Viradouro brilha com enredo sobre Rosa Maria Egipcíaca e sonha com título
Niteroiense foi última escola a desfilar e resgatou história de santa escravizada na avenida
Os desfiles do Grupo Especial chegaram ao fim na madrugada desta terça-feira (21/02) com um show da Unidos da Viradouro, a representante da Região Metropolitana na categoria, que homenageou a história de Rosa Maria Egípciaca em sua apresentação. A personagem histórica, que foi de escravizada e meretriz a santa e primeira mulher preta a escrever um livro no Brasil, foi celebrada no enredo, que levou seu nome.
O carnavalesco Tarcísio Zanon contou ao OSG que o objetivo com a apresentação era de finalmente fazer justiça a uma figura histórica que, apesar de não tão lembrada, quebrou paradigmas em seu tempo. "Hoje é a noite da consagração, apesar de ser 300 anos depois, dessa grande mulher. E [espero] que inspire outras grandes mulheres, que seja uma primeira rosa a brotar dessa roseira que não tem fim. A gente está muito feliz em poder contar a saga de Rosa Maria", declarou.
Trazida, aos 6 anos, da tribo Courana, na África, para o Brasil colonial, Rosa foi obrigada a se prostituir na juventude, mas acabou escapando da vida de meretriz após adoecer. Nessa época, começou a relatar visões místicas e se tornou beata. Foi com base em suas visões e espiritualidade que escreveu Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, no século XVIII, primeiro livro escrito por uma mulher negra no Brasil.
Tida como possuída após alguns episódios de surto, foi considerada bruxa por inquisidores católicos e submetida a exorcismos na igreja. Rosa morreu encarcerada, mas, por conta das visões de Cristo, foi aclamada como santa pelo povo e se tornou uma símbolo de resistência negra e uma das escravizadas mais estudadas no país.
As alegorias da agremiação brincaram com a dualidade de visões a respeito de Rosa, com alguns trechos aludindo às acusações de que ela foi possuída e outras alas lembrando de sua conexão com os símbolos da fé católica. A rainha de bateria, a atriz Erika Januza, manteve essa ambiguidade em sua representação de Rosa, sem deixar faltar o samba no pé.
No meio do vermelho inevitável das cores da escola de Niterói, também surgiram o dourado, além de tons de azul e roxo para representar as águas dos mares que Rosa atravessou da região de Benim até o Brasil, além de servirem como um símbolo do misticismo que cerca a personagem. Outro ponto alto foi o senso de continuidade entre os elementos da alegoria, que ajudou a empolgar os torcedores e foliões nas arquibancadas do sambódromo.
Além de Erika encabeçando a bateria, a escola também contou com a presença da youtuber Lore Improta como musa e destaque à frente de um dos carros. Ao invés do vermelho do traje da rainha de bateria, a fantasia da esposa do cantor Léo Santana apostou nos tons de ouro.
Ficha técnica:
Presidentes de Honra: José Carlos Monassa (in memoriam) e Marcelo Calil Petrus
Presidente: Marcelo Calil Petrus Filho
Carnavalesco: Tarcísio Zanon
Diretores de Carnaval: Alex Fab e Dudu Falcão
Mestre de Bateria: Ciça
Rainha de Bateria: Erika Januza
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Julinho e Rute
Comissão de Frente: Rodrigo Negri e Priscilla Mota
Samba de autoria de Cláudio Mattos, Dan Passos, Marco Moreno, Victor Rangel, Lucas Neves, Deco, Thiago Meiners, El Toro, Luis Anderson e Jefferson Oliveira
Intérprete: Zé Paulo Sierra