Placa 'Aqui Mora um Autista': entenda e saiba como combater o preconceito!
O preconceito coloca pais e crianças em situações desconfortáveis
Receber o diagnóstico de que seu filho tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ocasionar uma mudança na rotina de pais e tutores. Mas, o principal problema enfrentado hoje por essas crianças e responsáveis é o preconceito. As crianças autistas podem ter alguns comportamentos diferenciados ou até se expressar com gritos quando passam por uma situação que as gere desconforto ou algum tipo de gatilho o que, muitas vezes, não é comprendido por pessoas fora do seio familiar. Pensando nessa questão, surgiram, recentemente, plaquinhas com os dizeres "Aqui mora um autista" que podem ser colocadas nas portas das casas das crianças com TEA. Isso pode ajudar e fazer com que as pessoas tomem conhecimento e entendam quando presenciarem ou escutarem algum som diferenciado vindo daquele lar.
O Transtorno do Autismo é caracterizado pela criança que sente dificuldade na comunicação e, muitas vezes, na compreensão do que é falado, além de um prejuízo na socialização dela e uma necessidade de rotinas. As plaquinhas criadas ainda dão um conselho importante: "Se ouvir gritos, choros e barulhos altos RESPEITE, pois estou no meu momento de crise. Aceitar é uma escolha sua! Respeitar é um dever de todos!". As plaquinhas são vendidas na internet, mas também são comercializadas pela psicóloga Wanessa Berba, diretora do Espaço Crescer, em Niterói.
A ideia de Wanessa também é debater esse preconceito que as mães de crianças autistas sentem. " Como o autismo não tem cara, a criança não tem uma aparência sindrómica, as pessoas na rua veem uma criança autista em crise e acham que é falta de limite dos pais, que a criança não é educada em casa e, por isso, muitos pais de autistas optam pela conscientização, pelo cordão para crianças autistas e pela placa, por exemplo", contou ela.
Em sua clínica, Wanessa atende 600 pacientes entre crianças, adultos e adolescentes. Já se tratando de autistas, são 150 atendidos. Desse número, diversos são os pais que relatam preconceitos contra seus filhos, principalmente em espaços públicos, mas um caso chamou a atenção: o da técnica de enfermagem Lúcia Marins, mãe do pequeno Benjamin, de 6 anos, diagnosticado com TEA.
No final de setembro, ela foi vítima de preconceito dentro de sua própria casa. Lúcia contou ao OSG que seu filho tem uma frustação grande com coisas que quebram, que ele sempre quer consertar ou secar algo que está molhado e isso desencadeia 'crises' nele. No dia em questão, o pequeno derrubou óleo bronzeador no chão de cimento do quintal e queria secar o líquido, mas Lúcia explicou que não teria como e que ele poderia esperar o sol secar o local naturalmente.
"Foi aí que ele começou a falar que queria consertar e gritou "enxuga, mamãe" e eu disse que não tinha como. Nesse momento, ele começou a ter a crise e começou a gritar e se bater. Eu não sabia se tentava limpar logo o chão para acabar com aquilo ou se eu segurava o Benjanim pelos pulsos. Ele é uma criança forte e conseguiu me agredir no rosto. Foi uma das crises mais intensas que passamos. Ele chorava por sofrer agoniado com o que ele gostaria que estivesse em ordem e eu chorava por ver o meu filho sofrer, por apanhar dele e ter que enfrentar tudo sozinha. Um tempo depois, um vizinho chegou na minha casa falando que havia um policial me esperando do lado de fora, quando encontrei o agente, ele disse que eu havia sido denunciada por maus tratos. Ele pediu pra ver meu filho e expliquei que o Benjamin é uma criança autista e estava no meio de uma de suas crises e que, por isso, gritava, mas a pessoa que me denunciou agiu de má-fé. Para mim, esse foi um momento muito difícil de superar até hoje", contou a mãe da criança já emocionada.
Lúcia disse que a ideia das plaquinhas surge como uma possível ajuda e 'luz no final do túnel' para que outros entendam que crianças autistas (assim como outras) gritam, chutam e choram. "Eu não tenho uma plaquinha dessa, mas eu gostaria, sinto que vai ajudar muito a pessoas que são ignorantes e não conhecem mais sobre o transtorno. O meu filho foi diagnosticado em novembro do ano passado e vem se cuidando com especialistas desde então, mas muita gente não entende, acha que eu não o educo, chamam ele de 'doente', de 'mal educado', pois não sabem que ele é autista na rua, e eu recebo muitos olhares de críticas, até na minha igreja. Essa do policial foi a primeira vez, mas foi um episódio muito marcante. Eu não sabia parar de chorar, primeiro pelo meu filho, depois por ver os policiais com a mão na arma na cintura pedindo para entrar na minha casa, como se eu fosse uma agressora do meu próprio filho, sem contar pelo constrangimento. Foi muito difícil explicar que se tratava de uma criança autista em mais um habitual momento de crise”, contou a mãe da criança. Lúcia também tem outros dois filhos mais velhos.
A fundadora da ONG Espaço do Autista, em São Gonçalo, Márcia Medeiros disse que conhece as placas em questão há algum tempo e que elas realmente ajudam nos casos de crianças autistas.
Acho importante todo movimento de conscientização. Conheço sim algumas famílias que usam a placa e ela é realmente útil, porque muitas das vezes o vizinho nem sabe que naquela família existe uma pessoa com autismo. Acho que a placa não só deveria reduzir o preconceito, como também, sensibilizar os vizinhos a darem um apoio a essa família, pois é muito difícil e desgastante cuidar de uma criança que demanda cuidado em tempo integral, então, oferecer apoio também é muito importante", contou ela que é administradora e psicanalista em formação.
Ela relata que muitos pais a procuram para contar o preconceito que seus filhos autistas sofrem. "Já ficamos sabendo de diversos casos onde a criança está tendo uma crise, então, ela grita, se bate ou bate com a cabeça ou outras partes do corpo em móveis ou paredes, e os vizinhos, por não saberem o que está se passando, acabam por chamar a polícia, acreditando que a criança está sendo agredida pelo responsável, quando na verdade esse responsável está fazendo o máximo para evitar que esse indivíduo não se machuque. Nossa luta pela conscientização é para que todos saibam que as nossas crianças e seus familiares merecem respeito, o cumprimento de seus direitos adquiridos por lei, e que é fundamental que todos compreendam as barreiras sociais como elemento central a ser quebrado. Gostaria de aproveitar esse espaço para pedir um pouco mais de empatia e apoio a essas famílias, que os amigos, vizinhos e familiares ofereçam suporte e acolhimento, ao invés de julgamento e distanciamento. Uma palavra amiga e um abraço são muito importantes. As mães precisam de acolhimento, precisam ser ouvidas e não julgadas, precisam de um abraço, de apoio", afirmou Márcia.
Serviço:
O Espaço Crescer ficar localizado na Centro Médico Niterói Shopping, na Rua da Conceição, número 188, no 3º andar - Salas 315 a 318 - Centro, Niterói. O empreendimento abrirá um segundo espaço no Plaza Shopping Niterói.
Já a ONG Espaço do Autista fica na Rua Dr. Gradim, no número 456, no Porto da Madama, em São Gonçalo.