Mãe desabafa após criança morrer em caixa d'água : " Eu não desejo essa dor para ninguém!"
Mãe deixou a criança aos cuidados dos irmãos mais velhos
"Meu filho estava dormindo. Eu estava trabalhando e quando cheguei, por volta das 22h30, dei falta dele. As outras crianças estavam brincando no portão e ele era para estar dormindo. Eu procurei tudo, até que quando cheguei no meu quarto meu coração gritou para olhar na cisterna. Eu liguei a lanterna do celular e olhei. E vi meu filho lá. Era para ele tá dormindo, gente. Eu deixei ele dormindo para trabalhar do lado de casa. Eu não desejo essa dor para ninguém. Meu filhinho só queria a festa do Capitão América e não vai poder ter". Em meio a lágrimas e sendo amparada por amigos e familiares, essas foram as palavras de Carla Bento de Sá, de 31 anos, mãe do pequeno João Lucas de Sá Felix, de somente três anos, que morreu afogado, ao cair numa cisterna, no quintal de sua casa, no Caramujo, Zona Norte de Niterói.
O caso aconteceu na noite desta segunda-feira (26), enquanto a mãe trabalhava num bar ao lado de casa, para poder sustentar os cinco filhos, que cria sozinha, sem ajuda.
Para poder sustentar os filhos, que tem idades entre 14 e 5, além do caçula, que tinha somente três anos, Carla faz faxinas durante o dia e trabalha como garçonete num bar ao lado de casa durante a noite.
Ao longo do expediente a mãe de família conseguia "correr" em casa para ver os filhos, que tinham hábito de brincar no portão de casa.
"Essa noite o João já estava dormindo. Eu deixei ele no quartinho dele, quietinho já. Ele estava dormindo, mas deve ter levantado, me procurado, não sei", contou a jovem, tentando entender o que aconteceu.
Mesmo com toda dor, Carla, que precisou de apoio para se manter de pé durante a entrevista, na porta do Instituto Médico Legal (IML), do Barreto, mandou uma mensagem de alerta para os outros pais.
"Por favor, você mãe, você pai, que tem caixa d'água, cisterna, piscina, tenham atenção aos seus filhos. É num piscar de olhos. Meu bebê estava dormindo. Tenham atenção. Essa dor de perder um filho é insuportável e eu não queria que ninguém mais sentisse", alertou Carla.
Assustada com os possíveis julgamentos a mãe também esclareceu que não deixou o filho sozinho. "Ele estava com os irmãos e eu estava ao lado de casa. Toda hora indo e vindo para ver eles. Eu trabalho muito para sustentar meus cinco filhos. Sozinha, sem ajuda. Eu e eles para tudo. E essa é a realidade de muitas mães sozinhas, que precisam trabalhar", desabafou.
O pequeno João Lucas faria quatro anos em setembro. Para comemorar a faxineira já juntava dinheiro para realizar a tão sonhada festinha do Capitão América. "Ele queria muito. Só falava disso, e eu ia fazer. Já estava juntando o dinheiro e ele ia ter a festinha dele", contou.
Simpático, alegre e muito querido, o pequeno João Lucas deixou saudade não só na mãe.
"Todo mundo tá muito abalado. Ele era uma criança incrível ", contou uma amiga, que acompanhou a Carla no IML.
O corpo da criança ainda não foi liberado do IML e a família ainda não sabe horário e local para o sepultamento.