Dia de São Cosme e Damião impulsiona vendas em lojas de doces
Seja por amor ou tradição, a prática da distribuição das sacolinhas de doces segue em pé
Nesta terça-feira (26) é comemorado o Dia de São Cosme e Damião, santos católicos considerados curandeiros. Como de costume, é natural associarmos o dia dos santos à prática de distribuição das famosas sacolinhas de doces, que costumam acontecer um dia depois da celebração religiosa. É nesta festa regada a açúcar que os comércios veem a oportunidade de aumentar suas vendas.
Os Santos
Contrariando o pensamento de muitos, os santos não são celebrados por nada relacionado ao mundo dos doces ou ao mundo infantil. Cosme e Damião eram irmãos gêmeos que nasceram na região da Ásia Menor, onde hoje corresponde a atual cidade de Egeia, na Síria. Na região, por volta do século 3º, os gêmeos atuavam como curandeiros - médicos, de forma voluntária e não aceitavam pagamentos por isso.
Cosme e Damião eram cristãos na época em que o cristianismo não era aceito pelo Império Romano, por isso, os dois sofreram perseguição e foram mortos decapitados a mando do imperador Diocleciano. Atualmente, os santos são padroeiros de cirurgiões, médicos e farmacêuticos.
➢ São Gonçalo abre inscrição para programa habitacional
➢ Últimos dias de inscrições para Casamento Comunitário em São Gonçalo
De onde vem a relação com os doces?
A associação dos doces com os santos vem da época da escravidão no Brasil, em que os escravos africanos e indígenas não tinham permissão de cultuar suas divindades, já que eram submetidos a imposição do catolicismo. Como forma de resistência, eles relacionavam seus orixás a santos católicos, para que não fossem perseguidos. Através dessa prática, os escravos associaram os santos Cosme e Damião a orixás crianças da umbanda e do candomblé: os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã.
A tradição
Apesar do significado por trás da entrega de doces, muitas pessoas fazem a distribuição também como um ato de promessa ou apenas para seguir a tradição. É o caso da vendedora Carmina de Souza, de 56 anos, que trouxe consigo a tradição familiar da região Norte.
‘’Desde novinha minha avó e minha mãe entregavam, e eu fui seguindo a tradição. E também pela promessa que minha mãe fez por mim, por um problema de saúde que tive. Eu vim ontem, mas voltei hoje porque faltaram algumas coisas. Aí eu monto (os doces), faço um bolinho, compro um refrigerante e dou para as crianças. Esse ano eu vou dar cem (sacolas), minha filha tá morando em Belém e lá ela vai continuar fazendo.’’ contou a nortista, que hoje mora em Niterói.
Com caixas de doces nas mãos, Carmina conta que com o passar do tempo algumas crianças vêm recusando alguns dos doces mais tradicionais. ‘’Eu só não compro mais maria mole porque eu já vi por experiência própria que as crianças não gostam, nos outros anos e no ano passado eu entreguei e elas jogaram fora, aí não vale a pena gastar dinheiro né? Ai eu compro as coisinhas que elas gostam mesmo.’’, contou.
Conforme o gerente da loja Cia. Doce, Claudio Rodrigues, de 48 anos, com a chegada da data, as vendas aumentam em até 40%. ‘’Na parte da tarde, fica quase impossível andar aqui dentro. A gente separa uma seção só para colocar os doces mais tradicionais, maria mole, suspiro, amendoim. Ultimamente os doces estão mudando, as pessoas compram muitas balas também.’’, explicou o gerente, que atua no comércio há seis anos e observa como o dia impulsiona as vendas.
É com um carrinho cheio de caixas de doces que Lucia Alice Perrout Figueiredo, de 71 anos, integra o movimento de clientes na fila de caixa e faz a alegria das crianças da Ilha da Conceição, em Niterói. ‘’Tem mais de 10 anos que eu compro só nessa loja. Eu distribuo na Ilha para a criançada toda, dá uns 100 sacos, às vezes uns 150, tem bastante coisa: pipoca, doce de leite, paçoca, amendoim, tudo. A alegria das crianças já basta, eu adoro. Pode vir aqui no ano que vem que você vai me ver!’’, brincou.
A religião católica determinou que a celebração acontecesse no dia 26 de setembro, para que não coincidisse com a data que se celebra o São Vicente de Paula. Apesar disso, a maioria das pessoas celebra Cosme e Damião junto à festa e às práticas de distribuição de doces que acontecem anualmente no dia 27 de setembro.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Soares