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Alunos de colégio e escolinha de futebol onde Vini Jr. estudou em SG fazem homenagem para o atleta

Escola no Mutuá reuniu estudantes para homenagem ao craque, que foi vítima de ataques racistas na Espanha

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 24 de maio de 2023 - 11:20
Com cartazes nas mãos, os alunos aproveitaram os últimos momentos antes de serem liberados para registrarem seu protesto contra a situação
Com cartazes nas mãos, os alunos aproveitaram os últimos momentos antes de serem liberados para registrarem seu protesto contra a situação -

Além da correria típica da rotina escolar de todo dia, a rampa da Escola Municipal Paulo Reglus Neves Freire, no Mutuá, foi palco também, na tarde dessa terça (23/05), de gritos antirracistas e manifestações de apoio ao gonçalense Vinícius Jr. Em conversa com O SÃO GONÇALO, alunos e funcionários da unidade de educação, onde Vini estudou por um ano, e da Escola de Futebol do Flamengo no município comentaram a insatisfação diante dos ataques racistas sofridos pelo craque brasileiro durante uma partida em Valência, na Espanha, no último domingo (21/05).

 

Autor: Layla Mussi
 

Com cartazes nas mãos, os alunos aproveitaram os últimos momentos antes de serem liberados para registrarem seu protesto contra a situação sofrida pelo atleta. “Racismo é crime, abuso e ameaça! Vini. Jr é luz, esperança e muita raça! Basta,, basta, basta!”, entoaram estudantes da Escola, unidade onde Vini cursou o 4° ano do Ensino Fundamental, em 2010. No espaço também funciona, desde o ano passado, um Centro de Tecnologias Educacionais Base do Instituto Vini Jr.

Colégio no Mutuá tem CT Base do Instituto Vini Jr.
Colégio no Mutuá tem CT Base do Instituto Vini Jr. |  Foto: Layla Mussi
 

O atleta tinha cerca de 10 anos quando passou por lá, como contam as professoras. A diretora Alessandra Cordeiro explica que as docentes que deram aula para o jogador lembram de sua predileção pela Educação Física na hora de escolher a matéria preferida, por mais que também tivesse alguma afinidade com a matemática. Na época, ele já treinava futebol todos os dias e, inclusive, deixou o colégio justamente por conta dos treinos, que mudaram de horário e o obrigaram a se mudar para o turno da tarde em outra escola, no Colubandê.

No meio dos 830 alunos que frequentam a Paulo Freire atualmente, muitos compartilham uma trajetória parecida com a que Vini tinha na época em que era de lá. Não são poucos os jovens moradores da região, de realidades carentes e apaixonados por futebol. Muitos já sentiram também na pele, infelizmente, a dor dos ataques racistas no esporte, como é o caso de Gabriel Teixeira, de 14 anos.

Colegas de classe, Gabriel e Davy sonham em chegar tão longe quanto ídolo gonçalense
Colegas de classe, Gabriel e Davy sonham em chegar tão longe quanto ídolo gonçalense |  Foto: Layla Mussi
  

“Teve gente que já me chamou de ‘preto’ enquanto eu jogava”, rememora o menino, aluno do 9º ano. Ele reconhece que a experiência é sempre péssima, por mais que tenha tentado ignorar nas ocasiões em que aconteceu. Seu colega de classe Davy Paulista, de 15 anos, define a experiência “como uma ferida; a gente se machuca, mas ficam as cicatrizes”.

Eles também, em contrapartida, destacam que o fôlego de Vini ao responder às manifestações, assim como em construir sua carreira mesmo que a partir de origens tão desafiadoras, os inspira no esporte, pelo qual são apaixonados. “Ele saiu daqui, não tinha praticamente nada, morava em comunidade assim como a gente, passou pelo colégio onde a gente tá estudando. Isso significa que a gente pode alcançar a mesma coisa que ele alcançou - não sendo ele, mas sendo nós mesmos”, conta Davy, que, inspirado pelo ídolo, sonha em se tornar “o zagueiro que vai derrubar” Vini. “Comigo lá, ele não vai meter um gol no meu time”, brinca o adolescente, fã do craque.

Estudando do E. M. Paulo Freire se entristecem que esporte ainda seja marcado por manifestações de ódio
Estudando do E. M. Paulo Freire se entristecem que esporte ainda seja marcado por manifestações de ódio |  Foto: Layla Mussi
 

Outro estudante que se inspira no titular do Real Madrid é Kaleb Esteves, de 14 anos, aluno do 8° ano. Ele conta que se sente triste em ver acontecimentos como o do último fim de semana deixando uma marca tão negativa em um esporte pelo qual é tão fascinado. “Me deixa bastante preocupado o futebol ainda ser manchado pelo racismo. É bem preocupante, não só por hoje mas por tudo que aconteceu antes com ele e com outros”, compartilha o menino.

Um sentimento similar é compartilhado pelo pessoal da Escola de Futebol do Flamengo, também no Mutuá. Um dos professores que chegou a conhecer Vinícius pouco antes de ele partir de vez para o profissional conta que é uma sensação de enorme lamento ver uma das “crias” de sua base passando por ataques tão agressivos. “A gente fica triste pelo que ele está sofrendo, uma coisa totalmente desnecessária mas que, infelizmente, no mundo todo existe e que acaba prejudicando o ser humano. A gente espera que as autoridades espanholas tomem providência”, desabafa o professor Tiago Ribeiro.

Atleta treinou por anos na Escolinha do Flamengo de SG, no Mutuá
Atleta treinou por anos na Escolinha do Flamengo de SG, no Mutuá |  Foto: Layla Mussi
 

“É desumano, uma covardia o que fizeram com ele. O Vini é um exemplo. Grande parte dos alunos tem ele como referência, se associam a ele. Ver ele passando pelo que ele passou é uma tristeza enorme. O mundo já devia estar mais consciente do que é certo e errado. Esse é um assunto que já não deveria mais existir no mundo”, explica outro profissional da unidade, Victor Mizuno. 

Para não deixar que o acontecimento desmotive os alunos, eles enfatizam a importância de pensar o futebol como uma prática cidadã. “Aqui a gente trabalha para formar indivíduos que vão agregar para sociedade, que respeitam o próximo e suas individualidades”, destaca Victor. Tiago complementa: "A gente toma ele próprio como exemplo para os alunos, até em relação à postura e posicionamento que ele toma diante disso”.

Professores de escolinha aproveitam exemplo de Vini Jr. para motivar alunos
Professores de escolinha aproveitam exemplo de Vini Jr. para motivar alunos |  Foto: Layla Mussi
 

Como no colégio, muitos dos alunos do Flamenguinho também relatam ter encontrado ecos dos ataques sofridos por Vini em sua própria experiência. O jovem Pierre Amaro, de 18 anos, relembra ter ouvido gritos similares aos que Vini escutou em um torneio amador que enfrentou em uma comunidade há pouco tempo. “Como desde novo nossa mãe dizia, quando a gente é preto, a gente tem que ser duas vezes melhor”, desabafa.

"Como desde novo nossa mãe dizia, quando a gente é preto, a gente tem que ser duas vezes melhor”, afirma Pierre
"Como desde novo nossa mãe dizia, quando a gente é preto, a gente tem que ser duas vezes melhor”, afirma Pierre |  Foto: Layla Mussi
  

Pierre não esconde a indignação: “É um momento feio, horroroso esse lá do Vini. Fica feio para a torcida do Valencia e até para o país, que fica com essa imagem de racista. E não é a primeira vez que isso acontece”. Seu colega David Pires, de 17 anos, morador de Itaúna, conta que também ficou abalado ao ver Vini sendo xingado, já que espelha tanto nele.

"Se eu pudesse falar com ele, ia falar para ele manter a força, o foco e a fé", destaca David
"Se eu pudesse falar com ele, ia falar para ele manter a força, o foco e a fé", destaca David |  Foto: Layla Mussi
 

“Eu sigo como um exemplo o que ele passou. eu faço meu melhor para chegar lá em cima como ele está. Ele mostrou que é possível querer ser o que quer. E eu também quero, mudar minha vida, mudar a da minha família”, conta David. Apesar da revolta do momento, ele acredita, no entanto, que Vinícius vai deixar o exemplo mais uma vez e dar a volta por cima. Ele próprio gostaria de dizer o que todos os alunos da unidade gostariam de falar para o craque: “Se eu pudesse falar com ele, ia falar para ele manter a força, o foco e a fé. Para ele não parar de ser o que ele é”, conclui.

Leia também: https://www.osaogoncalo.com.br/esportes/135384/vinicius-jr-recebe-manifestacoes-de-apoio-na-partida-entre-real-madrid-e-rayo-vallecano

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