Série Podcasts: Conheça mais 4 programas que movimentam o cenário na região
Sucesso da mídia tem estimulado produção de conteúdo em São Gonçalo e cidades próximas
Há algumas décadas, produzir conteúdo em áudio significava fazer parte, de alguma forma, do disputado cenário das emissoras de rádio. Hoje, bastam um microfone, acesso a internet e uma boa ideia para que uma voz possa ser transmitida e ouvida nos mais remotos cantos do consumo de áudio. A febre dos podcasts que tomou o mundo nos últimos anos chegou ao Brasil e, como visto na reportagem da semana passada, a São Gonçalo também.
Na Região Metropolitana, o estouro da nova mídia impulsionou o trabalho de artistas e personalidades do cenário cultural, que aproveitam as possibilidades da transmissão sonora para fortalecer a cena artístico na região. Muitos desses novos produtores, como alguns dos entrevistados da semana passada, utilizam especificamente o subgênero da ‘entrevista em podcast’ para revelar ao mundo o talento de figuras que não encontrariam espaço na mídia tradicional e hegemônica.
Para alguns, isso significa criar do zero uma nova forma de fazer mídia, atenta às demandas locais. Essa é a ideia por trás da Ponto TV, produtora do ‘Partiu Podcast’. Idealizado pelo ator e produtor Marcos Vinny, de 38 anos, o selo tem a proposta de criar conteúdo televisivo original por e para gonçalenses. ‘Partiu’ é uma espécie de projeto piloto, o primeiro trabalho do selo.
"A ideia do Marcos era fazer uma TV independente em São Gonçalo, aí ele montou esse selo, chamado Ponto TV. Dentro dele funciona o Partiu Podcast”, explica Rodrigo Souza, ator e apresentador de 27 anos que atua como host do programa. Ao lado de Marcos e de Gabriel Siqueira, co-host e operador de câmera na atração, ele recebe diversos artistas do município em um estúdio improvisado no bairro do Rocha.
“O principal desafio para fazer um podcast por conta própria é a falta de patrocínio. Tudo o que a gente precisa para dar um conforto para os convidados fica bem mais complicado [de se conseguir]”, confessa Rodrigo. Ainda assim, o desafio vale a pena quando o assunto é revelar talentos que ainda não tiveram a chance de serem conhecidos pelo resto do mundo. “A nossa ideia é dar voz a quem não tem voz. A gente tem levado pessoas que estão envolvidas com a cultura de São Gonçalo, que fazem algo diferente aqui e não tem visibilidade”, declara o apresentador.
O critério para determinar que artista se encaixa nesse quadro leva em conta o interesse de quem acompanha o programa. “Se o convidado tiver um bom conteúdo, que vai agregar na vida de quem vai assistir, a gente leva, independentemente de ser famoso ou não”, afirma o host. Isso não impede os criadores de sonharem, é claro. Se pudessem escolher qualquer entrevistado para levar, Rodrigo admite que chamariam Rodrigo Santoro para um bate-papo na Ponto TV. Nas condições atuais, porém, todos os participantes estão mais do que felizes em representar os prodígios da região.
10 a 10
Não são apenas os produtores independentes que abraçaram essa missão. A equipe do podcast ‘10 a 10’, feito pela Rádio Mania, segue uma proposta bastante parecida com a de trabalhos como o ‘Partiu’, mas em um contexto de produção mais complexo e em uma emissora de amplo alcance.
“Queremos fazer um podcast pra todos, envolver tudo aquilo que seja importante pro cenário nacional. [A ideia é] dar voz a quem precisa, escutar não só pessoas famosas, mas também pessoas que lutam por causas, negócios locais, parlamentares. E, claro, trazer notícias e, principalmente, entretenimento”, assegura Márcio André Filho, empreendedor e sambista de 32 anos que apresenta o show.
Márcio conta que a ideia de mostrar a intimidade dos artistas que passam pela rádio e abordar temas importantes chamou sua atenção. Ele foi escolhido para atuar como host pela emissora carioca, ao lado do diretor geral Wallace Salgado Jr. O formato também é o do ‘mesacast’, escolhido por conta do sucesso no mercado - o que não significa que não haja outras ideias a serem testadas em breve. “Temos algumas surpresas que queremos moldar e inovar”, compartilha Márcio.
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Seja para experimentar ou para fazer a ‘magia’ acontecer do jeito tradicional, a ajuda da emissora é indispensável. “Se não fosse pela Mania, [o podcast] seria algo inviável de ser feito. Não só em termos de investimento financeiro, mas também em termos de equipe. É preciso ter uma equipe muito qualificada e de grandes profissionais para montar um projeto bacana. O 10 a 10 requer tempo e entrega de todos; não só de nós apresentadores, mas de todos os envolvidos para sair algo especial”, revela o host.
Nichos específicos
Além das empresas e veículos de comunicação, outras instituições também têm se interessado em explorar a mídia para pensar outros assuntos para além das pautas de entretenimento. O ‘Nas Trajetórias do Sinbiose’, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), leva a pesquisa científica para as plataformas de áudio.
O projeto foi concebido pela 'Sinbiose Trajetórias', equipe de pesquisa do Centro de Síntese em biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Apresentado pela jornalista Marcelle Chagas, de 38 anos, a ideia é divulgar o trabalho científico inovador do grupo para um grande público através do podcasting.
"Com o crescente interesse da população pelos podcasts e com o objetivo de tornar o conhecimento científico mais acessível aos estudantes e pesquisadores da área, decidimos usar a mídia. Entendemos que o conhecimento precisa também ser palatável para causar impacto", acredita Marcelle
Para a tarefa, ela alia sua experiência na comunicação com o interesse pelo campo de estudos. "Eu fui repórter e apresentadora de rádio durante muito tempo. E, apesar de toda a inovação na estrutura do podcast, eu já tinha familiaridade com o tema", conta. Essa combinação tem ajudado o trabalho a chegar exatamente onde pretende. "O feedback tem sido positivo e, apesar do tema ser um tanto complexo, temos conseguido atingir o objetivo", celebra a jornalista.
Literatura
Outro profissional de uma área diferente que experimenta com a comunicação para transmitir conhecimento é Renato Cardoso, professor de 43 anos que, há mais de uma década, participa como ativista cultural da cena artística de São Gonçalo através de diversos projetos. Depois de 10 anos à frente de um sarau de poesias itinerante e da experiência como editor de revistas literárias como a Suplemento Araçá, Renato viu no novo formato uma forma de levar a intervenção artística local para novos caminhos.
"Explorar o audiovisual era um desejo que eu tinha desde algum tempo. Só não sabia como iria fazer, mas a pandemia veio para nos ensinar. Como eu já estava fazendo gravação de videoaulas para atender ao trabalho de professor, eu resolvi estender isso para um canal no YouTube”, conta o educador, que leciona literatura e língua inglesa em colégios da cidade.
Desse canal nasceu o LiteraWeb, um programa híbrido de conteúdos em áudio e vídeo que traz a participação de diferentes artistas do município e de regiões adjacentes. "Ali a gente tem desde jovens que estão começando a vida literária a uma galera que já tem anos de estrada percorrida [no cenário]", explica Renato, que traz parte da experiência com programas de rádio local para agregar ao projeto colaborativo.
Inicialmente, o LiteraWeb focava em fortalecer o trabalho de artistas gonçalenses durante o período de crise que a pandemia do coronavírus trouxe para a classe. Aos poucos, a proporção foi aumentando, e hoje pessoas de outras regiões também participam dos programas.
Com esse crescimento, amplia-se o efeito positivo da atração e do uso da mídia na vida do município. "Todo projeto bem estruturado acaba impactando a vida cultural e artística de um determinado local", considera Renato. A ideia de trabalhos como o dele é, através do podcast, usar esse impacto de maneira positiva na vida e na arte de quem precisa dele: "Toda e qualquer ajuda que você puder dar a um artista local para que ele possa dar visibilidade à sua arte é sempre positiva".
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*Sob supervisão de Cyntia Fonseca