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Moradora de Itaboraí é impedida de realizar exame para tratar câncer por bloqueios de rodovias

Idosa perdeu exame marcado por conta de interdição em vias durante protestos pró-Bolsonaro

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 03 de novembro de 2022 - 17:55
Exame para tratar de câncer seria realizado em INCA de Vila Isabel; acesso para unidade estava impedido
Exame para tratar de câncer seria realizado em INCA de Vila Isabel; acesso para unidade estava impedido -

Uma mulher de 67 anos, moradora do município de Itaboraí, foi impossibilitada de comparecer a um exame marcado para tratar de um câncer nas mamas por conta dos bloqueios em rodovias realizados durante protestos contrários ao resultado das eleições presidenciais.

O procedimento estava marcado para a manhã da última terça-feira (01/11), em uma unidade do INCA (Instituto Nacional de Câncer) no bairro de Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Enquanto se preparava para ir, porém, foi avisada pelo motorista que a levaria de que as vias próximas ao seu bairro haviam sido totalmente interditadas por manifestantes.

“O motorista falou que não tinha como levar porque a pista estava fechada. Na entrada do bairro onde moro, tinham pneus pegando fogo”, conta a senhora, que, de início, ainda cogitou tentar mesmo assim. “Como tenho síndrome do pânico, pressão alta e glicose alta, fiquei com medo de ir, mas pensei: ‘tenho que ir’, porque não queria voltar para o fim da fila [do exame] de novo. Mas não tinha como ir, estava tudo fechado”.

A neta da pensionista, que preferiu que não fossem identificadas, explica que os bloqueios na rodovia Niterói-Manilha e em outros trechos próximos impediam a avó de acessar qualquer outro município. "Para fazer qualquer coisa ela precisa passar por ali, para ir para o Rio, Niterói, São Gonçalo. São cerca de 50 km da casa dela até o hospital em Vila Isabel”, relata.

O exame a ser realizado era uma biópsia, necessária para iniciar o tratamento contra a doença, descoberta em agosto. “Essa biópsia não é comum. Na minha mama esquerda, era necessário fazer uma ‘mini-cirurgia’ para recolher o material. O tratamento só pode começar depois do resultado da biópsia”, esclarece.

Antes de conseguir marcar no Hospital do Câncer do INCA, com o auxílio da Secretaria de Saúde de seu município, ela chegou a tentar fazer o procedimento em outras unidades pelo Sistema Único de Saúde, sem sucesso. “A gente não tinha condições financeiras de fazer a biópsia pelo particular, precisamos recorrer ao SUS”, compartilha a neta.

Para o exame, a pensionista precisou seguir algumas orientações prévias específicas, além das despesas pessoais. “Preparei tudo, tratei tudo para conseguir um motorista para me levar, com a ajuda dos meus filhos e amigos. Na hora em que a gente começa a conseguir resolver alguma coisa, acontece isso”, lamenta a senhora.

Agora, ela aguarda uma remarcação, solicitada no mesmo dia. Segundo a atendente do INCA com quem falou, seu exame será reposicionado para a data mais próxima possível. “Tô com medo de conseguir marcar e a situação não ter melhorado com os protestos. Não quero perder de novo. Estou sentindo muita dor na mama, nos braços, nas costas”, conta.

Os bloqueios na região já foram desfeitos, mas protestos continuam acontecendo. Enquanto isso, a idosa segue aguardando, preocupada com os rumos que as manifestações podem tomar e os efeitos que podem ter na vida da população.

“Não é só por mim; fico pensando nas pessoas que estão piores que eu. Não sou só eu que estou doente. Além disso, a situação toda é muito ruim. É triste ver as pessoas não aceitarem derrota, ver as pessoas brigando por causa disso, só pensando em si mesmo”, conclui.

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