Em busca do pote de ouro: Tradição de São Cosme e Damião tem ficado mais escassa
Muitas crianças, pouca distribuição; O tão sonhado saquinho de doces é o mais novo pote de ouro no fim do arco-íris
Nesta quarta-feira (27) de setembro, comemora-se a festa de São Cosme e Damião. A data culturalmente é marcada pela entrega das sacolinhas de doces para as crianças. No entanto, com o passar do tempo, a tradição de distribuir os saquinhos tem ficado cada vez mais escassa e diferente. Hoje, a distribuição acontece nas praças de dentro dos carros.
Pelas ruas da cidade de São Gonçalo, ao invés de crianças nas portas das casas esperando pelos doces, o cenário agora é de pequenos caminhando com suas mochilas grandes nas costas, procurando por qualquer carro que esteja oferecendo as guloseimas. Quando avistam, a caminhada até o pote de ouro avança para uma corrida em que as crianças maiores lideram pela melhor agilidade física, logo, as primeiras sacolinhas de doces são entregues aos primeiros que conseguem chegar.
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Para Thais Ribeiro, de 29 anos, quando participava da tradição ainda pequena, a organização fazia diferença. ‘’Antigamente davam muitos doces nas casas, faziam aquelas festinhas com bolo, refrigerante, hoje em dia quase ninguém mais faz essa tradição de casa. Estão parando os carros e distribuindo.’’, comparou.
Desde às 9h30 da manhã com o filho de dois anos, a gonçalense só conseguiu uma sacolinha de doces. Segundo ela, a escassez na distribuição pode ser explicada pela presença das crianças maiores, já que, com o alvoroço na hora de conquistar a tão sonhada sacolinha, os motoristas se assustam e desistem de parar. Ainda assim, a felicidade dos filhos em conseguir a lembrança é o que a motiva para sair de casa nesta data, todos os anos.
‘’Eu venho para ver o sorriso da criança, né? Porque é muito gratificante ver ele feliz falando ‘mamãe, doce! mamãe, doce!’.’’ Já João, o filho mais velho de Thais, saiu de casa às 7h com os amigos para ir atrás das sacolinhas. ‘’Ele é mais ativo, e ele gosta muito. A mesma coisa que eu estou fazendo com esse (filho mais novo), eu fazia com ele. Aí já ficou no sangue, já é tradição dele correr atrás de doce. Às vezes nem espera e fala ‘mãe, tô indo’.’’, brincou.
Algumas mães continuam acompanhando seus filhos anualmente com o intuito de preservar as experiências que também viveram na infância, é o caso da dona de casa Thamires da Conceição, de 35 anos.
‘’Minha mãe sempre que pode dá doces, minha avó quando era viva sempre dava também. Eu quero passar isso para eles (filhos), não sei se no futuro eles vão querer passar isso adiante. Antigamente, o pessoal dava mais dentro das casas mesmo, aí faziam a ‘filinha’ organizada. Hoje em dia o pessoal tá vindo muito para as praças, aí lota, os grandes entram na frente dos pequenininhos e tudo mais.’’, explicou.
Já os pequenos netos da dona Gilseia Gonçalves, dispararam desde às 8h30 na Praça Leonor Correia, no bairro Trindade, e voltaram para perto da avó com as mochilas cheias de embalagens de doces, orgulhosos de si mesmos. A gonçalense, por sua vez, faz questão de anualmente levar os pequenos para pegar os doces. ‘’Nessa praça aqui toda hora para um carro, a gente para aqui, fica esperando e as crianças vão correndo pegar os doces.’’
Sob supervisão de Marcela Freitas*