Mãe e bebê mortas em hospital são sepultadas em SG; hospital é acusado de negligência
Médicos teriam medicado adolescente grávida para adiar parto
Dezenas de familiares e colegas da adolescente Amanda Rocha da Silva, de 17 anos, se reuniram, nesta segunda (31/07), no Cemitério Parque da Paz, no Pacheco, em São Gonçalo, para se despedir da jovem e da bebê Eloá, mortas na madrugada do último domingo (30/07). Elas morreram após alguns dias de internação no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), no Fonseca, em Niterói, que é acusado de negligência pela família.
O velório, que aconteceu nesta tarde, foi marcado por bastante comoção pela morte da jovem, que foi encaminhada grávida de 8 meses a unidade de saúde após passar pelo Pronto Socorro do Alcântara com um quadro de dores fortes. Ela chegou ao Heal na quarta-feira (26/07) em princípio de trabalho de parto, mas os médicos preferiram medicá-la para adiar o nascimento da bebê. A família acredita que essa decisão pode ter custado a vida de Amanda e Eloá.
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"Na sexta-feira, eles aplicaram uma injeção e, com essa injeção que eles aplicaram, a minha filha começou a dizer que estava passando mal sufocada", relembra Vaneide Rocha, de 59 anos, mãe de Amanda. Ela conta que pediu para que parassem com a medicação, mas a equipe médica retomou com as injeções pouco depois. "Toda vez que eles vinham e aplicavam aquela injeção na veia da minha filha, aquilo começava a fechar mais a garganta dela", narra.
Ainda de acordo com o relato, o médico responsável disse que só faria o parto por cesariana quando a jovem chegasse a 35 ou 36 semanas de gestação. Com 33, ela já sentia as dores de parto e sinais de dilatação. Na madrugada de domingo (30/07), Amanda sofreu a primeira parada cardíaca. "Na hora [da parada], falaram que iriam colocar ela no oxigênio, mas trouxeram uma máscara maior do que a boca dela. O ar saía todo por cima e minha filha não conseguiu respirar", reconta Vaneide.
A mãe chamou uma enfermeira para ajudar a filha. A mulher, porém, teria atendido a menina de maneira ríspida e exclamado, segundo Vaneide, para Amanda "expirar pela boca e inspirar pelo nariz, porque você sabe respira". Alguns minutos depois, ela e a criança no ventre vieram à óbito.
"Fiquei sabendo hoje, que voltei no hospital, que, simplesmente, aquela medicação que estavam dando estava acelerando o batimento cardíaco da minha filha. Eles estão alegando que minha filha já entrou com o coração ruim. Não foi. Foi a medicação. Foi negligência do hospital. A doutora chefe no dia do plantão, entrou no escritório, olhou o computador e nem para a cara da minha filha olhou", reclama a mãe.
O avô de Amanda, seu Altair da Silva, de 66 anos, explica que a família ainda não teve retorno da equipe médica que cuidou do caso. "Para mim, ela foi assassinada. Foi negligência do hospital. E a médica fugiu, tentamos procurar ela, falaram que ela tinha ido embora e o plantão que entrou disse que não iria assumir o erro do plantão anterior", afirma Altair.
Os caixões de Amanda, que era filha única, e Eloá foram sepultados juntos. Membros da paróquia de que a família faz parte estiveram na cerimônia e entoaram preces enquanto o pai, a mãe e o namorado de Amanda, pai da criança, se despediam. "Eu não quero dinheiro, não quero nada, só quero justiça, para que essa equipe médica não faça com outras mães e outras pessoas entrando lá grávida a mesma coisa", lamentou Vanilda.
A Fundação Saúde, organização que administra o hospital do Estado, disse que lamenta o caso, que presta solidariedade a família e que pretende investigar as acusações. "Devido à prematuridade, a equipe médica adotou o protocolo para tentar manter o bebê na barriga e, assim, estimular a maturidade do feto. [Amanda] vinha sendo monitorada pela equipe médica e a família informada sobre todos os procedimentos adotados. Porém, infelizmente, ela começou a apresentar taquicardia. Foram feitas manobras para reanimação cardio-pulmonar, mas a paciente sofreu uma parada cardiorrespiratória”, disse a organização.
O caso foi registrado na 78ª DP (Fonseca), que investiga o ocorrido.