Dia da Umbanda: Religião tem raízes gonçalenses
A pluralidade de influências torna a Umbanda, uma rica tapeçaria espiritual
Nesta quarta-feira (15), é comemorado o Dia da Umbanda, uma manifestação religiosa que envolve elementos africanos, indígenas e europeus. Neste ano, a religião completa 115 anos de existência. O Dia da Umbanda, celebrado anualmente desde a oficialização da data, em 2012, é uma ocasião para reflexão sobre a religião e sua conexão especial com São Gonçalo, cidade onde teve origem.
Surgida no início do século XX, no ano de 1908, o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou pela primeira vez, num jovem de 17 anos, chamado Zélio Fernandino de Morais. Desde então, a crença foi estabelecida e se tornou conhecida por sua abertura a diferentes influências culturais e espirituais. A religião une elementos do candomblé, do espiritismo kardecista, e incorpora práticas indígenas. Estima-se que mais de 4 milhões de brasileiros sejam adeptos à religião.
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Intolerância
Em 2016 a Umbanda foi incluída na lista de patrimônios imateriais do Rio de Janeiro. No entanto, apesar do crescimento e interesse pela religião, um outro movimento contrário não inclina a curva de crescimento: A intolerância.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro indicam que, em 2021, 33 ocorrências de ultraje a culto religioso em todo o estado do Rio de Janeiro foram registradas. Em relação a 2020, representa um aumento de 10 casos.
Naquele ano, as delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil fizeram 1.564 registros de ocorrência de crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa, o que significa mais de quatro casos por dia. No total, estão incluídos os casos de injúria por preconceito (1.365 vítimas); e preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional (166).
Conforme o site Agência Brasil, em entrevista com o pai Fernando D’Oxum, da Tenda Espírita São Lázaro, do bairro Pita, em São Gonçalo, uma das dificuldades da religião é mapear a quantidade de tendas e casas de santo existentes no Brasil. Segundo Fernando D’Oxum, em São Gonçalo concentram-se cerca de 400 casas.
Estima-se que 2% da população do país (pouco mais de 4,2 milhões de pessoas) sejam seguidores religiosos, incluindo muitas celebridades que gostam de exibir a sua fé e ajudam a combater certos preconceitos.
Os famosos também creem
Uma delas é a atriz Juliana Paes, a relação da global com a Umbanda foi estabelecida desde o nascimento. Sua avó era mãe de santo (chefe das casas de Umbanda) e ele se considerava umbandista desde o nascimento. Em alguns momentos de questionamento interior, chegou a procurar outros espíritas, entre eles Kardec (religião espírita que segue os ensinamentos de Allan Kardec).
‘’Acho que as pessoas deveriam viver sua fé ao máximo. Não importa o que seja. Passei por muitos interrogatórios internos. Mas a fé não é questionada. Ou você tem ou não. Quando chegar, você sentirá o Espírito Santo.’’, contou uma vez em sua live.
Outro exemplo, é o ator Henri Castelli, que também tem forte envolvimento com a religião e já manifestou sua fé nas redes sociais sem medo de preconceito. Em 2018, ele ainda compartilhou uma foto sua com sua mãe de santo, Neile Oyá Dand Oxum.
‘’Minha segunda mãe alagoana, que amo muito, porque é esse ser leve e amoroso que ajuda a todos, mais do que a si mesma! Um exemplo de simplicidade e humildade! Só amor e caridade!! Deus nos proteja!”, escreveu a artista no Instagram.
Debora Ozório
A intérprete de Terra e Paixão, é uma frequente habitante do Terreiro Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Apesar de suas outras crenças, ela era mais adequada à Umbanda.
‘’Eu realmente acredito em Deus. Eu tenho muita fé. Fiz catequese e também frequentei uma igreja evangélica. Hoje vou para a casa da Umbanda, um lugar bem simples onde tem gente que não quer fazer o bem, fazer caridade e mandar energia boa’’, contou em entrevista ao jornal EXTRA.
Caio Paduan
O ator de 36 anos também é praticante de Umbanda. Entre os rituais que ele insiste está o uso de roupa branca na sexta-feira (em homenagem a Oxalá, o orixá que representa Jesus Cristo e cujo dia de dedicação é sexta-feira). Supersticioso, o ator acende velas para as entidades que adora e passa o Ano Novo com uma bandeira protetora no bolso e um ramo de arruda atrás da orelha para afastar energias negativas.
A ligação com a relação espiritual é tão forte, que o ator chegou a fazer uma novela sobre esse tema, em “Além do Tempo” (2015), no enredo, o tempo passa e os personagens mais uma vez têm a oportunidade de corrigir os erros cometidos na encarnação passada.
Embora não se considere de uma religião apenas, Zeca elogia todas as religiões africanas. No livro enunciado Zeca Pagodinho, Religiões e Subúrbios: Pesquisa e Introdução, do repórter Carlos Monteiro, o cantor fala sobre seu envolvimento com todas as religiões. ‘’Eu sei o Salmo 91 de cor, não é? Sou evangelista, sou adepto da Umbanda. Eu acho que sou tudo. Se você falar de Deus, eu estou lá’’, diz o sambista.
O músico é filho de Ogum, protegido pelos Ibéjì, entidades umbandistas cultivadas na religião católica de São Jorge e Cosme e Damião. Zeca já contou que cresceu em meio a um grande sincretismo religioso, mas isso não o impediu de fazer uma tatuagem de Cosme e Damião no peito.