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Direito à família: Adoções como atos de amor

Adotantes e adotados contam como o processo adotivo permeiam suas vidas

relogio min de leitura | Escrito por Sofia Miranda | 25 de maio de 2023 - 17:53
Neste dia 25 de maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção
Neste dia 25 de maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção -

Fotos de infância, relatos de como foi o parto e as origens da família, talvez sejam informações que pessoas que foram adotadas não saibam ou não se recordem. Passados em que o abandono e a negligência são os principais narradores talvez sejam as únicas realidades que os adotados conheçam, antes de integrarem um lar. Apesar disso, as traduções de amor de quem escolheu e foi escolhido, são genuinamente verdadeiras. No dia 25 de maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção, como um incentivo para as adoções no país, que possuem como estigma, ter um processo bastante burocrático. Esse cenário, por sua vez, contribui para que muitas crianças fiquem desamparadas à espera de uma família. 

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2019, mais de 30 mil crianças são pretendentes à adoção, dessas, apenas 5.154 estão aptas para serem adotadas. Entre os sintomas desse problema, estão a preferência de 90% dos postulantes à adoção por crianças de até sete anos, enquanto 67% das crianças que estão nos abrigos e orfanatos, têm idades entre 7 e 18 anos. 

A espera na fila de adoção pode levar de meses a longos anos, de acordo com a lista de perfilado que cada postulante preenche. Na lista, perguntas desde cor pretendida à quantidade de irmãos desejados são considerados determinantes na posição que cada um ocupa. 

A permanência das crianças maiores nos orfanatos e abrigos se deve em razão de muitos fatores. Um deles parte do receio das famílias de não conseguirem lidar com o passado de violência física, violência sexual, ou de abandono que precedem a vida de parte das crianças. ‘’O que eu percebo é que essas famílias têm muito receio de não entender a história dessas crianças, às vezes a família idealiza o filho perfeito, mas esse filho de 6, 7 anos tem uma história, então eles têm lembranças da família biológica. É preciso saber acolher essa criança porque pode ser que ela tenha uma história de vida muito mais longa que a tua, que tem mais de 20 anos." contou a assistente social do orfanato Lar da Criança Padre Franz Neumair, Patrícia Miranda. 

A saúde das crianças, por sua vez, é uma das questões que pode acometer crianças menores às maiores, conforme conta a psicóloga Jaqueline, que atua no orfanato, situado em Niterói. ‘’A gente teve uma criança aqui que chegou para nós com um ano e só saiu com dez anos. Porque o processo não perpassa somente pela idade, a questão da saúde também conta muito. As famílias prezam muito por essa questão, então se for uma criança de um ano mas com problema de saúde, ela não vai ser adotada tão facilmente.’’

Nos abrigos e orfanatos, quando as crianças e adolescentes percebem que outras crianças estão sendo adotadas, o adoecimento mental reflete também em todas as outras áreas  ‘’As crianças ficam aqui e elas vão percebendo que as outras vão sendo adotadas. Elas são muito espertas, então vão começando a perceber. Eles não falam ‘ah, ninguém vai me adotar’, eles falam assim ‘ah, meu amigo tem visita e eu não tenho.’ porque eles sabem que a visita é um estágio de aproximação. E eles percebem que eles não tem ninguém", conta a psicóloga. 

Em seguida, a observação impacta o rendimento escolar. "A gente já percebeu que na escola, o rendimento cai um pouco, eles não querem participar das atividades. Ficam muito impactados, e por mais que aqui a gente consiga suprir todos os direitos da criança, de educação, lazer e tudo mais, a gente não consegue dar essa convivência na família que toda criança deve ter", comenta a psicóloga. 

Os tipos de adoção 

No cenário brasileiro, nem todas as crianças adotadas passam por abrigos ou orfanatos, aliás, a forma mais recorrente responsável pela maioria das adoções é conhecida por 'adoção à brasileira', que nada mais é que a entrega de um recém-nascido, ou criança, para que outra pessoa possa registrar e criar. Não deixa de ser legal, contudo, é menos burocrática do que os processos que passam por órgãos competentes. 

Além dessa, existe a adoção internacional, em que os adotantes residem fora do país. Também é possível a adoção de maiores, que se trata de jovens maiores de 18 anos. Outra forma de adoção, é aquela em que o casal adotante pode compartilhar a tutela, essa é intitulada de bilateral ou conjunta. Contudo, não é preciso ter um companheiro (a) para adotar. Neste caso, a adoção trata-se da modalidade homoparental. Além dessas, outras possíveis formas são a unilateral, legal e adoção póstuma. 

Adotar é acolher 

Por mais diferentes que sejam as formas de adoção e as circunstâncias em que elas ocorrem, quando se passa a conhecer os verdadeiros significados de família (entre muitas coisas, amor e respeito) e entender que eles vão além do laço sanguíneo, a adoção mostra que o principal valor é comum a todos: o de acolhimento. 

Neste dia 25, adotantes e adotados relataram ao OSG as diferentes narrativas que os processos adotivos vividos lhe permitiram contar.


Daniele Anute e Márcio Ramalheda
 

''Quando eu fiquei sabendo pela primeira vez, me deu uma vontade enorme de chorar. O coração dispara, é um sentimento de conquista. Não tem nem como explicar, nós ficamos oito anos na fila, batalhamos 'pra caramba'. É muita alegria. Adoção no nosso país é muito burocrático, tem muita criança em abrigo precisando de família. Nós tiramos uma sorte grande na vida com a chegada da Valentynna", comemora o casal Daniele Anute e Márcio Ramalheda.

Daniele Anute e Marcio Ramalheda são pais de Valentynna Anute Ramalheda
Daniele Anute e Marcio Ramalheda são pais de Valentynna Anute Ramalheda |  Foto: Arquivo pessoal
 

O casal, que vive em união há 27 anos, aguardou oito anos na fila de espera e, hoje, diz que todo o tempo aguardado valeu a pena com a chegada da pequena.


Felipe Valeriote
 
Felipe é filho de Edna Moura de Carvalho e José Ricardo Valeriote
Felipe é filho de Edna Moura de Carvalho e José Ricardo Valeriote |  Foto: Arquivo pessoal
  

Já no caso de Felipe Valeriote, a sua adoção aconteceu "à brasileira" ainda bebê, com dias de nascido. Hoje, ele ministra aulas de astronomia em Maricá. Em 2019, Felipe representou o Brasil na NASA e ficou entre os melhores do mundo em competições que participou. Hoje, aos 23 anos, o menino prodígio é o orgulho da família.

‘’Adoção significa para mim, principalmente, maturidade. E uma ressignificância de quem eu sou no mundo. As vezes eu me questiono ‘por que eu tô aqui? por que isso aconteceu?' Eu às vezes fico me perguntando, ‘tinha tudo para eu não estar aqui, por que estou?, é muito sobre o sentido da vida. O sentimento de gratidão é gigantesco, eu não consigo expressar o amor que eu sinto pelos meus pais.’’


Andrielly e Luís
  
No momento em que a assistente social nos disse: 'Olha, tem um casal de irmãos...' ponto. Eram nossos filhos. É como se aquele tivesse sido o dia do parto. Nós não tínhamos visto eles antes, mas eu posso te afirmar, que quando fomos notificadas da existência deles e que poderíamos adotá-los, nos tornamos mães naquele dia Luciana Nunes e Suzi Alves Mães de Luís e Andrielly
 
Luciana Nunes e Suzi Alves são mães de Andrielly e Luís
Luciana Nunes e Suzi Alves são mães de Andrielly e Luís |  Foto: Arquivo pessoal
  

Luciana Nunes e Suzi Alves adotaram os irmãos Andrielly e Luís, que tinham 8 e 4 anos, respectivamente, na época. Hoje, os irmãos tem 16 e 12 anos. E a família exala felicidade, respeito e o amor que a realização da adoção permite sentir.


Marcia Jones e Mariz
  
Marcia Jones e Mariz são filhas de Helena e Walter. Atrás, o filho de Marcia, Murilo Jones
Marcia Jones e Mariz são filhas de Helena e Walter. Atrás, o filho de Marcia, Murilo Jones |  Foto: Arquivo pessoal
 

"Eu costumo dizer que foi a salvação da minha vida. Tenho uma gratidão que você não tem noção, tudo de melhor que eu tive foi nessa família. Ali nós fomos sendo educadas, só nos foram passadas coisas boas. Eu falo muito para as pessoas que foi a coisa mais maravilhosa que me aconteceu porque, no ambiente em que eu vivia, eu não sei o que aconteceria na minha vida", reflete Marcia, adotada junto com a irmã.

Marcia Jones foi adotada aos 10 anos junto com a irmã, Mariz, que na época tinha 7 anos. As duas foram adotadas juntas por uma família que notava a ausência da figura materna na vida das duas meninas. Apesar de serem criadas pela avó que tentava fazer o possível para criá-las, e de terem a presença do pai, o mesmo era dependente químico. As crianças viviam em um ambiente negligenciado. Depois da adoção, Márcia afirma ter recebido atenção, carinho e amor redobrados. Hoje, aos 55 anos, Márcia é mãe de Murilo Jones.


Kauã Villela Botelho
  
Kauã Villela é filho de Renata e Francisco
Kauã Villela é filho de Renata e Francisco |  Foto: Arquivo pessoal
  

Kauã Villela Botelho foi adotado aos cinco anos. Na época, o jovem que hoje tem 20 anos, passava algumas necessidades na família biológica. Como era sempre visto brincando na rua por um casal, que era amigo de um conhecido do menino, surgiu o interesse pela criança e perguntaram à família se poderiam adotá-lo. Vendo que seria melhor, a família concedeu a guarda. Hoje, Kauã, que pratica esportes desde o skate até escalada, acumula experiências que talvez pessoas que tenham o dobro de sua idade, não tenham vivido.

‘’Eu era bem humilde e passava necessidades, então eles me ajudaram muito e me deram tudo o que eu precisava, amor, carinho e educação. Eu me adaptei muito rápido e eles foram muito amorosos comigo, sempre dando aquela atenção a mais."

*Estagiária sob supervisão de Thiago Soares

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