Série Podcasts: Produtores da região unem vídeo e podcasting em programas independentes
Criadores de conteúdo de São Gonçalo e Itaboraí levam mídia para além das plataformas de áudio com 'videocasts'
Quando começou a se consolidar como mídia, em meados da década de 2000, podcast era sinônimo de programa em áudio. Nos últimos anos, porém, o sucesso das plataformas de vídeo fez com que o formato fosse ganhando novas possibilidades. Quando o ‘boom’ da produção de podcasts finalmente chegou, o audiovisual ajudou a consolidar e catapultar a fama de várias produções do estilo.
Como um dos quatro países que mais consome Youtube no mundo (de acordo com levantamento global da Statista), o Brasil inevitavelmente acabou tendo a produção de vídeos online associada de alguma maneira a quase todo tipo de criação de conteúdo. Para podcasters de atrações em pequena escala, abraçar o vídeo pode significar uma forma única de impulsionar o trabalho e levá-los para caminhos que vão além das plataformas de áudio.
PAPO DU BOM
Era nisso que Bruno Eduardo, de 29 anos, acreditava quando escolheu produzir seu programa, o 'Papo Du Bom', diretamente para o YouTube. “A visibilidade que o ‘ao vivo’ proporciona é muito importante, faz o trabalho crescer de uma forma muito grande”, comenta o fisioterapeuta gonçalense que criou o programa.
As transmissões de vídeo ao vivo acontecem nas segundas-feiras, às 15h, sempre com Bruno na cadeira de ‘host’ e algum entrevistado do município ou da região conversando sobre seu trabalho. “Levamos pessoas que estão na correria do dia a dia: vereadores, deputados, dentistas, vendedores, músicos… Não dá para manter um padrão. As coisas vão acontecendo e a agenda vai sendo montada”, explica o apresentador.
A ideia de trazer tanta gente diferente é contrariar as expectativas negativas sobre a cidade e criar um espaço “onde gonçalenses possam se orgulhar em ver que tem algo sendo feito com carinho e dedicação na cidade, levando informação e promovendo pessoas e empresas da região”.
Para cumprir essa missão, o ‘Papo Du Bom’ aproveita a versatilidade da cobertura em vídeo para, ocasionalmente, fazer entrevistas fora das quatro paredes do estúdio. “O programa também acontece nas ruas. Cobrimos alguns eventos e isso exige todo um preparo especial. Somos o primeiro [podcast da cidade] a cobrir eventos externos”, se orgulha o criador de conteúdo.
Explorar os caminhos da produção de vídeos foi o que uniu uma outra dupla de criadores em uma das cidades vizinhas de São Gonçalo, Itaboraí. Carlos Alexandre, de 31 anos, e Maurício Garcez, de 30, já realizavam vídeos para a internet em canais diferentes quando resolveram de unir forças em um trabalho conjunto.
DIALOCAST
O primeiro fazia vídeos de pegadinha e humor, enquanto o segundo participava de um canal de jornalismo esportivo. Acabaram se conhecendo quando começaram a trabalhar na mesma farmácia; Carlos como entregador e Maurício como balconista. Quando não estão cumprindo suas obrigações no estabelecimento, os dois estão recebendo convidados no ‘Dialocast’, o videocast de entrevista que exibem em seu canal ‘Dialogando’.
“O objetivo do podcast foi unir duas personalidades diferentes e criar um cenário diferente dos podcasts que já existem”, destaca a dupla, que planeja fazer o projeto crescer até conseguirem se dedicar apenas ao conteúdo digital. Para chegar lá, apostam no uso do vídeo: “usar a plataforma [do YouTube] nos permite ampliar o leque de oportunidades que ambos queremos buscar. Hoje, tudo é movido através da internet”.
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No meio do caminho, acabam atravessando alguns obstáculos, é claro. Entre eles, estão a mudança de estúdio pela qual estão passando e a falta de apoio do público local, que, “muitas das vezes, valoriza mais o que é dos outros do que o que é próprio, que é da sua ‘casa’”. Ainda assim, eles seguem com o sonho pioneiro em Itaboraí, movidos pela energia dos espectadores que já acompanham. "Nosso público é o que nos motiva a continuar e a mudar em todos os programas”, afirmam os dois apresentadores.
INSANO PODCAST
Lidar com os desafios práticos é algo que a equipe do 'Insano Podcast', outro trabalho independente em vídeo na região metropolitana, entende bem. O programa de entrevistas criado e apresentado pelo publicitário Leonardo Leão por vezes se esbarra com uma das principais intempéries de realizar uma atração de qualidade em vídeo: o ritmo e as demandas do YouTube.
"A gente sabe que, para alimentar a plataforma, precisamos de constância, o que no nosso caso é bem caro, requer investimento. Não adianta apresentar qualquer tipo de trabalho. A gente não pode ter um som ou uma imagem ruins. Prezamos por uma estrutura, o que é difícil de manter", desabafa Leonardo, que também é músico e empreendedor, dono de uma barbearia no bairro de Santa Catarina.
Foi de suas vocações que ele tirou a ideia para iniciar o projeto. "A gente via esse fenômeno do podcast com material em vídeo ganhando maior proporção. Eu, como músico e empreendedor, via que São Gonçalo ficava um pouco distante disso. Quando tocava de forma mais frequente, tinha uma certa dificuldade de encontrar 'meios' de me apresentar [por aqui], tudo era mais para o Rio e Niterói. São Gonçalo não tinha esse espaço para quem gostava de fazer cultura e empreender", conta. Para suprir essa lacuna, ele idealizou o projeto, que convida artistas e pequenos empresários para contarem suas trajetórias e inspirarem os ouvintes.
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O critério para escolher cada convidado é esse potencial para a inspiração. "A gente já trouxe gente de cidades circunvizinhas - Niterói, Maricá, Itaboraí - mas a prioridade é para convidados de São Gonçalo e que sejam inspiração, de alguma forma, para outra pessoa que está começando e passando pelas mesmas dificuldades", define Leonardo.
A meta de inspirar o ouvinte é o que o produtor tem em mente quando precisa pagar o aluguel do estúdio onde grava ou resolver algum problema técnico. Até o momento, o podcast ainda não tem condições de se sustentar por conta própria. Mesmo assim, Leonardo segue com o projeto, com a convicção de que seu objetivo vale mais do que as dificuldades e a falta de lucro. “Lógico que, se a gente puder viver disso, a gente vai viver. Mas, até o momento, a gente faz 100% pela vontade de contar mais histórias, e de dar ‘mais voz’ ao pessoal da cidade”, encerra o apresentador.
ESCRITORAS VIVAS
Outro projeto de videocast que acaba de nascer em São Gonçalo é o do coletivo Escritoras Vivas. O primeiro episódio foi ao ar no Youtube na última semana. O projeto se propõe a ser mais um 'braço' de fortalecimento e empoderamento de mulheres escritoras da região. Num bate-papo descontraído, as "três mosqueteiras" do coletivo Yonara Costa, Suzane Silveira e Cyntia Fonseca recebem uma convidada especial para um bate-papo descontraído sobre escrita, livros, mercado editorial em geral e novidades do meio literário de São Gonçalo e cidades próximas.
O episódio um foi gravado no Empório Vírgula, no Boaçu, estabelecimento parceiro do coletivo. A primeira entrevistada foi a estudante e escritora Clara Kappaun, que também integra o 'Escritoras Vivas'. Os episódios terão frequência mensal, sempre trazendo uma escritora e complementando outras ações do coletivo como lançamento de livros, café literário, saraus.
"Ainda estamos engatinhando nessa mídia, foi uma ideia que surgiu numa conversa, de repente, e colocamos em prática, por nós mesmas. O objetivo é evoluir aos poucos ainda na parte tecnológica, estudar mais sobre edição de vídeo, melhores equipamentos, mas estamos muito empolgadas e já consideramos o primeiro episódio um sucesso", resume a jornalista Cyntia Fonseca.
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*Sob supervisão de Thiago Soares