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Muito além de jornais: a reinvenção das bancas que hoje vendem de tudo

Veja como jornaleiros e empreendedores se adaptaram para resistir ao tempo e ao advento da internet

relogio min de leitura | Escrito por Clarice Viana e Rafaela Marques | 03 de dezembro de 2023 - 16:18
Revistas, carregadores e até geladeira com água são novos elementos que compõem o acervo das bancas
Revistas, carregadores e até geladeira com água são novos elementos que compõem o acervo das bancas -

Se voltarmos no tempo para 10, 20, 30 ou 50 anos atrás, as bancas de jornais estarão lá, talvez de formas diferentes, mas sempre resistindo às mudanças e ao tempo. Com um mundo completamente tomado pela tecnologia, pelo imediatismo e pela velocidade em obter informações que só as redes sociais fornecem, foi inevitável que a maneira como as bancas funcionam mudasse, mas nem por isso desapareceram.

O que costumavam ser prateleiras recheadas de jornais, revistas e gibis, hoje dão lugar a brinquedos, doces, acessórios para celulares, artigos de limpeza e até mesmo itens de tabacaria. Quem antes tinha os jornais como carro-chefe, hoje busca se afastar do tradicional e do convencional, para conquistar cada vez mais o coração dos clientes. A realidade se tornou essa: quanto maior o diferencial, melhor.

Desde que os jornais impressos e as revistas começaram a perder espaço entre o público, as bancas tiveram que aprender a se reinventar. E foi a partir da criatividade e da mente empreendedora de muitos brasileiros, que as bancas seguem firmes existindo e resistindo.


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Na Banca Nova Esperança, localizada na Rua Coronel Moreira César, no Centro de São Gonçalo, a virada de chave veio no último ano, quando os jornais e revistas saíram de cena, para dar ainda mais espaço aos brinquedos, cigarros e acessórios para eletrônicos. Para Cristiano Ferreira de Souza, de 25 anos, que trabalha há mais de 5 anos como vendedor e balconista da banca, a Nova Esperança sempre foi além do convencional, tendo como seu antigo ponto forte, os itens voltados para o público infantil.

“Antigamente costumava ter mais jornais e revistas. Hoje em dia caiu mais porque não tá vendendo muito, porque tudo a gente vê nas redes sociais também, né? Aí quase não vende mais. Mas com o tempo e a população pedindo, a equipe do trabalho já começou a informar o dono da empresa sobre as vendas, e ele foi e colocou mais produtos diferentes para render mais dinheiro.”, contou o jovem.

Apesar do aumento nos lucros e nas vendas, nem tudo foi simples. Segundo Cristiano, uma parcela específica dos clientes sofreu com a mudança nos produtos, mas de modo geral, a transição trouxe apenas pontos positivos para a Nova Esperança.

Banca Nova Esperança, em São Gonçalo, vende de jornais até copos térmicos
Banca Nova Esperança, em São Gonçalo, vende de jornais até copos térmicos |  Foto: Filipe Aguiar

“Para as pessoas idosas, tirar os jornais das prateleiras foi mais difícil, porque eles quase não sabem mexer em rede social. Agora para os jovens, eles quase não procuram, olham mais na televisão e celular, tem tudo no celular hoje em dia.”, disse o vendedor.

Ainda que muitas bancas tenham escolhido a venda de outros produtos além de jornais, como brinquedos, carregadores e até tabaco, para se destacar no mercado, há também aquelas que tenham seguido o caminho contrário.

Para quem passa na Rua Lopes Trovão, em frente ao Shopping 211, certamente as revistas internacionais, de moda, gastronomia, viagens, negócios, gibis, quadrinhos e mangás, já chamaram a sua atenção. Isso porque na Banca do Lúcio, o diferencial não são seus produtos para casa ou artigos para celular. Mas sim, as diferentes e exclusivas edições de revistas e quadrinhos que atraem públicos de todas as idades.

Banca do Lúcio em Icaraí tem variedade de mangás e revistas
Banca do Lúcio em Icaraí tem variedade de mangás e revistas |  Foto: Filipe Aguiar

Com 32 anos de história, a Banca do Lúcio oferece exemplares da Vogue, revista Piauí e Marie Claire, mas também oferece outros serviços. Por muito tempo, o local se sustentava através apenas da venda de jornais, mas quando esse cenário mudou, a adaptação ao novo tempo foi necessária.

Uma adaptação feita na banca foi a implementação de uma geladeira. O jornaleiro Lúcio Luiz, funcionário da banca, conta que esse novo elemento no local chegou por conta da demanda dos clientes. “O pessoal começou a pedir, outras bancas já tinham implementado também. Deve ter uns oito a nove anos que vendemos, e as pessoas começaram a comprar bastante.”

Uma outra mudança feita no lugar foi a comercialização de mangás. Com o sucesso do universo geek se espalhando pelo mundo, a banca adotou a venda dos quadrinhos para conquistar mais clientes, e funcionou! Atualmente, os mangás são carro-chefe da banca, e produtos relacionados ao cenário geek também vendem bastante, conta Lúcio. “Coisas também que vendem muito bem são as coisas do Pokémon, cartinhas, as caixas, né? Dão um lucro legal pra gente.”

Os produtos infantis são um alicerce fundamental para a banca. Os gibis e livros de colorir, segundo Lúcio, vendem bastante, até mais que as revistas. ‘“Mônica, Cebolinha, sai bastante. Conteúdo mais adulto, como revista de moda, está um pouco mais fraco.”

Mas nem todas as mudanças feitas na banca tiveram uma boa aceitação dos clientes. Produtos de limpeza, como vassoura, pano de prato, foram adicionados à gama da banca, mas, na prática, não houve retorno financeiro.

Lúcio conta que, durante a pandemia, chegou a ter medo de o local fechar. Durante esse período, ele achou que o lugar não iria durar mais muito tempo. Para ele, manter a essência da banca era essencial, e se eles abrissem mão de vender o tradicional, como os jornais, para focar em brinquedos e tabacaria, ele não iria continuar trabalhando ali.

“Eu gosto muito de vender isso aqui [jornais, revistas e mangás]”, finalizou.

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