Crianças com necessidades especiais ficarão sem atendimento após falta de repasse da Unimed
Cerca de 125 crianças niteroienses serão afetadas e terão seus tratamentos multidisciplinares interrompidos
Pais e mães niteroienses de crianças com necessidades especiais têm tido problemas com o plano de saúde Unimed nos últimos meses. De acordo com eles, a clínica Espaço Cel, localizada em Santa Rosa, em Niterói, está há cinco meses sem receber o repasse da Unimed, e sem o pagamento, não pode continuar a realizar os atendimentos de cerca de 125 crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e paralisia cerebral, por exemplo. Na manhã desta segunda-feira (25), famílias se reuniram em frente à sede da Unimed Rio, no Centro do Rio de Janeiro, para protestar pacificamente por seus direitos.
Segundo Paola Fagundes, de 30 anos, mãe de Eloá, de 5, os problemas começaram há alguns meses, quando os pais foram notificados da situação, pela primeira vez, ao completarem três meses de atraso no pagamento da clínica. Na ocasião, com o intuito de ajudar os profissionais que estariam sem receber, os pais se mobilizaram, e ligaram para a Unimed Rio, que informou que todos os pagamentos estavam em dia. Assim, as famílias voltaram a ficar despreocupadas.
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Entretanto, na última terça-feira (19), um susto: pais e mães foram informados que o tratamento de seus filhos na clínica seria interrompido a partir do dia 2 de outubro, pela falta de pagamento da Unimed nos últimos cinco meses. “No dia 19 recebemos um comunicado da clínica Espaço Cel, nos informando que a partir do dia 02/10/2023 iriam suspender todas as terapias, sejam elas por garantia de atendimento ou por liminar do plano de saúde Unimed Rio, por motivo de falta de repasse após inúmeras tratativas de acordo. São 5 meses de atraso desse repasse para a clínica, que tem crianças autistas, com paralisia cerebral, como é o caso da minha filha, e crianças com outros tipos de deficiências.”, disse Paola, que há quase 3 anos vê Eloá se desenvolver com o auxílio das terapias realizadas na clínica.
“Foi um baque muito grande receber a notícia de que os tratamentos seriam suspensos! Nunca imaginaria passar por isso! Vai fazer um mês na segunda, dia 2, que minha filha começou um treinamento neurointensivo chamado Therasuit, que conseguimos por liminar, e ela está tendo ganhos muito grandes. Só de pensar que esses ganhos em pouco tempo podem acabar, eu fico desolada! Estou à espera de um milagre até segunda feira que vem!”, relatou Paola.
Ela disse ainda que ao ligar para a Unimed, a empresa alega não haver atraso, e solicita que ela abra uma nova garantia de atendimento. “Eu ligo pra Unimed e eles dizem que não tem nada em atraso, e pedem para abrir uma outra garantia de atendimento. Só que se há 5 meses eles não pagam a clínica, pra que vou procurar outro local, se eles não estão pagando ninguém? Essa é a minha indignação e de vários pais e mães de várias clínicas de Niterói”, contou. De acordo com as famílias, a falta de repasse às clínicas não é um problema exclusivo da clínica Espaço Cel, e outros lugares do Rio também se encontram sem pagamento.
Para Paola, a sensação é de desespero e impotência, por saber que sem as terapias, sua filha perderia qualidade de vida e a chance de um futuro melhor. “Só quero qualidade de vida pra minha filha, só isso! E as terapias proporcionam isso a ela! Minha filha leva meses para evoluir um pouquinho que seja, mas sem terapia nem sei o que será de nós! Eu choro dia e noite só de pensar que toda a evolução que ela vem ganhando nesses 3 anos de clínica, vão por água abaixo.”, completou a mãe da pequena Eloá, que tem paralisia cerebral.
Assim como ela, outras 124 famílias da clínica Espaço Cel ficarão sem o atendimento necessário para seus filhos, e se encontram em uma luta contra o tempo para que a situação seja resolvida. Por isso, cerca de 50 pais e mães de crianças com necessidades especiais se reuniram em frente à Unimed Rio, no Paço do Ouvidor Shopping Center, no Centro do Rio, na manhã desta segunda-feira (25), para uma manifestação pacífica, com o intuito de obterem respostas do plano de saúde.
De acordo com a professora Rachel Villela, de 49 anos, mãe do pequeno César Villela, de 7 anos, que tem TEA, o protesto começou por volta das 8h, quando as famílias chegaram com cartazes e um banner, com dizeres que pediam que a Unimed pague o que deve às clínicas. Além de familiares que frequentam a clínica Espaço Cel, em Niterói, estavam também parentes de crianças que utilizam os serviços da clínica Equitar, na Lagoa, Rio de Janeiro, que enfrenta o mesmo problema.
Apesar das famílias estarem no local realizando um protesto pacífico, Rachel afirmou que a segurança do edifício fechou as portas, com um grupo de manifestantes dentro, e só abriu após a chegada da polícia, que teve de ser chamada pelas famílias. Assim, apenas por volta das 10h, o grupo conseguiu dar início ao preenchimento dos protocolos de reclamação que denunciam a falta de pagamento das clínicas. Segundo a polícia, a segurança foi reforçada e filas foram formadas para que todos os pais consigam preencher seus protocolos. Já a Unimed, não enviou nenhum representante ao local para ouvir os manifestantes.
Para Rachel, a notícia da interrupção do atendimento ao seu filho também foi um choque, e luta para que o filho, que é não-verbal, possa ter seus direitos garantidos. “Meu filho é não-verbal, tem transtorno intelectual, então ele vem tendo uma crescente muito grande devido às terapias. Mas pensar que ele não vai ter mais a terapia, com os profissionais que ele já conhece, que já estão acostumados com as necessidades dele, que já têm os objetivos que ele precisa trabalhar… É desesperador. Ele precisa também de um acompanhante na escola, por conta da comunicação, porque o nível de suporte dele é 2, e a gente também vai perder isso porque é vinculado ao tratamento da clínica.”, disse.
As famílias que estavam no protesto se encaminharam ao Ministério Público para preencher uma denúncia contra a Unimed Rio, e serão ouvidas durante o processo. Uma denúncia também foi aberta no Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon) em que pais das duas clínicas envolvidas no protesto tentam abrir uma ação conjunta contra a Unimed Rio.
Procurada pelo OSG, a clínica Espaço Cel se solidarizou com as famílias e afirmou ter feito o possível para manter os atendimentos, mas com o atual cenário, se tornou inviável seguir com os tratamentos.
Já a Unimed Rio, informou que não comenta casos que tramitam na justiça.
Leia a nota do Espaço Cel na íntegra:
“Gostaríamos de esclarecer que, diante dos recentes fatos envolvendo a suspensão de atendimentos a usuários da Operadora Unimed Rio, nós, do Espaço CEL, nos solidarizamos às famílias de nossas crianças. Durante meses, decidimos manter os tratamentos por certo tempo para que nossos pacientes não fossem prejudicados.
Compreendemos o atual cenário, desfavorável às operadoras de saúde, e esperamos, sinceramente, que novas perspectivas possam surgir visando o benefício conjunto. Agradecemos a compreensão diante de tão difícil decisão e nos colocamos à disposição para quaisquer esclarecimentos.”