.instagram.com/lereartelivraria/) e pelo site Bom de Livros (https://www.bomdelivros.com.br/ler-e-arte/?ref=3847).

Como tudo começou

Virgínia Siqueira trabalhava numa loja de CD, mas carregava em si desde sempre uma paixão por literatura, participava de eventos e clubes do livro. Ela conta que a ideia partiu de duas amigas há 16 anos, Fátima e Glória, suas ex sócias. Ambas posteriormente precisaram dedicar um tempo à mãe, assim desfazendo a sociedade. Hoje grande ajuda vem de sua família. 

Os principais livros vendidos no início eram os escolares, e desde que as escolas passaram e ter contato direto com as editoras, passou a fornecer outras literaturas.

A Ler é Arte fica na Galeria Matriz, no Zé Garoto, São Gonçalo. Endereço: Coronel Moreira César, 97, loja 10. Em Frente à Igreja Matriz.

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