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Quase metade dos registros de violência sexual em São Gonçalo são de crianças, segundo dados mais recentes do ISP

Crianças e adolescentes representaram 67% das vítimas de violência sexual no município em 2021

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 20 de março de 2023 - 10:44
Débora Rodrigues é delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo
Débora Rodrigues é delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo -

Segundo os dados mais recentes do Dossiê Mulher, divulgado pelo Instituto de Segurança Publica (ISP-RJ), cerca de 96 crianças foram vítimas de violência sexual no ano de 2021 na cidade de São Gonçalo. Esse número corresponde a 45,3% das denúncias, ou seja, quase metade dos registros na cidade tiveram como vítimas crianças.

Em relação ao total envolvendo menores de idade, soma das crianças e adolescentes, a porcentagem chegou a 67%. Foram 46 registros de violência sexual contra adolescentes, 21,7% do total. Para a delegada da Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo (DEAM), Débora Rodrigues, esse número reflete o trabalho realizado na cidade para acolher as mulheres e crianças vítimas de violência.

Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo (DEAM) fica no Mutuá
Delegacia de Atendimento à Mulher de São Gonçalo (DEAM) fica no Mutuá |  Foto: Layla Mussi
 

"O que eu posso falar é que há investigação. A gente tem muitos números de registros, porque tem investigação e tem rede de apoio. Tem um trabalho sério em cima disso. É assustador a violência contra a criança? É assustador. Mas em São Gonçalo as pessoas registram, porque aqui somos vanguarda e temos a primeira rede de apoio do estado. Temos muitos casos, mas também temos um estímulo maior pra registrar", afirma a delegada.

Em números absolutos, São Gonçalo é a quarta cidade com mais registros de crianças vítimas de violência sexual, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, Duque de Caxias e Nova Iguaçu. E esse número ainda pode crescer através do trabalho conjunto entre autoridades, famílias e educadores, que podem vir a se tornar uma importante ponte para a polícia.

"O que mata não é a denúncia, é o seu silêncio", afirma a delegada
"O que mata não é a denúncia, é o seu silêncio", afirma a delegada |  Foto: Layla Mussi
 

"Quem são os autores? São pessoas que também estão dentro de casa. Precisamos incentivar a denúncia. E a denúncia não vai ser feita sempre na delegacia. Até porque a criança vítima não vai chegar na delegacia para denunciar. O primeiro lugar que ela vai chegar e contar é a escola, pois são pessoas da confiança dela. Por isso, a gente precisa capacitar os educadores, porque eles podem nos ajudar a descobrir uma criança vítima de abuso sexual e trazer esse caso pra gente", expõe.

Segundo o Dossiê Mulher 2022, aproximadamente 74,5% dos casos de violência sexual são cometidos na residência da vítima. Sobre a relação da vítima com o autor, cerca de 20,3% sofrem nas mãos de pais, padrastos ou parentes.

Sobre uma possível subnotificação nos números, a delegada da DEAM de São Gonçalo acredita que exista não só na cidade mas em todos os lugares, devido à proximidade que existe entre abusador e vítima em grande parte dos casos.

"Chegam adultos aqui dizendo que foram abusados quando criança, porém só agora a pessoa se sente encorajada porque já ficou livre do abusador. E é importante ressaltar que não ocorre prescrição, ou seja, se você foi abusada quando era criança, fez dezoito anos e agora quer denunciar, você pode. E o autor pode ser punido, pois o Estado não perdeu o direito de punir o abusador", revela.

Violência contra a mulher

Em 2021, foram registrados 212 casos de violência sexual no município, cerca de 3,38% dos registros no estado do Rio de Janeiro. Este é o segundo menor número dos últimos 7 anos, só perde para 2020, que teve dois casos a menos.

Já os números de violência física e psicológica em São Gonçalo foram os menores desde o ano de 2014. Porém a delegada Débora Rodrigues não vê essa queda como algo positivo, a princípio.

"Eu tenho muito receio em relação a essa queda, porque, infelizmente, é difícil uma mulher vir aqui e falar que é a primeira vez. Geralmente, são anos de violência. Então, quando você fala para mim que o número diminuiu, ou essa mulher teve alguma dificuldade em registrar ou ela teve dificuldade em sair de casa. O ano de 2021 foi pós-pandemia, então acredito que seja um reflexo. Não acho que caiu, porque não vai de encontro ao número de feminicídios, por exemplo", diz.

Débora acredita que ainda tem muito trabalho a ser feito e que o maior empecilho pode ser o medo da mulher em denunciar, por isso ela enxerga o encorajamento e a proteção das mulheres como alguns dos principais objetivos.

"Acreditem que aquela pessoa que você escolheu para ser pai dos seus filhos, que dormiu com você, que você dividiu a cama, dividiu sonhos, infelizmente, pode te matar. Nós como mulheres temos mais chances de morrer dentro de casa do que na rua. Não tenham medo. O que mata não é a denúncia, é o seu silêncio", afirma.

Redes de proteção

Além do 180 (Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência), a cidade de São Gonçalo ainda possui as redes de proteção através do Conselho dos Direitos da Mulher, localizado na Rua Uriscina Vargas, 36, Mutondo; Movimento de Mulheres, na Rua Rodrigues da Fonseca, 201, Zé Garoto; Delegacia de Atendimento a Mulher (DEAM), na Avenida Dezoito do Forte, 578, Mutuá; e através do próprio CEOM, que funciona de segunda a sexta, das 9h às 17h, com atendimento presencial na Rua Camilo Fernandes Moreira, em Neves, ou ainda pelo telefone 96427-0012.

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