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Dia dos Professores: 3 gerações de educadoras contam suas histórias

Eliane, Yonara e Suzane celebram suas trajetórias e contam alegrias e desafios da profissão

relogio min de leitura | Escrito por Clarice Viana | 15 de outubro de 2023 - 22:52
Três gerações de professoras contam suas histórias: Eliane Ivo Barroso, 60 anos, Yonara Costa, 49 e Suzane Morais da Veiga, 34 anos
Três gerações de professoras contam suas histórias: Eliane Ivo Barroso, 60 anos, Yonara Costa, 49 e Suzane Morais da Veiga, 34 anos -

Aos seis anos de idade, Suzane ia para mais um dia de aulas na escola. Ela acordou, tomou banho, sua mãe a ajudou a se vestir, calçou seu tênis, e a levou para estudar. Era um dia de festividade para a criançada da alfabetização, e os pequenos não poderiam estar mais animados para ir à escola. Na festa, alguém pergunta a Suzane: “O que você quer ser quando crescer?”. Na contramão das respostas comuns das crianças, que geralmente respondem “médico” ou “veterinário”, a menina responde: “Ser professora.”. Ela não sabia que ali, naquele momento, estava descrevendo o seu futuro. Suzane Morais da Veiga é professora desde 2008, e iniciou no serviço público como professora de inglês em 2011. 

O Dia do Professor é celebrado no dia 15 de outubro no Brasil. Uma pesquisa divulgada pelo Censo Escolar 2020 aponta que, em média, os professores nas redes estaduais atuam com 273 alunos. Já nas redes municipais, a média é de 229. Cerca de 100 mil professores atuam com mais de 400 alunos.

Suzane Morais em 2011, em sua formatura
Suzane Morais em 2011, em sua formatura |  Foto: Arquivo pessoal

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Os motivos da escolha pela carreira na educação variam. Vão desde a um sonho de criança ou algo atribuído a uma vocação nata até a "descoberta" da paixão por ensinar enquanto já se está exercendo o magistério. Eliane Ivo Barroso, professora do departamento de Cinema e Vídeo da UFF, descobriu o gosto por ser professora quando já era integrante do quadro de educadores de uma universidade. Ela conta que começou a dar aulas por acaso, mas se deu tão bem com a área que escolheu prosseguir na carreira. “Eu trabalhava como freelancer em cinema e audiovisual e, diante da oportunidade de ter mais uma remuneração, aceitei.”

Eliane deu a sua primeira aula na Universidade Estácio de Sá, aos 40 anos. Seu pai sempre a incentivou a seguir no magistério, mas uma grande inspiração foi o irmão, 9 anos mais velho, que era professor de Filosofia. “Entendi que o meu ofício ultrapassava o quadro negro e o giz. Também compreendi que era um lugar de troca e de aprendizado para mim. Era estimulada a estudar, me atualizar e ver a sala de aula através de uma relação mais horizontal”, completou Eliane. 

Eliane Barroso em 2008, em festa de comemoração dos 40 anos do curso de Cinema da UFF.
Eliane Barroso em 2008, em festa de comemoração dos 40 anos do curso de Cinema da UFF. |  Foto: Arquivo pessoal/Fabio Caffé

Já Yonara Costa ensinava desde sua época de escola, para os filhos das vizinhas e familiares. Ela subia o morro em que morava e passava nas casas dos alunos para dar aula, mas não queria se tornar professora, por ter uma visão muito negativa da profissão.

“Eu tinha a imagem de uma pessoa que não tinha boas condições financeiras. No ensino médio, minha mãe sugeriu que eu fizesse pedagogia, e eu achei a ideia absurda.”. Yonara se formou em Letras na FFP-Uerj e é pós-graduada em literatura brasileira pela UFRJ. 

Yonara Costa em 2008
Yonara Costa em 2008 |  Foto: Arquivo pessoal

Entre os desafios já conhecidos de atuar no magistério no país estão a baixa remuneração e a consequente sobrecarga de trabalho. “Nas últimas décadas, vemos consternados as inúmeras ações de governos para retirar direitos adquiridos dos professores, como foi o caso do município de São Gonçalo, com a aprovação de um plano de cargos e salários que retirou benefícios que outros municípios oferecem”, contou Suzane Morais da Veiga, hoje com 34 anos, professora da rede pública do Rio de Janeiro. 

Com a pandemia do Covid-19, a educação também precisou vencer mais desafios. Um método de ensino que já existia, mas não era tão utilizado, acabou protagonista na área, e muitos alunos e professores precisaram se adaptar à tecnologia: o ensino remoto foi implementado como uma medida emergencial em resposta ao lockdown, necessário na prevenção contra a infecção do coronavírus.

“Todo tipo de aula é válido, mas, no Rio de Janeiro, não houve suporte para os alunos neste aprendizado. Muitos professores não tinham familiaridade com a tecnologia.”, relembra Yonara.

As educadoras reiteram que a modalidade não pode substituir o ambiente escolar presencial, por ser essencial na formação de uma pessoa. “Ele [o ensino remoto] jamais poderá substituir o ensino presencial, em especial no ensino básico, pois é o momento que os estudantes mais precisam de trocas com os professores e com os pares, além da socialização”, acrescenta Suzane.

Apesar das dificuldades, o amor pelos alunos e pela prática do magistério são a base fortalecedora das três professoras, que enxergam o seu papel como algo que vai além dos limites das instituições de ensino. Eliane conta que, uma vez conversando com a mãe de uma aluna, disse a ela que se arrependia de algumas coisas que falava na aula, e a mãe da estudante respondeu que o que fica é o afeto, a conduta, e a atenção para o resto da vida.

“Ensinamos muitas coisas, mas, para além da didática e da pedagogia, conta muito a maneira de se relacionar com as pessoas", conclui.

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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