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Exposição em homenagem a mulheres negras é vandalizada em Niterói

Cartazes na Amaral Peixoto amanheceram rasgados nesta quinta-feira (27/07)

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 27 de julho de 2023 - 19:20
Crime foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro
Crime foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro -

No mesmo dia em que uma pesquisa da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) revelou que 81% dos brasileiros concordam total ou parcialmente que o Brasil é um país racista, as ruas de Niterói amanheceram com um pequeno indicativo dessa realidade. Dezenas de cartazes da exposição “Presença D’Elas: a Potência da Mulher Preta” foram encontrados rasgados nesta quinta-feira (27/07).

As homenagens faziam parte da comemoração pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que aconteceu na última terça (25/07), e estavam expostas em colunas na Avenida Amaral Peixoto, no Centro, uma das principais vias da cidade. Os painéis traziam 23 retratos de mulheres pretas que vivem na cidade, fotografadas por Lilo Oliveira.


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A mostra foi realizada pela Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres (Codim), grupo coordenado por Fernanda Sixel, esposa do secretário executivo Rodrigo Neves (PDT). Procurada, a coordenadora informou que esteve, nesta quarta (27/07), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no Centro, que registrou a ocorrência e investiga o crime. Segundo ela, os cartazes devem ser recolocados ainda neste final de semana.

“A intolerância e o racismo não permitem que celebremos a presença e a beleza da mulher preta. É justamente o que queremos combater com essa exposição. Vão vandalizar? Vamos recolocar novamente as fotos! A exposição já está cumprindo o papel de resistência e de revelar o quanto ainda precisamos avançar. Ela vai permanecer na rua para que cada menina negra se reconheça nessas fotos e reconheça a potência que habita dentro dela”, disse Sixel.

Para as niteroienses homenageadas na exposição a sensação é de "impotência", como define a estudante de administração Danielle Simões Soares, de 39 anos, que foi fotografada para a mostra. 

"Um sentimento de impotência à primeira vista, um cansaço diante de tantas crueldades feitas com nós mulheres negras, caíram lágrimas mais uma vez, mas diante da denúncia dessa crueldade veio a solidariedade de tantos amigos, parentes, conhecidos, não conhecidos... Então estou erguendo a cabeça mais uma vez, porque a luta continua e nossa história, corpos e artes se manterão resistente e presente ocupando todo e qualquer lugar", desabafa a estudante.

Exposição foi inaugurada na última quarta-feira (25/07)
Exposição foi inaugurada na última quarta-feira (25/07) |  Foto: Filipe Aguiar

De acordo com a Prefeitura, o crime não foi capturado por câmeras, já que as imagens das câmeras de segurança municipais instaladas na via captam a pista e não alcançam o trecho onde os cartazes rasgados estavam. O órgão afirmou que está "verificando junto aos estabelecimentos comerciais da região se há imagens que tenham registrado o vandalismo".

Antes da inauguração da exposição, a galeria ao ar livre no quarteirão da Amaral Peixoto apresentava, desde o fim de março, uma mostra com fotos de personagens da escola de samba Unidos do Viradouro. Ao longos dos quase quatro meses em que a exposição esteve nas colunas, nenhum dos cartazes foi alvo de vandalismo.

"A exposição já está cumprindo o papel de resistência e de revelar o quanto ainda precisamos avançar", afirma coordenadora da Codim
"A exposição já está cumprindo o papel de resistência e de revelar o quanto ainda precisamos avançar", afirma coordenadora da Codim |  Foto: Filipe Aguiar

Maioria dos brasileiros considera país racista

Uma pesquisa divulgada pela Ipec também nesta quinta-feira (27/07) revelou que 60% dos brasileiros concorda totalmente com a afirmação de que o Brasil é um país racista. Além disso, outros 21% disseram também concordar, mas de forma parcial, segundo os dados da pesquisa “Percepções sobre o racismo no Brasil”.

O levantamento revela ainda que, dentre as 2 mil pessoas entrevistadas, 88% delas acreditam que a pessoas pretas costumam ser mais criminalizadas do que brancos. Ainda segundo os dados, 44% da população vê questões de raça, etnia e cor da pele como o fator que mais gera desigualdades sociais no país. 

Pesquisa divulgada nesta quinta (27/07) revela que mais da metade do país considera Brasil racista
Pesquisa divulgada nesta quinta (27/07) revela que mais da metade do país considera Brasil racista |  Foto: Filipe Aguiar

Os dados foram encomendados pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta) como forma de traçar um panorama nacional das características do preconceito contra pessoas negras, que correspondem 56% da população, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma das conclusões que a pesquisa chegou é de que o ambiente escolar costuma ser um dos espaços onde o racismo acontece com maior frequência. 64% dos brasileiros entre 16 e 24 anos afirmaram que a escola é onde mais costumam sofrer discriminações do tipo. As mulheres negras, inclusive, são justamente a maioria (63%) entre os brasileiros que reconhecem raça como principal fator motivador para casos de violência escolar.

Prefeitura verifica imagens de câmeras dos estabelecimentos comerciais da região
Prefeitura verifica imagens de câmeras dos estabelecimentos comerciais da região |  Foto: Filipe Aguiar

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