Uma luz que não se apagará
"Dona Marlene sempre será nossa inspiração"
Existem pessoas que no percurso que fazem em suas vidas, tornam-se faróis que iluminam muitas outras vidas. Assim é a Professora Marlene Salgado de Oliveira. Quando escrevo "assim é", é porque Professora Marlene permanecerá viva em seus muitos legados e na família que seguirá honrando o seu nome.
Cordeirense de berço, adotou São Gonçalo como a terra sagrada onde plantou os alicerces do Colégio Dom Hélder Câmara e da UNIVERSO. Vindo depois para Niterói, não cortou os laços com São Gonçalo, assim como manteve o coração em permanente conexão com o município em que nasceu, dedicando o seu carinho à Fazenda Santa Clara e aos trabalhadores da mesma.
Não é fácil escrever sobre alguém que admiramos profundamente e respeitosamente. A biografia dela é daquelas que só um livro de muitas páginas e fotografias pode narrar. Sim, centenas de páginas e milhares de fotos.
Lembro-me dela em seu gabinete de REITORA, tomando o seu café e afirmando, "o meu maior orgulho são os meus filhos, que tornaram-se seguidores da minha obra e estão sabendo multiplicá-la". Adorava falar sobre Wellington e as pipas, Jefferson e os animais e Wallace com a capacidade de agir rápido. Era a MÃE falando e derramando o coração. Na hora do café, à tardinha, o seu gabinete transformava-se numa roda de conversa em que se falava desde os avanços científicos até a toalhinha de prato bordada, que comprara na rua para ajudar uma senhorinha.
Sempre foi destemida. Não teve medo de abrir caminhos e enfrentar situações de confrontos com o poder estabelecido. Defensora de suas ideias, conviveu durante todo o tempo com pessoas e profissionais que pensavam diferentemente dela e terminava as conversas sempre citando os muitos livros que lia, as entrevistas que assistia, os congressos dos quais participava, as palestras que fazia, as publicações do Diário Oficial e as decisões do Conselho Nacional de Educação.
Professora Marlene Salgado de Oliveira, vó apaixonada pelos netos e alegre ao falar da bisneta, era uma outra personalidade. Os netos e a bisneta eram assuntos para o aconchego da sua casa. Os seus afetos de vó e bisavó eram sagrados e íntimos, preservados no recôndito do coração.
Eu escrevo aqui, sob o impacto da notícia de sua partida. Sei que muitos e muitas escreverão sobre suas realizações em inúmeros outros aspectos e que não sou poucos. Trabalhou incessantemente. Descansava pouco. Como ela própria diz em seu livro, "não vim ao mundo a passeio". Verdade, veio para fazer história e gerar resultados transformadores em milhares de vidas que estudaram nas instituições em que trabalhou ou que criou ao lado do Professor Joaquim de Oliveira e com os filhos Wellington, Jefferson e Wallace. Juntos eles estabeleceram-se Brasil afora e possibilitaram que muita gente fosse agregada ao empreendimento educacional que dirigem.
Professora Marlene Salgado de Oliveira permanecerá como um farol a iluminar os caminhos que ainda serão trilhados pela família, amigos, colaboradores e sua Comunidade Acadêmica UNIVERSO e UNITRI. Como diz a Professora Jaína de Mello Ferreira, "Dona Marlene sempre será nossa inspiração".
Estamos no mês de maio e convém lembrar que durante mais de 50 anos a Professora Marlene celebrou seu aniversário com almoços beneficentes em prol do amado Abrigo Cristo Redentor, em São Gonçalo. Após o almoço, na companhia dos alunos do Colégio Dom Hélder Câmara, ela juntava-se aos idosos abrigados para cantar parabéns para os aniversariantes do mês. Era muito abraçada e abraçava igualmente. Tornava-se ali uma aniversariante como os demais moradores do Abrigo. Muitas vezes testemunhei as lágrimas em seus olhos.
A Professora colaborava em muitas causas com discrição. Sempre orientava que não divulgassem. Um certa vez, entrei em seu gabinete e relatei-lhe que a Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Portão do Rosa, estava sendo reformada, mas que não tinham recursos para revestirem o altar. Imediatamente ela fez o cheque no valor necessário e pediu para que eu entregasse. Quando eu já me despedia rumo à Capela, ela me disse, "eu te conheço muito bem, não vai sair por aí contando para as pessoas que fui eu que ajudei. Esta doação é para Nossa Senhora. Não quero divulgação".
Pois bem, hoje eu estou contando para todos. Hoje Professora Marlene fez uma travessia e eu que fui portador de tantas entregas de envelopes com donativos, não estive no seu velório para revelar algumas dessas delicadezas e demonstrações de solidariedade e empatia, mas como nasci pertinho do Portão do Rosa, quero lhe agradecer pelo lindo revestimento em madeira do altar da Capela Nossa Senhora da Conceição. Estamos em maio, mês tão reverenciado pelos devotos de Nossa Senhora. E aqui entre nós, eu tenho convicção que a Senhora já está na companhia da sua Santa de devoção e já começou a falar bem dos seus filhos para Ela.
Aqui guardaremos o seu sorriso, suas memórias e seus legados. Boas conversas com Nossa Senhora!
João Luiz de Souza.
Assessor de Cultura da ASOEC/UNIVERSO/UNITRI