Dia dos Avós: Eles estão cada vez mais jovens
Independente da idade, o “amor de vó” é o que torna a relação entre avós e netos tão especial
Quando o assunto são os avós, é comum ouvir histórias de netos que foram criados por eles ou que cresceram com uma relação próxima. Histórias de afeto, amor, gratidão, e, em muitos casos, saudade. Quantas são as pessoas que dariam tudo por mais tempo com seus avós, mais experiências e memórias de uma vida ao lado dessas figuras tão especiais? Apesar de a saudade ser inevitável, para alguns, o tempo compartilhado pode ser maior, como é o caso dos netos de Pâmella, Ruth e Rosane.
Para essas três mulheres, o tempo é a melhor parte de terem se tornado avós antes dos 40. Mesmo que nem sempre seja fácil, o “amor de vó” que descobriram as transformou e hoje falam com orgulho da relação que construíram com seus netos e netas.
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No caso de Pâmella Peçanha e sua irmã, Ruth Peçanha, descobrir que seriam avós aos 29, e 37 anos, respectivamente, foi um choque. Pâmella, que hoje tem 31 anos, é mãe de cinco filhos, e conta que foi muito difícil quando descobriu que sua filha, na época com 13 anos, seria mãe, por não ser o momento de uma adolescente assumir uma responsabilidade tão grande e por saber que, de uma forma ou outra, seria responsável também por sua neta.
Ela, que foi mãe pela primeira vez aos 15, sabia da dificuldade de ser mãe na adolescência, e por isso, acabou tendo uma discussão com a filha ao descobrir da gravidez. “Quando soube que minha filha estava grávida, acabamos discutindo, até porque eu sempre aconselhava ela sobre questões de gravidez e doenças. Só que hoje em dia, os jovens acham que sabem mais do que nós, e por sermos mães/pais, acham que somos chatos”, explicou Pâmella.
Mesmo que a descoberta não tenha sido fácil, após o nascimento da pequena Mirelly, sua neta, tudo mudou. “Hoje é muito gostoso, somos muito unidas. Ouvir ela me chamando, fazendo fofoca, ou ouvir ela dizer que me ama, não tem preço”, disse.
Pâmella mora com suas três filhas e sua neta e sempre arruma um jeito de agradar Mirelly, o que de vez em quando deixa seus filhos mais novos com ciúmes. Mas para ela, a relação entre avó e neta, é diferente, “Mirelly mudou muito minha vida, é como se ela tivesse chegado para completar algo que faltava na minha vida. A paciência que tenho com ela, eu não tinha com meus filhos. Não gosto que briguem com ela, com filhos não tem jeito.”.
Para sua irmã, Ruth, de 42 anos, a primeira neta veio aos 37. Assim como Pâmella, Ruth teve um choque quando descobriu que seu filho de 16 anos havia engravidado uma menina de 15. No entanto, após o desespero inicial, Ruth se redescobriu como avó. “Para mim, ser avó nova foi uma experiência maravilhosa. Tenho uma neta de 5 anos do meu filho, a Emanuelle Sofhia, e uma de 2 anos da minha filha, a Antonella. A melhor parte é que é um amor puro e verdadeiro. Quando eu vejo minhas duas princesas dizendo que me amam, não tem preço.”
Ruth, que hoje é mãe de três filhos, teve a primeira filha aos 18 anos, enquanto ainda estava na escola, e conta que não foi fácil passar por esse momento ainda na adolescência. "Foi difícil, eu estava acabando meus estudos e parei por ficar com vergonha. Mas depois que tive minha filha, voltei a estudar", disse ela, que contou com o apoio do pai e da família.
Ainda que tenham passado por momentos difíceis ao se tornarem mães, ambas receberam o apoio de suas famílias, e hoje, podem dar o mesmo apoio aos filhos. Mas essa não é a realidade de todas. Rosane Barsi, de 53 anos, foi mãe pela primeira vez aos 19 anos, e diferente de Pâmella e Ruth, que foram acolhidas por suas famílias, Rosane foi expulsa de casa, e teve que aprender, sozinha, a se tornar a mãe que é para os seus 4 filhos.
Ao descobrir que se tornaria avó, com 36 anos, sua primeira reação foi sentir desespero, pois na época, ganhava um salário mínimo e dividia uma quitinete com seus quatro filhos. No entanto, logo mudou de pensamento, e hoje, vê que se tornar avó jovem foi um presente que recebeu, por ter tempo e saúde de curtir seus seis netos.
Hoje, Rosane cria dois de seus netos, o Arthur, de 13 anos, e a Antonella, de 5, além de se dividir entre sua profissão, ser mãe, e avó. Não é uma tarefa fácil, mas, para ela, vale a pena, pelo amor que sente pela família.
Apesar de amarem a vida de avós jovens, nem tudo são flores. Algumas situações desconfortáveis fazem parte da rotina dessas mulheres, que nem sempre recebem o respeito que merecem, apenas por serem mães e avós jovens.
Pâmella, de 29 anos, conta que não é mais chamada para festas com tanta frequência, e diz ouvir muitos comentários desagradáveis devido à sua idade: “Muita coisa eu não sei se posso falar que é preconceito, mas quando falo que sou mãe e avó, as pessoas sempre falam “Mentira, sério? Não parece!”, aí tenho que mostrar fotos com eles. E também tem gente que já começa com piadinhas tipo “Não tem televisão na sua casa não?”, “Não tinha coisa pra fazer?”, “Nossa, tão nova e cheia de filhos!”.”, detalhou.
De acordo com Ruth, o preconceito contra os avós jovens é muito grande devido aos julgamentos e às críticas que recebe por seu filho ter sido pai jovem, em que a colocam como culpada.
Já para Rosane, uma situação a marcou, e percebeu, logo que soube que se tornaria avó, que o caminho não seria fácil. “Quando descobri que seria avó, sofri abuso de um colega de trabalho, que disse para eu ficar quieta porque eu teria uma neta para criar. Eu dei na cara dele, e fui demitida”, contou.
Além disso, existe uma situação delicada que atravessa a vida de muitas mulheres que se tornaram avós ainda jovens: é comum que seus netos acabem as chamando de “mãe” em certos momentos, o que pode gerar um desconforto entre as mães e as avós.
“Mirelly até seus 1 ano e meio me chamava de ‘mamãe’. Eu confesso que até gostava. Mas para não confundir, e também para minha filha não ficar com ciúmes, falava ‘não é mamãe, é vovó’”, revelou Pâmella, que hoje já não assume mais tantas responsabilidades nos cuidados da neta para dar autonomia para a filha, mãe da pequena.
Rosane, que é a responsável por criar dois de seus netos, conta que passou por uma situação similar: “Meu neto Arthur nasceu na minha casa e mora comigo desde que nasceu. Ele não me chama de mãe, mas já me disse que queria ter nascido da minha barriga”. Ainda que tenha sido complicado para ela, logo explicou ao seu neto: “Expliquei a ele que ele nasceu de um lugar muito mais especial, que era do meu coração”.
Essas três mulheres, que representam tantas outras avós jovens pelo Brasil e pelo mundo, têm uma coisa em comum: o amor. Todas elas viveram e comprovaram que o famoso “amor de vó” é realmente diferente.
“Eu costumava criticar muito as pessoas quando falam que o amor de vó é diferente, mas hoje vejo que é verdade. Você ama o dobro, é diferente”, contou Pâmella.
Já Ruth, explicou que para ela, o amor é diferente por suas netas serem espelho de seus filhos: “O amor de avó é sim diferente. Você ama, cuida, e sabe que seus netos são espelhos dos seus filhos, que foram gerados por você. Então é um amor imenso.”
Rosane acredita que a diferença existe por se tratar de um amor sem medidas. E finaliza: “Mesmo com todas as dificuldades, ser avó é uma das melhores coisas da vida!”
Independente da idade, o “amor de vó” é transformador para todas as partes, e é o que torna a relação entre netos e avós, tão especial.
*Sob supervisão de Cyntia Fonseca