Aqui tem história: Mercado Municipal de Niterói passado, presente e futuro
Da zona portuária até a inauguração do novo mercado na zona norte da cidade sorriso
O Mercado Municipal de Niterói abre as portas oficialmente no dia 27 de julho. A inauguração, do novo polo comercial, incluirá uma exposição de carros antigos, além da presença da bateria da escola de samba Unidos do Viradouro. Mas a história deste espaço com Niterói não é nova. Em mais um capítulo da série ‘Aqui tem história’, O SÃO GONÇALO conta um pouco desta relação.
No final da década de 20, e início da década de 30, iniciou-se a construção do Mercado Municipal, junto ao projeto de construção dos portos de Niterói, feito por Feliciano Sodré. Localizados na Avenida Feliciano Sodré, o Mercado Municipal trazia a promessa de abastecimento da região junto com a promessa de autonomia econômica firmada pela zona portuária do município, que era a capital do Estado do Rio de Janeiro, na época.
Para fazer jus ao status de capital do Estado do Rio, o mercado foi inaugurado em agosto de 1938 com a figura do então presidente Getúlio Vargas, que marcou presença no evento. O estabelecimento recebia mercadorias do Estado do Rio e abastecia a população de Niterói e cidades adjacentes. Além disso, como um bom e tradicional mercado municipal, as ofertas giravam em torno de legumes, verduras, frutas e pescado.
‘’Niterói pega a condição de capital do Estado do Rio e através do porto as mercadorias chegavam até aqui.’’ explica o Professor Titular em História Econômica-Social do Instituto de História da UFF Cezar Teixeira Honorato. O mercado e o porto funcionavam juntos, na verdade, esse segundo, entrou em operação com a finalidade de ativar o mercado do Estado, recebendo inicialmente gêneros alimentícios, madeira e celulose e exportando açúcar, sardinha e café, esse último, no período entre 1958 e 1962.
Início do declínio
De acordo com o professor, o mercado funcionou bem durante bons anos, mas com a fusão dos modais para o rodoviário e a retirada da condição de capital de Niterói na década de 60, o lugar teve sua utilização enfraquecida.
‘’No final dos anos 60 o porto foi desativado pela fusão dos modais e com isso o mercado também foi ficando obsoleto, junto a isso foi acontecendo o esvaziamento econômico da cidade.’’, esclareceu.
O movimento portuário de Niterói esvaziou-se em quase 50% no período de 1964-1967 com a decadência da economia cafeeira do Norte Fluminense. O setor têxtil, tradicional na economia fluminense, também foi perdendo competitividade. Com o enfraquecimento, o porto virou um enorme fracasso e consequentemente, o mercado também.
Com a expansão do sistema rodoviário, o assoreamento do canal em que ligava os portos e a construção da ponte Presidente Costa e Silva, conhecida como Ponte Rio-Niterói, o processo de degradação do mercado foi acelerado.
‘’Com esse declínio foram surgindo as chamadas ‘Indústrias de pesca’ em torno do mercado. Alguns comerciantes tentaram intervenção mas não foram bem sucedidos.’’, concluiu o professor.
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Em 1976, depois de resistir a uma série de fatores, o mercado foi desativado e permaneceu como um Depósito Público Estadual por cerca de 30 anos. Ao depósito eram destinados, por exemplo, automóveis apreendidos e durante determinado tempo, moradia para pessoas em situação de rua e dependentes químicos.
Incêndio do Gran Circus Norte Americano em Niterói
Uma curiosidade sobre parte da memória da degradação do mercado é que onde ele ficava localizado, na Praça Renascença, também foi instalado o memorável Gran Circus Norte Americano, situado bem próximo, na Praça Expedicionário. Foi nesse circo, o lugar onde ocorreu o tenebroso episódio de incêndio em 17 de dezembro de 1961, que culminou em 503 pessoas mortas, entre elas, a maioria crianças, e mais de 800 pessoas feridas.
enfatiza Cezar Honorato.
O presente: Novo Mercado Municipal Niterói
Caminhando para a criação de novos capítulos, em 2018, a Prefeitura de Niterói deu os primeiros passos para revitalizar o antigo prédio do Mercado Municipal. No mesmo ano, o executivo da cidade municipalizou o prédio e em 2020 iniciou-se o processo de restauração do estabelecimento.
O imóvel faz parte de um conjunto arquitetônico da região portuária de Niterói e está passando por um processo cuidadoso de revitalização, em que todas as características de arquitetura neoclássica serão preservadas. A gestão do espaço será viabilizada por meio da parceria entre a Prefeitura de Niterói e Consórcio Novo Mercado Municipal, que vai realizar a administração durante 25 anos.
O investimento do consórcio é de R$ 69 milhões em três anos, sendo R$ 30 milhões na reforma do prédio. O novo mercado também será responsável por gerar mais de 2 mil empregos diretos e indiretos.
‘’Não ter um mercado faz falta. É um espaço que é tendência no mundo inteiro.’’, explicou o professor, sobre a importância de um mercado municipal.
O novo empreendimento, com os dias contados para a inauguração, agendada para a próxima quinta-feira (27), promete elevar o patamar da cidade, além de ser uma nova opção de lazer.
Com promessas de produtos fresquinhos e selecionados diretamente dos produtores, o Mercado Municipal Niterói vai garantir também restaurantes, biergarten (espaço para juntar aquela galera para o happy hour ou para experimentar cervejas especiais), cafeterias, lugares para lanches rápidos sem discutir alta e baixa gastronomia, além de barbearias e farmácias.
No total, serão 172 lojas, entre elas, foram confirmadas marcas como o Bar do David Brazil, Coca-Cola, cachaçaria Pitú e uma filial do restaurante Panka, de comida peruana, conhecido dos frequentadores da Lapa, no Rio, além de Noi e Masterpiece, as tradicionais cervejarias da cidade. A expectativa é receber diariamente 5 mil pessoas.
Serviço
A inauguração vai acontecer no dia 27 de julho, às 12h. O endereço do novo mercado fica na Avenida Feliciano Sodré, 488 - Centro, Niterói.
Sob supervisão de Marcela Freitas*