Ucranianos relatam a existência de salas de torturas em centros de detenção na Rússia
Promotores acusaram quatro agentes da guarda nacional por crimes de guerra
Na última semana, promotores ucranianos denunciaram quatro agentes da guarda nacional de Vladimir Putin por tratamento cruel de civis e infração das leis de guerra, em centros de detenção sob custódia, na Rússia. Um deles era o comandante do centro de detenção e os outros três, subordinados. A entrevista é do The New York Times.
O senso de impunidade dos agentes que comandavam o centro de detenção russo, em que 200 ucranianos estavam mantidos sob custódia, era explicitado nos atos de tortura: espancamento, choques elétricos, ameaças de afogamento e simulações de execuções. O centro fica localizado na região de Kherson, no sul da Ucrânia. Alguns dos agentes, foram descuidados e não ocultaram as identidades. Três civis morreram sob custódia.
A descoberta foi a primeira a ser feita após o início das investigações por promotores ucranianos em um dos centros ocupados por mais de oito meses por forças russas. Em novembro do ano passado, uma contraofensiva da Ucrânia forçou a saída das tropas.
Os investigadores descobriram centenas de crimes executados durante a ocupação russa, incluindo execuções e mortes sob custódia. Violência sexual, tortura e espancamento foram praticados nas 11 salas de tortura descobertas pelo centro.
Algumas das vítimas ajudaram a identificar os quatro guardas responsáveis pelas agressões de homens e mulheres nas câmaras dispostas nas salas. Os promotores que estavam fazendo a investigação conseguiram que quatro dessas vítimas falassem com jornalistas em Kiev, na semana passada.
De acordo com os investigadores, dois homens e uma mulher morreram no local sem ter direito a tratamento de saúde. Além disso, 17 detidos relataram ter sido vítimas de violência sexual e tortura, alguns contaram que foram submetidos a choques elétricos nas genitais.
O centro de detenção foi identificado a partir de informações do serviço de inteligência ucraniana, interceptações telefônicas e testemunhas. Grande parte das torturas aplicadas foram feitas para forçar confissões, relata o procurador-geral ucraniano Andriy Kostin.
Vítimas falam
Um marinheiro ucraniano relatou algumas das torturas a que foi submetido. Oleksii Sivak, de 38 anos, se tornou ativista depois das ocupações russas, pintando bandeiras ucranianas, símbolos nacionais e pichando muros na cidade de Kherson. Detido em agosto de 2022, o marinheiro sofreu espancamento e choques elétricos, inclusive nos órgãos genitais durante os interrogatórios. Contudo, Sivak conseguiu identificar um dos guardas.
Serhii Ruban, de 42 anos, não resistiu às violências e veio a óbito. De acordo com a mãe do consultor de vendas, Nina Ruban, ele foi visto pela última vez no dia 12 de junho. Seis dias depois a mãe foi notificada pelo quartel-general sobre a morte do único filho. Segundo os promotores que estão investigando o caso, testemunhas presenciaram Ruban sendo fortemente espancado nas celas e no corredor. Os investigadores o encontraram numa vala comum, em fevereiro, e sua mãe só conseguiu reconhecê-lo pela tatuagem que o homem tinha nos dedos. Com várias fraturas na costela, ficou nítido a morte por espancamento.